As intocáveis

Anabela Fino

As notícias sobre a alegada retenção de verbas por parte do Ministério das Finanças para as obras de reparação e manutenção da Ponte 25 de Abril fizeram correr rios de tinta. A questão, trazida a público pela Visão, semeou a suspeita de que o Governo estaria a pôr em causa a segurança pública ao protelar o processo, o que suscitou bastos comentários e críticas e muitos louvores à revista por denunciar o presumível «caso», forçando o Executivo a vir a terreno garantir que não havia atraso nenhum, que estava tudo previsto e a correr os trâmites necessários, que as verbas estão libertadas e que obras vão decorrer em breve.

Méritos e deméritos de cada um à parte, o que é curioso nesta história é o facto de a generalidade das comentadoras almas que tanto se afligem com os cidadãos terem passado como cão por vinha vindimada pelo «pormenor» de quem é que paga a factura. Pelos vistos, não causa espanto, sobressalto, indignação ou sequer brotoeja que os cidadãos paguem as portagens, o Estado arque com os custos das reparações e a Lusoponte arrecade lucros com a renda da PPP, sigla usada para designar as parcerias público-privadas, mas que em abono da verdade querem dizer que Público Paga a Privados.

António Costa, confrontado na AR pelo PCP, lembrou que a bizarra decisão de desonerar a Lusoponte da obrigação de manutenção dos activos decorre de um acordo firmado com o Estado há cerca de 20 anos, e passou adiante. Como se fosse natural, como se fosse uma inevitabilidade, como se nada se pudesse alterar neste escandaloso negócio que lesa o erário público.

Para os que enchem a boca contra as exigências dos trabalhadores, porque não há dinheiro, dizem, porque é preciso equilibrar as finanças, clamam, as PPP são intocáveis. Pudera! Os chatos dos comunas é que não percebem nada de negócios.




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