Nigerinos defendem soberania nacional

Carlos Lopes Pereira

É uma notícia rara: a realização em África de uma manifestação popular, sobretudo de jovens, contra bases militares estrangeiras, contra a presença de tropas dos Estados Unidos e da França.

Aconteceu recentemente no Níger e o protesto foi relatado pela Jeune Afrique, que divulga informação sobre África, em especial acerca de países que foram colónias francesas e continuam ligados a Paris por laços neocoloniais.

Soube-se, assim, que a 25 de Maio, Dia da África, um milhar de pessoas manifestou-se em Niamey contra a presença no Níger de bases militares francesas e norte-americano.

A revista faz uma descrição dos protestos: «Ao ritmo de músicas locais dedicadas às forças armadas nigerinas, os contestatários manifestaram-se nas ruas aos gritos de “Viva o Níger, Viva o exército nigerino!”, antes de se concentrarem num comício defronte do parlamento. “Abaixo as bases militares estrangeiras!”, “Abaixo o exército francês!”, “Abaixo o exército americano”, “Abaixo os jihadistas e o Boko Haram”, gritavam os manifestantes, essencialmente estudantes – liceais e universitários –, convocados pela União dos Estudantes Nigerinos (USN). Havia cartazes com dizeres como “Não ao ultrage da nossa soberania nacional!” e “O nosso território é independente desde 3 de Agosto de 1960!”».

Um dirigente da USN, Idder Algabid, afirmou que os jovens não vêem benefícios na presença de bases militares estrangeiras no Níger, que provocam cada vez mais ataques jihadistas. O sindicalista exigiu do governo meios adequados para as Forças de Defesa e Segurança do Níger, de modo a que possam «garantir a segurança e a soberania nacional». Na véspera da manifestação, a USN tinha pedido «a retirada pura e simples das bases militares, que estão aqui para obstruir a nossa soberania nacional».

Em meados de Maio, o autodenominado «Estado Islâmico» reivindicou um ataque, na zona ocidental do Níger, em que morreram 28 militares nigerinos, e o assalto, falhado, a uma prisão de alta segurança, próxima da capital, onde estão detidos jihadistas.

O governo do Níger – país onde a França explora a maior parte do urânio que utiliza na sua indústria nuclear –, leal aliado de Paris e Washington, justifica a presença de forças norte-americanas e francesas no território pela necessidade de garantir a segurança nas fronteiras contra infiltrações de grupos jihadistas idos do Mali e da Nigéria. O Níger tem fronteiras também com Burkina Faso, Benin, Chade, Líbia e Argélia.

Há dias, o ministro nigerino da Defesa, Kalla Moutari, visitou a base aérea da operação Barkhane em Niamey. O embaixador francês no Níger, Alexandre Garcia, explicou que está em discussão o reforço da «cooperação militar operacional» franco-nigerina.

No Níger, a França usa uma base no aeroporto de Niamey, a partir da qual os caças e drones franceses operam. No quadro da Barkhane – que actua na zona do Sahel – as forças francesas dispõem ainda de uma base em Madama, no Norte.

O governo nigerino autorizou a construção, já em curso, de uma grande base norte-americana de drones, armados, em Agadez, cujo custo é avaliado em 100 milhões de dólares.

Também a Alemanha construiu uma base logística em Niamey para apoiar as suas tropas estacionadas no Mali vizinho.

É, pois, justificada a luta dos jovens do Níger pela sua soberania nacional…



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