Da Saúde não se cuida com falsas promessas

«Para utentes e pro­fis­si­o­nais so­bram sempre as pro­messas» do Go­verno, que opta por pros­se­guir o ca­minho de des­man­te­la­mento do SNS e de pro­moção dos pri­vados que lu­cram com a do­ença, acusou Paulo Rai­mundo.

O Go­verno pros­segue o des­man­te­la­mento do SNS e a en­trega a pri­vados

O Se­cre­tário-Geral do PCP es­teve, na manhã de an­te­ontem, com utentes da Uni­dade de Saúde de Mar­vila, em Lisboa, re­cen­te­mente aberta, mas onde falta um pouco de tudo. De resto, a fila que se for­mava antes das portas abrirem e os re­latos dos utentes com quem o di­ri­gente co­mu­nista con­tactou, al­guns dos quais re­pe­tentes nos dias de es­pera para ga­rantir uma con­sulta, con­firmam que para além das pa­redes, inau­gu­radas com pompa e cir­cuns­tância mi­nis­te­rial, pouco mais se con­cre­tizou de Ja­neiro a esta parte.

Di­ri­gindo-se aos pre­sentes, Paulo Rai­mundo notou a dis­cre­pância entre a pro­pa­ganda e a re­a­li­dade. No caso con­creto, «pro­me­teram mais e me­lhores cui­dados de saúde, exames de di­ag­nós­tico e aná­lises, ser­viços es­pe­ci­a­li­zados em saúde ma­terna e in­fantil, nu­trição, me­di­cina den­tária, psi­co­logia, as­sis­tência ao do­mi­cílio». Mas «como nos dizia um utente ali na fila, “por que é que não fazem isso tudo aqui?», lem­brou.

«So­braram as pro­messas, o sol e a chuva para quem es­pera, a even­tu­a­li­dade de não con­se­guir con­sulta», in­sistiu o Se­cre­tário-Geral do Par­tido, antes de sa­li­entar que «da saúde não se cuida com pro­messas». Pelo con­trário, de­fendeu que esta não pode ser um ne­gócio, cri­ti­cando, em se­guida, a opção do Go­verno do PS em pros­se­guir o ca­minho de des­man­te­la­mento do Ser­viço Na­ci­onal de Saúde e de trans­fe­rência de um cres­cente nú­mero de seg­mentos para o sector pri­vado.

Exemplo con­creto, além do ob­ser­vado em Mar­vila, é «o que se está a passar nas ur­gên­cias de obs­te­trícia, que abrem hoje, fe­cham amanhã, numa in­cons­tância in­com­pa­tível com as ne­ces­si­dades de grá­vidas e bebés».

E não nos digam que não há di­nheiro, rei­terou, como nou­tras oca­siões, Paulo Rai­mundo, lem­brando, de novo, que só no ac­tual Or­ça­mento do Es­tado, seis mil mi­lhões vão di­rec­ta­mente para os bolsos do ne­gócio da do­ença.

Uni­dade e acção

Paulo Rai­mundo também va­lo­rizou mé­dicos, en­fer­meiros, au­xi­li­ares e téc­nicos que pro­curam mi­ni­mizar os pro­blemas. Bem como os utentes, que têm pro­tes­tado e aos quais su­bli­nhou que, ao fa­zerem-no, «estão a de­fender não apenas a sua saúde, mas o di­reito de todos nós ao acesso à Saúde».

Antes de Paulo Rai­mundo, He­lena Mar­ques, utente em Mar­vila, cor­ro­borou que «não há [na uni­dade de Saúde] nada do que era para ser feito». Razão su­fi­ci­ente para terem con­vo­cado, na vi­gília re­a­li­zada no pas­sado dia 11, nova acção de luta para a pró­xima sexta-feira, 29, a partir das 18h30.

No cordão hu­mano, a po­pu­lação vai voltar a exigir o «cum­pri­mento do que foi anun­ciado aquando da cons­trução e inau­gu­ração desta Uni­dade de Saúde», re­velou Sara Ca­na­vezes, da Co­missão de Utentes de Saúde de Mar­vila (CUSM).

