Anatomia de um golpe anunciado

António Santos

A apenas quatro meses das elei­ções pre­si­den­ciais nos EUA, Trump envia pe­ri­gosos si­nais às bases do par­tido re­pu­bli­cano e aos sec­tores do grande ca­pital que o apoiam: manter o poder pode exigir mais do que dó­lares, urnas e votos.

No pas­sado dia 3 de Julho, dis­cur­sando em frente ao Monte Rush­more, no Da­kota do Sul, Trump de­clarou guerra a um po­de­roso ini­migo in­terno: «os mar­xistas, os anar­quistas, os agi­ta­dores, os sa­que­a­dores» que querem «acabar com a Amé­rica».

«Nas nossas es­colas, nos nossos jor­nais, até nas ad­mi­nis­tra­ções das nossas em­presas, o novo fas­cismo de es­querda [sic] exige sub­missão ab­so­luta. Se não fa­lares a língua deles, se não cum­prires os seus ri­tuais, se não re­ci­tares os seus man­tras e se­guires os seus man­da­mentos, vais ser cen­su­rado, ba­nido, posto numa lista negra, per­se­guido e cas­ti­gado. Isso não nos vai acon­tecer a nós», avisou.

O pre­si­dente acusou a es­querda de «soltar ondas de vi­o­lência nas ci­dades», «des­truir o nosso modo de vida» e «apagar a His­tória». Re­fe­rindo-se à des­truição de es­tá­tuas de fi­guras his­tó­ricas ra­cistas, Trump pro­meteu «de­fender os nossos he­róis» e ga­rantiu que mo­nu­mentos como o Monte Rush­more, cons­truído por um membro do KKK num ter­reno rou­bado ao povo Da­kota, «nunca serão van­da­li­zados».

As es­tá­tuas podem ser o in­cêndio do Rei­chstag de Do­nald Trump: já ser­viram para, ile­gal­mente, usar as forças ar­madas para re­primir pro­testos pa­cí­ficos. Desde então, o pre­si­dente tem vindo a re­petir os seus avisos sobre uma po­ten­cial «fraude elei­toral» em No­vembro, ame­açou não re­co­nhecer os re­sul­tados caso perca as elei­ções e chegou mesmo a ad­mitir a pos­si­bi­li­dade de ser pre­si­dente até ao final da sua vida, algo que a Cons­ti­tuição não ad­mite. «Tenho o Ar­tigo II, que diz que posso fazer tudo o que quiser en­quanto Pre­si­dente», sin­te­tizou.

A re­tó­rica de Trump, cada vez mais ex­tre­mada, não se co­a­duna com aquilo que o seu elei­to­rado quer ouvir. Pelo con­trário, todos os es­tudos mos­tram que, a cada se­mana que passa, Trump aliena mais re­pu­bli­canos da sua pla­ta­forma. É como se Trump já ti­vesse de­sis­tido de falar para todos os re­pu­bli­canos e es­ti­vesse já so­mente a gal­va­nizar os seus se­gui­dores mais fun­da­men­ta­listas: ra­cistas, evan­ge­listas, ul­tra­con­ser­va­dores, fas­cistas e neo-con­fe­de­rados de cortes vá­rios.

A es­tra­tégia elei­toral de Trump para a Amé­rica de­vas­tada pela pan­demia da COVID-19 é o golpe de Es­tado. A po­la­ri­zação ar­ti­fi­cial é o con­texto, a falsa ban­deira será o pre­texto.

 



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