As assimetrias regionais e a necessidade da Regionalização
Não sendo novo, tem sido cada vez mais habitual ouvirmos falar nas assimetrias regionais e nos desequilíbrios territoriais que precisam ser corrigidos. Diríamos até que o coro de lamentos sobre o envelhecimento e despovoamento ganham cada vez mais adeptos.
Mas a questão que continua por responder é que políticas e que meios é que estão a ser produzidos a partir desses lamentos. Não basta ter um Ministério se o que de lá sai não cria as condições necessárias para combater as assimetrias e promover a coesão.
Como temos afirmado, é necessário criar as condições para as pessoas ocuparem o território e não o seu contrário. Não basta dizer que há despovoamento e por isso lá vem a justificação para se encerrar serviços públicos, ou para não canalizar investimento. Têm sido as políticas de direita, sucessivamente repetidas, que têm provocado a saída das populações do interior do País, pois não têm condições para lá ficar.
As causas radicam na desindustrialização do País, na falta de apoio à agricultura familiar e de ordenamento do território, no encerramento de serviços como escolas, serviços de saúde, postos da GNR, CTT ou de freguesias, na redução ou fim de carreiras rodoviárias entre localidades e falta de investimento em muitos troços ferroviários.
Apenas como exemplos que se têm de incorporar numa visão integrada, perguntamos: contribuiria ou não para fixar a população do distrito de Bragança se concretizassem o Complexo Agro-Industrial de Cachão ou a valorização das raças autóctones, ou da Guarda e Castelo Branco se eliminassem as portagens nas ex-SCUT, se vissem revitalizada a capacidade produtiva, ou do Alentejo se vissem reforçados os serviços públicos, os transportes rodo e ferroviários ou o aproveitamento do Alqueva para potenciar actividade produtiva que não a do agro-negócio e do turismo de luxo?
Camaradas, os instrumentos e sistemas de planeamento do território, não respondem às necessárias medidas de coesão. Os planos e programas continuam com a receita errada. Insistem em moldar os planos com o pressuposto que o interior do País está condenado. Ora esta perspectiva servirá apenas para a gestão do declínio anunciado dos territórios, em vez de se incrementarem as medidas, com meios associados para o inverter.
Se a intenção fosse aproveitar recursos e as potencialidades existentes nos territórios como o PCP tem defendido, não estaríamos perante uma taxa de execução de 32% dos chamados instrumentos territoriais, ou de apenas 50% (e na Sertã são apenas 30%) dos ditos cadastros simplificados nos sete concelhos do Pinhal Interior atingidos pelos fogos de 2017. Não estaríamos também perante um objectivo colocado pelo Governo para a taxa de execução dos POR em 21 na casa dos 60%. Afinal que obstáculos, estrangulamentos, dificuldades o impedem? Não devíamos começar por os identificar e removê-los?
Combater desequilíbrios
Para o combate aos desequilíbrios territoriais, sociais, demográficos e económicos continua a ser decisivo, estrutural e urgente uma visão estratégica do todo nacional, com a ocupação e desenvolvimento dos territórios. Por isso reafirmamos a necessidade de políticas que vão ao encontro do desenvolvimento produtivo e criação de emprego com direitos, a reindustrialização, uma política agro-florestal, com particular importância para a agricultura familiar o desenvolvimento da economia do mar, não desvalorizando, antes potenciando outras actividades económicas, como o Turismo, na defesa do ambiente, na valorização dos recursos naturais e de capacidade produtiva e extractiva existentes, na defesa e reforço dos serviços públicos, no desenvolvimento cientifico e tecnológico, na promoção das acessibilidades e da mobilidade, na potenciação da localização do investimento: público e privado; no bom uso dos fundos comunitários.
Para este caminho a criação de regiões administrativas, respeitando o princípio da descentralização administrativa do País é um elemento decisivo. O PCP foi o único Partido que na AR, já nesta Legislatura, apresentou uma proposta concreta de calendário para a criação das regiões administrativas e que não foi acompanhada pelo PS, PSD CDS, IL, Chega e PAN.
As condições estão cá!
Ao mesmo tempo que impedem a Regionalização, PS e PSD impõem a transferência de encargos para as autarquias locais, sob pretensa capa de descentralização e criaram a falsa democratização das CCDR (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regionais), traduzindo-se num claro embuste.
O PCP tem propostas pelas quais se tem batido quer no plano das políticas e dos investimentos que o Pais reclama mas também no plano das políticas para o território.
Encontramos nas Teses que aqui discutimos o instrumento mais consequente para que junto com as populações afirmemos que o País não só não está condenado, como tem todas as condições para se desenvolver, com uma política alternativa, patriótica e de esquerda. Tomemos então esse futuro nas nossas mãos.