Da tri­buna, a membro da CUSM re­clamou, ainda, a me­lhoria dos acessos pe­do­nais, já que os ac­tuais são tor­men­tosos para idosos e cri­anças; o re­forço de meios ma­te­riais e hu­manos, neste caso num mí­nimo de dez mé­dicos para res­ponder aos 14 mil utentes sem mé­dico de fa­mília (mais de me­tade do total); o fun­ci­o­na­mento dos ca­nais de aten­di­mento à dis­tância (te­le­fone e meios elec­tró­nicos); a aber­tura da sala de es­pera antes das 08h00, para que os utentes não te­nham de es­perar na rua, em pé, su­jeitos aos ri­gores cli­ma­té­ricos.

Sara Ca­na­vezes também re­velou que a CUSM en­tregou, em mão, um con­vite para que o Mi­nistro da Saúde venha cons­tatar «a re­a­li­dade da Saúde em Mar­vila». Amanhã, no cordão hu­mano, se sa­berá se Ma­nuel Pi­zarro aceitou o de­safio, ou se na sua agenda apenas coube inau­gurar as pa­redes de um edi­fício des­na­tado de ca­pa­ci­dade de res­posta.

A vi­sita do di­ri­gente co­mu­nista àquela uni­dade de Saúde in­seriu-se na acção «Viver me­lhor na nossa terra», de­ci­dida na Con­fe­rência Na­ci­onal de No­vembro de 2022, que se propõe partir das as­pi­ra­ções e pro­blemas sen­tidos nas lo­ca­li­dades para am­pliar a cons­ci­ência nas po­pu­la­ções sobre os seus di­reitos e con­tri­buir para a mo­bi­li­zação e a luta pela sua con­cre­ti­zação.




Mais artigos de: PCP

Deputados do PCP no PE afirmam alternativa no Porto

As jor­nadas de tra­balho dos de­pu­tados do PCP no Par­la­mento Eu­ropeu (PE) per­cor­reram o dis­trito do Porto na pas­sada se­mana, con­cre­ti­zando con­tactos de rua com as po­pu­la­ções e tra­ba­lha­dores.

Produção e Educação sob a atenção do PCP

O Par­tido não cessa de afirmar so­lu­ções para dois pro­blemas na­ci­o­nais de vulto: a pro­dução na­ci­onal e a edu­cação. Foi nesse âm­bito que de­pu­tados co­mu­nistas re­a­li­zaram vi­sitas a se­mana pas­sada.

Despedimentos e salários em atraso alvo de escrutínio dos comunistas

Tra­ba­lha­dores des­pe­didos em vá­rias em­presas, com sa­lá­rios em atraso ou bai­xís­simos contam com o PCP para de­nun­ciar e exigir a in­ter­venção do Go­verno, que não pode ig­norar si­tu­a­ções es­can­da­losas com con­sequên­cias so­ciais dra­má­ticas.

Pilhas de lixo acusam privatização

Lixo acumulado nos ecopontos por todo o Algarve, particularmente durante o Verão, confirma «que a privatização da Algar é contrária aos interesses das populações e apenas serve os interesses dos grupos económicos, que acumulam lucros com essa actividade desprezando o serviço público e as necessidades das populações»,...

Faleceu a camarada Maria do Céu

Faleceu, no passado dia 15 de Setembro, com 67 anos, a camarada Maria do Céu Oliveira Ferreira. Membro do PCP desde 1 de Junho de 1974, dedicou toda a sua vida desde a juventude ao PCP, sempre com extrema dedicação e disponibilidade militante. Firme nas convicções e confiante na luta pela...

Neoliberalismo debatido em Évora

A Biblioteca Pública de Évora recebeu, dia 21, um debate em torno do livro «O Neoliberalismo não é um slogan», da autoria do professor João Rodrigues, um dos oradores da iniciativa juntamente com o também professor José Manuel Caetano, docente de Economia na Universidade de Évora, e Miguel Tiago, membro do Secretariado...

Correu-lhes mal

A cobertura mediática da campanha eleitoral da Madeira foi seguramente uma das que tornaram mais clara a desigualdade de tratamento e o preconceito com que o PCP é tratado. No caso, a dose foi dupla e conviveram ambas as formas que habitualmente a ofensiva anticomunista assume, com a prática...