As assimetrias regionais e a necessidade da Regionalização

Patrícia Machado (Membro da Comissão Política)

Não sendo novo, tem sido cada vez mais habitual ouvirmos falar nas assimetrias regionais e nos desequilíbrios territoriais que precisam ser corrigidos. Diríamos até que o coro de lamentos sobre o envelhecimento e despovoamento ganham cada vez mais adeptos.

Mas a questão que continua por responder é que políticas e que meios é que estão a ser produzidos a partir desses lamentos. Não basta ter um Ministério se o que de lá sai não cria as condições necessárias para combater as assimetrias e promover a coesão.

Como temos afirmado, é necessário criar as condições para as pessoas ocuparem o território e não o seu contrário. Não basta dizer que há despovoamento e por isso lá vem a justificação para se encerrar serviços públicos, ou para não canalizar investimento. Têm sido as políticas de direita, sucessivamente repetidas, que têm provocado a saída das populações do interior do País, pois não têm condições para lá ficar.

As causas radicam na desindustrialização do País, na falta de apoio à agricultura familiar e de ordenamento do território, no encerramento de serviços como escolas, serviços de saúde, postos da GNR, CTT ou de freguesias, na redução ou fim de carreiras rodoviárias entre localidades e falta de investimento em muitos troços ferroviários.

Apenas como exemplos que se têm de incorporar numa visão integrada, perguntamos: contribuiria ou não para fixar a população do distrito de Bragança se concretizassem o Complexo Agro-Industrial de Cachão ou a valorização das raças autóctones, ou da Guarda e Castelo Branco se eliminassem as portagens nas ex-SCUT, se vissem revitalizada a capacidade produtiva, ou do Alentejo se vissem reforçados os serviços públicos, os transportes rodo e ferroviários ou o aproveitamento do Alqueva para potenciar actividade produtiva que não a do agro-negócio e do turismo de luxo?

Camaradas, os instrumentos e sistemas de planeamento do território, não respondem às necessárias medidas de coesão. Os planos e programas continuam com a receita errada. Insistem em moldar os planos com o pressuposto que o interior do País está condenado. Ora esta perspectiva servirá apenas para a gestão do declínio anunciado dos territórios, em vez de se incrementarem as medidas, com meios associados para o inverter.

Se a intenção fosse aproveitar recursos e as potencialidades existentes nos territórios como o PCP tem defendido, não estaríamos perante uma taxa de execução de 32% dos chamados instrumentos territoriais, ou de apenas 50% (e na Sertã são apenas 30%) dos ditos cadastros simplificados nos sete concelhos do Pinhal Interior atingidos pelos fogos de 2017. Não estaríamos também perante um objectivo colocado pelo Governo para a taxa de execução dos POR em 21 na casa dos 60%. Afinal que obstáculos, estrangulamentos, dificuldades o impedem? Não devíamos começar por os identificar e removê-los?

Combater desequilíbrios
Para o combate aos desequilíbrios territoriais, sociais, demográficos e económicos continua a ser decisivo, estrutural e urgente uma visão estratégica do todo nacional, com a ocupação e desenvolvimento dos territórios. Por isso reafirmamos a necessidade de políticas que vão ao encontro do desenvolvimento produtivo e criação de emprego com direitos, a reindustrialização, uma política agro-florestal, com particular importância para a agricultura familiar o desenvolvimento da economia do mar, não desvalorizando, antes potenciando outras actividades económicas, como o Turismo, na defesa do ambiente, na valorização dos recursos naturais e de capacidade produtiva e extractiva existentes, na defesa e reforço dos serviços públicos, no desenvolvimento cientifico e tecnológico, na promoção das acessibilidades e da mobilidade, na potenciação da localização do investimento: público e privado; no bom uso dos fundos comunitários.

Para este caminho a criação de regiões administrativas, respeitando o princípio da descentralização administrativa do País é um elemento decisivo. O PCP foi o único Partido que na AR, já nesta Legislatura, apresentou uma proposta concreta de calendário para a criação das regiões administrativas e que não foi acompanhada pelo PS, PSD CDS, IL, Chega e PAN.

As condições estão cá!
Ao mesmo tempo que impedem a Regionalização, PS e PSD impõem a transferência de encargos para as autarquias locais, sob pretensa capa de descentralização e criaram a falsa democratização das CCDR (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regionais), traduzindo-se num claro embuste.

O PCP tem propostas pelas quais se tem batido quer no plano das políticas e dos investimentos que o Pais reclama mas também no plano das políticas para o território.

Encontramos nas Teses que aqui discutimos o instrumento mais consequente para que junto com as populações afirmemos que o País não só não está condenado, como tem todas as condições para se desenvolver, com uma política alternativa, patriótica e de esquerda. Tomemos então esse futuro nas nossas mãos.

 



Mais artigos de: Temas

A intervenção do PCP na nova fase da vida política nacional

Os últimos quatro anos confirmam que no XX Congresso caracterizámos com rigor e acerto a nova fase da vida política nacional e as condições da nossa intervenção nesse quadro. Acertámos no XX Congresso quando constatámos a importância de termos lutado para isolar política e socialmente o...

A campanha para as eleições presidenciais

As eleições para Presidente da República são uma importante batalha, em defesa dos valores de Abril e do projecto inscrito na Constituição da República Portuguesa e do próprio regime democrático. Dimensão que estaria completamente arredada do debate, se não fosse a candidatura de João...

O Poder Local Democrático, situação, perigos e a luta para a sua defesa

O Poder Local Democrático, situação, perigos e a luta para a sua defesa Foi o papel que o Poder Local teve logo após a Revolução, com a concretização de profundas transformações sociais, nos territórios e na democratização da vida local que levou a que a Lei o reconhecesse como emanação da...

Sobre os quadros do Partido

Desde o XX Congresso o nosso Partido foi chamado a enfrentar novos e complexos desafios, a dar resposta a complexas e inusitadas exigências. Fomos chamados a responder à violenta ofensiva política e ideológica decorrente da evolução da situação política nacional e internacional, agravada, nos...

O papel da informação e propaganda do Partido

A comunicação, informação e propaganda do Partido constitui um instrumento imprescindível para «efectivar a ligação às massas, mobilizar para a luta, densificar a intervenção, alargar a influência e reforçar a organização», para afirmar as propostas, os ideais e o projecto comunista. É claro...

A Festa do Avante!

A Festa do Avante! é das mais belas iniciativas do nosso Partido. A Festa do Avante!, que todos os anos projectamos e construímos, numa elevada expressão de militância e de trabalho colectivo envolvendo muitos membros e amigos do Partido, da JCP e da Festa, é a Festa de Abril e dos seus...

Política financeira do Partido

A proposta de Resolução Política reafirma como questão central que o financiamento do Partido a partir das suas próprias forças e meios, da sua iniciativa, da militância, do apoio dos trabalhadores, dos democratas e patriotas, é a base da sua independência financeira, elemento indissociável da...

O Avante!, o reforço da organização e o alargamento da influência do PCP

  O reforço da organização e intervenção do Partido e o alargamento da sua influência são questões centrais colocadas a este nosso XXI Congresso. No ponto 4.8.4. das Teses, afirma-se que a imprensa partidária assume um «papel insubstituível na acção do Partido» e que a complexidade do quadro...

Os objectivos da luta dos trabalhadores e a actual luta das ideias

Os últimos anos demonstraram, uma vez mais, o papel determinante da unidade e da luta da classe operária e dos trabalhadores como o elemento mais decisivo para a melhoria das suas condições de vida e de trabalho, mas também para a elevação da sua consciência social e política. Luta...