Carregar uma palete
No concelho de Santa Maria da Feira, na empresa Fernando Couto Cortiças, uma trabalhadora está a ser, desde Maio, obrigada a carregar e descarregar os mesmos sacos de 20 quilos para uma palete, sozinha, debaixo de temperaturas elevadas. Foi esta a forma que o patrão encontrou de castigar uma das operárias da fábrica, após a decisão do Tribunal da Relação do Porto que deu razão à trabalhadora quanto ao despedimento ilegal a que tinha sido sujeita e obrigou a empresa a reintegrá-la nas mesmas funções que desempenhava (alimentadora-recebedora). Tudo isto perante a passividade da ACT e do próprio Governo, que assobiam para o lado perante este acto de pura vingança de classe.
Infelizmente, esta situação está longe de constituir caso único. Por esse país fora, e ao longo dos anos, multiplicam-se os casos em que o patronato, agindo na mais absoluta impunidade, utiliza todo o tipo de métodos repressivos para impor, seja pela violência psicológica seja até pela própria coação física, a sua vontade. As situações de trabalhadores a quem é retirado qualquer tipo de funções, que são isolados no local de trabalho, que são arrumados em salas de «disponíveis», que são impedidos de aceder às casas de banho ou de contactar com os colegas, contam-se entre os muitos expedientes utilizados em pleno século XXI. O «castigo» funciona não só como uma tentativa de vergar a consciência e a dignidade de quem é atingido mas também como uma espécie de exemplo junto dos outros trabalhadores.
Dirão alguns que estamos perante patrões desumanos e sem escrúpulos, o que não deixa de ser verdade. Mas o que a realidade mostra é que este tipo de actuação é inseparável da própria natureza do capitalismo, cuja história é marcada pela sujeição da dignidade humana à insaciável procura do lucro.
A resistência e a coragem revelada por esta trabalhadora, tal como a indignação e a solidariedade que se lhe seguiu, revelam que o caminho da emancipação humana é aquele que tem como objectivo o fim da exploração do homem pelo homem.