Um mundo em mudança

Pedro Guerreiro (Membro do Secretariado do Comité Central do PCP)

A luta dos trabalhadores e dos povos tem imposto reveses e recuos aos intentos do imperialismo

Quanto mais se decifra, se supera e se liberta do manto de desinformação, de manipulação, de mentira, de manobra de diversão, de autêntica dependência aditiva – quantas vezes cada vez mais alienante e embrutecedora –, tecido e vulgarizado pelos centros de elaboração e difusão ideológica e veiculado pelos grandes meios de comunicação, melhor e mais consciente conhecimento se tem da vida, do País, do mundo.

A bestialidade e desumanidade que constitui o capitalismo, degradante, reaccionário, violento, criminoso, passam a exibir-se na sua plenitude. E torna-se evidente que a exploração, a injustiça, a desigualdade, o abandono de cada um às suas contrariedades, a fome, o não acesso aos serviços de saúde, a pobreza, a não satisfação das necessidades mais básicas, a negação dos mais fundamentais direitos, se tornam realidades para que uma minoria acumule, saqueie e aproprie cada vez mais a riqueza criada e os recursos existentes.

E perante a justa resistência e luta dos povos, dos explorados, dos oprimidos, dos excluídos, dos discriminados, dos que exerçam a sua soberania, criem as condições para o seu desenvolvimento e independência, e decidam de forma autónoma da sua política de cooperação, o imperialismo utiliza toda uma panóplia de instrumentos, desde instâncias políticas, económicas, financeiras e comerciais de âmbito internacional, à crescente militarização das relações internacionais e escalada armamentista, ao reforço e criação de blocos político-militares, aos já referidos centros de elaboração e difusão ideológica e grandes meios de comunicação.

São inúmeros os exemplos, declarados ou encobertos, de ingerência e agressão, de pressão, chantagem, provocação ou ameaça de todo o tipo, de tentativa de isolamento e cerco através de sanções e bloqueios económicos, de operações de desestabilização, de promoção de golpes de Estado, de provocação e instigação da guerra, seja de forma directa, através da instrumentalização de países terceiros ou com o recurso a grupos cuja razão de ser é a sua acção terrorista.

É tão chocante, quanto clarificador, constatar, como depois de fomentar e impor relações neocoloniais a países terceiros – assegurando o controlo e a usurpação dos seus recursos, promovendo o seu sub-desenvolvimento, animando a sua importação de bens de primeira necessidade e aumentando o seu endividamento, garantindo a dependência económica e a vulnerabilidade política destes países –, o imperialismo não hesite em utilizar a ameaça da exclusão do sistema financeiro, a chantagem da dívida ou o corte da denominada ajuda ao desenvolvimento e humanitária para procurar impedir um qualquer intento de afirmação de soberania, de defesa dos legítimos direitos, interesses e aspirações de um povo.

Esta é, afinal, a de­no­mi­nada e velha ordem ba­seada em regras que os EUA, e os seus aliados, particularmente da NATO e da UE, tanto pro­clamam e pretendem impor ao mundo.

No entanto, como o PCP tem sublinhado, a resistência e luta dos trabalhadores e dos povos – que na sua diversidade conhece expressões de grande importância – confirma o descontentamento perante o agravamento da exploração, das injustiças e desigualdades sociais e de desenvolvimento, da opressão neocolonial, impondo reveses e recuos ao imperialismo.

Neste contexto, assume grande relevância o desenvolvimento de um complexo e não linear processo de arrumação de forças a nível mundial, que tem como traços dominantes o declínio relativo dos EUA e de outras potências imperialistas, os avanços alcançados pela China e a sua maior afirmação internacional, assim como o crescente peso económico e político de outros países e da sua capacidade de iniciativa no plano das relações internacionais.

De que é expressão o desenvolvimento de relações bilaterais e de convergências e espaços de cooperação e integração multilateral com natureza, configuração e estabilidade diversa, entre países em condições e com percursos, objectivos e desenvolvimento económico muito diferenciados, mas que objectivamente não aceitam o domínio hegemónico do imperialismo e procuram caminhos alternativos baseados na igualdade soberana dos Estados, no direito ao desenvolvimento ou na cooperação mutuamente vantajosa, entre outros importantes princípios inscritos na Carta da ONU e no direito internacional.

Para além de outros importantes eventos, a Cimeira dos BRICS, a realizar de 22 a 24 de Agosto, na África do Sul, constituirá um importante momento na consolidação desta positiva tendência na evolução da situação internacional, que – como sabemos – o imperialismo procura contrariar por todos os meios.




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