Carregar uma palete

Vasco Cardoso

No concelho de Santa Maria da Feira, na empresa Fernando Couto Cortiças, uma trabalhadora está a ser, desde Maio, obrigada a carregar e descarregar os mesmos sacos de 20 quilos para uma palete, sozinha, debaixo de temperaturas elevadas. Foi esta a forma que o patrão encontrou de castigar uma das operárias da fábrica, após a decisão do Tribunal da Relação do Porto que deu razão à trabalhadora quanto ao despedimento ilegal a que tinha sido sujeita e obrigou a empresa a reintegrá-la nas mesmas funções que desempenhava (alimentadora-recebedora). Tudo isto perante a passividade da ACT e do próprio Governo, que assobiam para o lado perante este acto de pura vingança de classe.

Infelizmente, esta situação está longe de constituir caso único. Por esse país fora, e ao longo dos anos, multiplicam-se os casos em que o patronato, agindo na mais absoluta impunidade, utiliza todo o tipo de métodos repressivos para impor, seja pela violência psicológica seja até pela própria coação física, a sua vontade. As situações de trabalhadores a quem é retirado qualquer tipo de funções, que são isolados no local de trabalho, que são arrumados em salas de «disponíveis», que são impedidos de aceder às casas de banho ou de contactar com os colegas, contam-se entre os muitos expedientes utilizados em pleno século XXI. O «castigo» funciona não só como uma tentativa de vergar a consciência e a dignidade de quem é atingido mas também como uma espécie de exemplo junto dos outros trabalhadores.

Dirão alguns que estamos perante patrões desumanos e sem escrúpulos, o que não deixa de ser verdade. Mas o que a realidade mostra é que este tipo de actuação é inseparável da própria natureza do capitalismo, cuja história é marcada pela sujeição da dignidade humana à insaciável procura do lucro.

A resistência e a coragem revelada por esta trabalhadora, tal como a indignação e a solidariedade que se lhe seguiu, revelam que o caminho da emancipação humana é aquele que tem como objectivo o fim da exploração do homem pelo homem.




Mais artigos de: Opinião

Caça às bruxas

Na tentativa de afiançar a transparência de processos decorrentes dos incêndios, a Comissão de Coordenação da Região Centro (CCDRC) disponibiliza na sua página “um formulário para a submissão de denúncias sobre eventuais apoios indevidos na recuperação de habitações permanentes e empresas”. A CCDRC dá “garantia de...

Rentrée atribulada

Abertura do ano lectivo. Saúde. Ferrovia. Táxis. Podiam citar-se outros sectores, mas o essencial é isto: a rentrée do governo minoritário do PS está a ser francamente atribulada. E duas coisas que impressionam particularmente. Uma, a vã tentativa de contornar problemas com propaganda e promessas. Outra, o fazer de conta...

Fascismo e anticomunismo

Por que se tornou o avanço de forças de extrema direita e do próprio fascismo uma questão central da vida internacional? O fascismo é uma criação do capitalismo para intensificar a exploração e salvar o sistema. É a expressão mais terrorista do poder monopolista. O que está a suceder é precisamente aquilo para que o PCP...

Segurança Social pública para todas as gerações

A evolução das receitas da Segurança Social, indissociável do actual quadro político, confirma a justeza da determinação do PCP em defender um vasto conjunto de medidas que visem consolidar fontes de financiamento, repor rendimentos e direitos injustamente atacados no período 2010-2015 e alcançar novos avanços que aprofundem os direitos de segurança social para todos.

Acesso restrito

A demissão do director artístico do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, João Ribas, alegadamente devido às restrições impostas pela administração da Fundação à mostra do trabalho do fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe, com fotos de sexo explícito, abriu uma polémica que não está esclarecida. Segundo a...