Desastrosa gestão privada das águas e saneamento combate-se com a reversão para a esfera pública

A pri­va­ti­zação do abas­te­ci­mento de águas e sa­ne­a­mento voltou a ser de­fen­dida com grande fervor pelo PS e pelos res­tantes par­tidos à sua di­reita. A mo­tivar esta po­sição es­teve um pro­jecto de lei do PCP que ia pre­ci­sa­mente em sen­tido con­trário.

Em todo o mundo há um mo­vi­mento de re­mu­ni­ci­pa­li­zação da gestão da água

O di­ploma co­mu­nista pre­tendia es­ta­be­lecer um re­gime de re­cu­pe­ração da gestão pú­blica dos sis­temas de abas­te­ci­mento de águas e sa­ne­a­mento. Nele se ve­dava no­me­a­da­mente a pos­si­bi­li­dade de quais­quer novos con­tratos ou a re­no­vação de con­ces­sões. Ga­ran­tida seria dessa forma a gestão pú­blica da água, afirmou o de­pu­tado Du­arte Alves, es­cla­re­cendo que a pro­posta da sua ban­cada não punha em causa os ac­tuais con­tratos de con­cessão, uma vez que es­ta­be­lecia um re­gime tran­si­tório até final da vi­gência dos mesmos.

O di­ploma co­mu­nista previa, ainda, a exemplo do su­ce­dido em Se­túbal – onde em De­zembro úl­timo ocorreu a re­versão da gestão desse ser­viço para a es­fera pú­blica –, a «in­te­gração de todos os tra­ba­lha­dores, man­tendo todos os di­reitos de con­tra­tação co­lec­tiva mais fa­vo­rá­veis, até nova ne­go­ci­ação».

E a pro­pó­sito do exemplo do mu­ni­cípio de Se­túbal, di­ri­gido pela CDU, Du­arte Alves não deixou de lem­brar que graças a esse re­gresso à gestão pú­blica os se­tu­ba­lenses pa­garão uma ta­rifa entre 18 e 21% abaixo do preço que era pra­ti­cado, quando o que os pri­vados pre­ten­diam para o ano em curso era au­mentar essa ta­rifa em 10 por cento.

Du­arte Alves chamou igual­mente a atenção para o facto de a pri­va­ti­zação re­dundar em rui­nosos re­sul­tados para as au­tar­quias, além de ser um pro­cesso aten­ta­tório do di­reito uni­versal à água e ao sa­ne­a­mento. Tem «re­pre­sen­tado a de­gra­dação da qua­li­dade do ser­viço e o agra­va­mento das as­si­me­trias no acesso aos ser­viços, através do au­mento dos preços para sa­tis­fação dos lu­cros das em­presas con­ces­si­o­ná­rias», ex­pli­citou.

 

Re­verter pri­va­ti­zação

In­di­fe­rente a esta re­a­li­dade, a ban­cada do PS, pela voz de An­tónio Mon­tei­rinho, apoiou-se na le­gis­lação exis­tente para dizer que nela estão ins­critas as «ac­ti­vi­dades eco­nó­micas às quais a ini­ci­a­tiva pri­vada pode aceder através da con­cessão» e alegou, para re­jeitar a pro­posta co­mu­nista, a «de­fesa da au­to­nomia do poder local», di­zendo «não poder acom­pa­nhar a proi­bição de con­ces­sões a pri­vados».

Du­arte Alves con­si­derou cu­rioso que o PS ti­vesse in­vo­cado a au­to­nomia do poder local, quando, para obter os in­ves­ti­mentos para me­lhoria das redes e evitar perdas, foi o Go­verno que, entre os cri­té­rios por si es­ta­be­le­cidos, impôs a obri­ga­to­ri­e­dade de os mu­ni­cí­pios terem de con­correr em con­junto para a ob­tenção desses apoios. «Aí não há vi­o­lação da au­to­nomia?», in­quiriu o de­pu­tado do PCP.

Ao de­pu­tado do PSD Bruno Coimbra, que dis­sera que as pro­postas co­mu­nistas têm uma «visão ana­cró­nica», Du­arte Alves de­volveu o epí­teto, ex­pli­cando porque o fazia: «por todo o mundo as­siste-se a cen­tenas de re­ver­sões, essa é a ten­dência, e o exemplo pa­ra­dig­má­tico é a re­versão para a gestão pú­blica do abas­te­ci­mento de água da ci­dade de Paris». An­te­ri­or­mente con­ces­si­o­nada às duas mai­ores mul­ti­na­ci­o­nais do sector, a de­cisão de re­mu­ni­ci­pa­lizar a gestão na ca­pital foi acom­pa­nhada por de­zenas de ou­tras ci­dades fran­cesas, as mais re­centes das quais foram Lyon e Bor­déus, a 1 de Ja­neiro de 2023.

 



Mais artigos de: Assembleia da República

Corrigir injustiça na carreira dos professores

O PS voltou a impedir que se fizesse justiça aos professores que, em resultado de uma Portaria publicada em 2018 para corrigir as consequências do congelamento da carreira imposto por um Governo PSD/CDS (que atingiu os professores que ingressaram entre os anos de 2011 e 2017), continuam a não ver contado todo o tempo de...

Limitar comissões bancárias

Foi rejeitado no Parlamento, no dia 20, pelos votos contra de PS, PSD e IL, abstenção do Chega e votos favoráveis das restantes bancadas, o projecto de lei do PCP que visava, nomeadamente, acabar com as comissões de manutenção de conta bancária. São 60 a 80 euros, e mais, que anualmente todos os clientes pagam «para...

Jornadas Parlamentares do PCP em Beja

O distrito de Beja acolhe nos próximos dias 30 e 31 as Jornadas Parlamentares do PCP. A decorrer sob o lema «Produção Nacional, Emprego e Direitos, o programa será preenchido por um vasto conjunto de contactos, visitas e reuniões, nomeadamente com trabalhadores, organizações sindicais e outras estruturas e entidades...