PCP dá mais força à luta dos trabalhadores do complexo Grunding

O Se­cre­tário-geral do PCP con­tactou, quinta-feira, com os tra­ba­lha­dores do com­plexo Grun­ding, em Braga, que lutam por au­mentos sa­la­riais, contra a dis­cri­mi­nação nos di­reitos e pelo com­bate à pre­ca­ri­e­dade e ao re­curso a em­presas de tra­balho tem­po­rário.

«Aqui há con­tratos pre­cá­rios para todos os gostos»

«Bem-vindo ao com­plexo da pre­ca­ri­e­dade e dos baixos sa­lá­rios», lê-se num cartaz à porta das em­presas Bosh, APTIV e Fehst, li­gadas ao sector da pro­dução de com­po­nentes au­to­mó­veis.

No com­plexo Grun­ding tra­ba­lham cerca de 4500 tra­ba­lha­dores. An­tesda mu­dança do turno da tarde, muitos já aguar­davam, an­si­osos, a che­gada de Paulo Rai­mundo, no âm­bito da acção na­ci­onal «Mais força aos tra­ba­lha­dores». Entre eles, Lueli Hage, uma jovem tra­ba­lha­dora da APTIV, com con­trato de tra­balho tem­po­rário, des­pe­dida por ter par­ti­ci­pado nos ple­ná­rios que deram origem aos quatro dias de greve (às quintas-feiras) em Fe­ve­reiro deste ano e na pa­ragem de pro­dução, entre os dias 9 e 13 de Março.

«Eles (ad­mi­nis­tração) ar­gu­men­taram que houve uma baixa de pro­dução», mas a razão é que «foi des­pe­dida por par­ti­cipar nos ple­ná­rios», es­cla­re­ceram duas di­ri­gentes do Sin­di­cato dos Tra­ba­lha­dores das In­dús­trias Trans­for­ma­doras, Energia e Ac­ti­vi­dades do Am­bi­ente do Norte (SITE Norte/​CGTP-IN), con­si­de­rando ina­cei­tável a chan­tagem exer­cida sobre os tra­ba­lha­dores com vín­culos pre­cá­rios que, ainda que per­ce­bendo a fra­gi­li­dade da sua con­dição, têm ade­rido ao seu di­reito cons­ti­tu­ci­onal de fazer greve. Se­gundo as mesmas, as prá­ticas co­er­civas de­mons­tradas pela APTIV não são re­centes e provam que, mais do que pro­curar so­lu­ções para os pro­blemas sen­tidos, a em­presa opta por in­flamar ainda mais o con­flito so­cial. «Vamos re­correr para tri­bunal por dis­cri­mi­nação», as­se­gu­raram, in­for­mando que os tra­ba­lha­dores estão so­li­dá­rios com a Lueli Hage e, muitos, já ma­ni­fes­taram in­te­resse em ser tes­te­mu­nhas no pro­cesso.

Nesta mul­ti­na­ci­onal norte-ame­ri­cana, com um nível de fac­tu­ração de mi­lhões de euros, os tra­ba­lha­dores não aceitam a pro­posta da ad­mi­nis­tração de aplicar au­mentos sa­la­riais de 5,4 por cento, exi­gindo um mí­nimo de 100 euros, bem como uma quinta diu­tur­ni­dade e a sua apli­cação a todos os tra­ba­lha­dores, entre ou­tras me­didas.

Des­va­lo­ri­zação dos sa­lá­rios
Na Bosch os pro­blemas são igual­mente graves. Ao Avante!, Fer­nando Rocha cri­ticou a des­va­lo­ri­zação dos sa­lá­rios. «Esta em­presa tem atin­gido re­cordes de pro­dução nos úl­timos anos», mas «con­tinua tudo na mesma» no que diz res­peito à dis­tri­buição dos lu­cros, a maior parte «para os ad­mi­nis­tra­dores e abaixo deles», ilus­trou, fri­sando que os tra­ba­lha­dores mais an­tigos, «com au­mentos de zero por cento ou pouco mais», são os que mais sentem o«de­crés­cimo» nos seus sa­lá­rios.

Alertou também para a dis­cri­mi­nação de di­reitos nos mais novos, re­sul­tante da ca­du­ci­dade do con­trato co­lec­tivo de tra­balho ver­tical (CCTV), que pode im­plicar perdas no pa­ga­mento do ho­rário noc­turno e nas diu­tur­ni­dades.A di­fe­rença no sa­lário pode chegar aos 250 euros.

