O Mundo… e Cuba

Ângelo Alves

As elei­ções cu­banas foram uma po­de­rosa prova de vi­ta­li­dade

Ao re­flectir na es­colha do tema para esta cró­nica in­ter­na­ci­onal as op­ções eram múl­ti­plas. Surgiu-nos, por exemplo, o as­sas­si­nato de uma ve­re­a­dora bra­si­leira, o exemplo mais re­cente dos inú­meros crimes, muitos também de as­sas­si­nato po­lí­tico, que os pro­ta­go­nistas do golpe de es­tado no Brasil levam a cabo. Ainda nos lem­bramos quando o PCP foi o único par­tido por­tu­guês e de­nun­ciar de forma inequí­voca o ca­rácter fas­ci­zante deste golpe, en­quanto ou­tros, mesmo ditos de es­querda, se en­tre­ti­nham a em­barcar no dis­curso do­mi­nante do «com­bate à cor­rupção no Brasil». Surgiu-nos de­pois a evo­lução dos acon­te­ci­mentos na Síria, onde as no­tí­cias que não passam nos media do­mi­nantes nos dão conta por um lado dos avanços para a paz e a re­con­ci­li­ação, com uma nova ronda de ne­go­ci­a­ções em As­tana, e por outro, da acção cri­mi­nosa dos EUA que tentam ins­talar uma base mi­litar norte-ame­ri­cana perto do campo pe­tro­lí­fero Al-Omar, ao mesmo tempo que, face aos avanços do exér­cito sírio no ter­reno, eva­cuam com quatro he­li­cóp­teros chefes ter­ro­ristas do DAESH da pro­víncia de Ha­sakeh. Surgiu-nos ainda a pos­si­bi­li­dade de abordar a po­lí­tica de ter­ro­rismo de Es­tado de Is­rael, que mantém pri­si­o­neiros 6500 ci­da­dãos pa­les­ti­ni­anos, dos quais 350 me­nores; ou ainda os vi­o­lentos ata­ques e as­sas­si­natos de co­mu­nistas na Índia, no es­tado Tri­pura, per­pe­trados pela ex­trema di­reita re­li­giosa hindu e ou­tras forças re­ac­ci­o­ná­rias. So­bravam ainda muitas ou­tras hi­pó­teses, desde pro­cessos elei­to­rais vá­rios até aos 15 anos desse ig­nóbil crime sus­ten­tado em men­tiras que foi a 2.ª guerra de agressão ao Iraque.

Mas ao olharmos para os imensos crimes da ofen­siva im­pe­ri­a­lista, surgiu-nos um outro que se move em sen­tido con­trário: as elei­ções em Cuba para a As­sem­bleia Na­ci­onal e para as As­sem­bleias pro­vin­ciais. As elei­ções cu­banas foram uma po­de­rosa prova de vi­ta­li­dade da sua de­mo­cracia par­ti­ci­pa­tiva, de con­fi­ança co­lec­tiva na Re­vo­lução so­ci­a­lista. Sete mi­lhões e 400 mil cu­banos foram votar (85,65% dos re­cen­se­ados), dando con­ti­nui­dade a um pro­cesso am­pla­mente de­mo­crá­tico de es­colha de can­di­datos ini­ciado em Ou­tubro do ano pas­sado em que os can­di­datos são es­co­lhidos a partir da base da so­ci­e­dade e de­sig­nados pelos seus vi­zi­nhos ou in­di­cados por or­ga­ni­za­ções de massas re­pre­sen­ta­tivas dos di­versos sec­tores eco­nó­micos e so­ciais da so­ci­e­dade cu­bana. Os 605 de­pu­tados da nova As­sem­bleia Na­ci­onal do Poder Po­pular foram eleitos na sua es­ma­ga­dora mai­oria com per­cen­ta­gens su­pe­ri­ores a 80% dos votos vá­lidos (94,42% dos vo­tantes). De entre eles sairá o novo Con­selho de Es­tado e o novo pre­si­dente de Cuba que por sua vez teve que per­correr o mesmo pro­cesso de­mo­crá­tico de in­di­cação para can­di­dato e pos­te­rior eleição.

Cuba está numa im­por­tante fase de re­no­vação da di­recção da re­vo­lução e do País, e mais uma vez, e apesar de pro­vo­ca­ções vá­rias, o seu povo dá mos­tras de grande se­re­ni­dade e ma­tu­ri­dade po­lí­tica. Quando o Mundo pa­rece em­pur­rado para o caos im­pe­ri­a­lista, Cuba re­siste e afirma-se como um factor de con­fi­ança num outro Mundo de­mo­crá­tico, pa­cí­fico e justo. E é por isso que as elei­ções em Cuba são es­con­didas, ou de­tur­padas.




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