O respeito é muito bonito

Os acontecimentos na Palestina, a insanidade dos círculos dirigentes do Estado de Israel, o dúplice e cínico posicionamento dos EUA de apoio ao massacre em curso na Faixa de Gaza são por si razão de escrita e denúncia. Ao que se poderia acrescentar a onda de repúdio que percorre o mundo perante as atrocidades de Israel sobre o povo palestiniano.

Tudo questões que, por si, justificariam espaço e tempo. Mas é a propósito dos protestos em curso nas universidades dos Estados Unidos, uma das expressões dessa indignação, que aqui se escreverá.

O tema foi assunto para dois assinantes do comentário «plural» que encharca o espaço mediático, no caso um antigo ministro socialista e um veterano deputado europeu (terminologia algo inexacta, mas que com toda a propriedade se pode, no caso, assumir) do PSD, numa rubrica que dando pelo nome de Geometria Variável tem pouco do que a define como geométrica e ainda menos de variável, neste particular porque sendo esta por definição uma relação entre dois agentes onde seria de esperar evolução consoante as conjunturas, o que ali se ouve é tão só a repetida cartilha dominante seja quais forem as circunstâncias. Mas porque os ramos da matemática não são para aqui convocados, o que importa é retermo-nos no que é substancial e esclarecedor.

Seria de supor que a inusitada violência policial da Administração Biden para reprimir a população universitária, a mobilização de forças de choque estaduais para calar os protestos, a invasão e quase estado de sítio impostos nos «campus» universitários, justificasse um assomo de indignação, uma palavra de repúdio, uma expressão ainda que forçada de condenação.

Expectativa gorada. Tão só a consideração, nas palavras de um dos participantes, que se trata de «uma coisa desagradável», ademais numa «democracia como a norte-americana». Repare-se na candura da crítica, na tibieza do reparo, no registo timorato, não vá quem bem sabemos ofender-se. E, sobretudo, imagine-se a densa e violenta adjectivação que tais personagens recorreriam se os acontecimentos fossem noutras paragens, em particular aquelas não ungidas pelos superiores «valores ocidentais» que os fascinam e sequestram. Não trazendo para aqui aquele axioma que une dono, mão e cão, o mínimo que se pode dizer é que, como se vê, «o respeito é muito bonito».



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