Outra política que garanta o futuro

Manuel Rodrigues

Titulava o Público de sábado passado que «um sexto dos bebés nascidos em 2022 são filhos de mães estrangeiras». E acrescentava que «o impacto crescente do peso das mulheres estrangeiras que têm filhos em Portugal tem ajudado a contrabalançar a quebra da natalidade das portuguesas». Refere ainda que «o impacto dos nascimentos de filhos na natalidade em Portugal nunca tinha sido tão expressivo».

A situação é tão chocante que a professora da Universidade Nova de Lisboa, Maria Helena Valente Rosa, contas feitas, constatava que «o aumento de natalidade em Portugal no ano passado – mais cerca de 4 mil crianças do que em 2021 – ficou a dever-se, em “78%”, a mães estrangeiras».

Simultaneamente, constata-se que Portugal é o terceiro país mais envelhecido da Europa e um daqueles (o oitavo entre os 27 da UE) em que os jovens mais tarde saem de casa dos pais para construir a sua vida autónoma.

É um quadro demográfico, sem dúvida, preocupante. Quadro complexo que é resultante duma situação económica e social marcada por décadas de política de direita, responsável pelas dificuldades crescentes sentidas pelos jovens devido aos entraves no acesso ao emprego com direitos e no acesso à habitação, devido aos baixos salários, à precariedade, ao peso das despesas com a educação e a saúde. Razões profundas desta queda demográfica, agora, em parte, «compensada» pela imigração.

É uma situação sociológica nova em que se impõe acolher bem os trabalhadores estrangeiros, lutar pelos direitos dos que chegam e lutar de igual modo pelos direitos dos nacionais.

E lutar, sobretudo, contra a razão de fundo que sonega ou limita, a uns e a outros, esses direitos – a política de direita –, que é a responsável pelos desequilíbrios demográficos, pela quebra de natalidade, pelo envelhecimento geral da população, pelas desigualdades e injustiças sociais.

Uma luta por uma política alternativa que a todos garanta os direitos, que responda aos problemas e aspirações dos trabalhadores e do povo – independentemente da sua nacionalidade –, que ponha fim à exploração.

Só por esta via é possível corrigir este défice demográfico e garantir que Portugal terá um futuro de progresso social. Uma luta que, afinal, é de todos.




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