Deu ainda conta de al­guns avanços – fruto da luta de­sen­vol­vida nos úl­timos tempos – no que diz res­peito à pas­sagem de tra­ba­lha­dores a efec­tivos, uma «gota de água» numa em­presa que se faz valer da pre­ca­ri­e­dade.

Também os sa­lá­rios dos ope­rá­rios da Fehst são mi­se­rá­veis face ao mer­cado em que está in­se­rida, ron­dando o sa­lário mí­nimo na­ci­onal. Esta é de longe a em­presa do com­plexo que pior paga. Es­ti­veram em greve no pas­sado dia 9 de Fe­ve­reiro, pa­ra­li­sando cerca de 95 por cento da pro­dução ma­nual.

Re­a­li­dades dis­tintas
In­ter­ro­gado pela co­mu­ni­cação so­cial, Paulo Rai­mundo diz ter ali en­con­trado duas re­a­li­dades dis­tintas: «uma von­tade muito grande dos tra­ba­lha­dores pro­du­zirem e pôr a eco­nomia a fun­ci­onar» e, si­mul­ta­ne­a­mente, «um grande des­res­peito» das en­ti­dades pa­tro­nais por cada uma da­quelas pes­soas, que «não são nú­meros, têm vidas e contas para pagar» e «todos os dias são alvo de uma pressão enorme com o au­mento do custo de vida». «A ideia de que o País se pode de­sen­volver com baixos sa­lá­rios é com­ple­ta­mente er­rada», acres­centou.

Além do au­mento dos sa­lá­rios, num fo­lheto dis­tri­buído àqueles que pro­duzem «toda a ri­queza», sendo «pre­ciso dis­tribuí-la com toda a jus­tiça», o PCP re­fere que é pre­ciso re­duzir o ho­rário de tra­balho para as 35 horas para todos, sem perdas de re­mu­ne­ração; ga­rantir que cada posto de tra­balho per­ma­nente cor­res­ponde um con­trato de tra­balho efec­tivo; ga­rantir di­reitos e con­di­ções de tra­balho; re­vogar as normas gra­vosas da le­gis­lação la­boral, no­me­a­da­mente a ca­du­ci­dade da con­tra­tação co­lec­tiva e repor o prin­cípio do tra­ta­mento mais fa­vo­rável aos tra­ba­lha­dores; re­forçar os di­reitos dos tra­ba­lha­dores em caso de do­ença ou de­sem­prego; de­fender a Se­gu­rança So­cial pú­blica e uni­versal; impor preços má­ximos aos bens e ser­viços es­sen­ciais, de­sig­na­da­mente ali­men­tação, ha­bi­tação e com­bus­tí­veis, com­ba­tendo a es­pe­cu­lação; elevar os di­reitos de ma­ter­ni­dade/​pa­ter­ni­dade.

 

In­vestir na pro­dução na­ci­onal

Na 55.ª Agro – Feira In­ter­na­ci­onal de Agri­cul­tura, Pe­cuária e Ali­men­tação, em Braga, o Se­cre­tário-geral do PCP lem­brou a si­tu­ação di­fícil que os agri­cul­tores en­frentam, desde logo com o au­mento dos preços dos fac­tores de pro­dução, que, nal­guns casos, atin­giram os 50, 70 e até 100 por cento.

Sobre a re­dução do IVA nos pro­dutos ali­men­tares, Paulo Rai­mundo as­si­nalou que não são os pro­du­tores os res­pon­sá­veis pelo au­mento dos preços. Re­forçou, assim, a ne­ces­si­dade de ga­rantir apoios a quem produz, dando pri­o­ri­dade aos pe­quenos e mé­dios agri­cul­tores (e não ao agro-ne­gócio como tem acon­te­cido). Con­trolo dos preços dos fac­tores de pro­dução, ga­rantia de es­co­a­mento das pro­du­ções a preço justo e de­fesa de um Mi­nis­tério da Agri­cul­tura forte, com ser­viços de ex­tensão rural, o que im­plica não avançar com a pas­sagem das di­rec­ções re­gi­o­nais de agri­cul­tura e pescas para as co­mis­sões de co­or­de­nação e de­sen­vol­vi­mento re­gi­onal, foram ou­tras das pro­postas avan­çadas.

 



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