Rafah – um crime hediondo

Ângelo Alves

Ao momento que escrevemos estas linhas o exército israelita está a cometer mais um inqualificável crime na Faixa de Gaza. Depois de 7 meses de massacres e destruição completa da Faixa de Gaza, após sucessivas violações dos mais elementares direitos humanos que empurraram toda a população (que não foi morta) da Faixa de Gaza para Rafah, a besta sionista lança-se sobre o último refúgio da martirizada população palestiniana.

Este ataque a Rafah era já por si só algo impensável. Estamos a falar de um muito exíguo território onde estão concentrados 1,4 milhões de pessoas e onde as condições de sobrevivência são indescritíveis. Qualquer ataque militar naquela área resulta obrigatoriamente num hediondo massacre. E como se isto não bastasse, o facto de se realizar horas depois da resistência palestiniana ter aceitado um acordo de cessar-fogo que foi considerado pelos EUA como «altamente generoso» e «irrecusável», e que Israel negociou de má-fé durante dias a fio, então aquilo que está a acontecer em Rafah é algo monstruoso.

Não há dúvidas. Israel quer destruir a Faixa de Gaza e levar até ao fim a matança, seja por força das armas e bombardeamentos, seja pelo massacre humanitário, como o confirma o encerramento da passagem de Kerem Shalon e a ocupação da passagem de Rafah. Fica agora mais claro que ao mesmo tempo que os EUA acusavam o Hamas de estar «entrincheirado nas suas posições» e que Israel dava uma semana para aceitar o suposto acordo de cessar-fogo, o que estava de facto em curso era uma enorme farsa negocial pela parte de Israel e dos EUA e uma preparação da ofensiva militar contra Rafah.

A hipocrisia internacional sobre tudo o que está a acontecer ficará para a História. Este gigantesco crime está a acontecer pouco tempo depois de os EUA terem aprovado mais um pacote de 26 mil milhões de dólares para Israel; depois de a União Europeia se ter dedicado a impor sanções ao Irão por ter respondido a um ataque israelita às suas instalações diplomáticas na Síria; dias depois de Israel ter desencadeado novos ataques provocatórios contra a Síria e o Líbano e de não se ter ouvido um pio de Bruxelas ou Washington; dias depois de os EUA terem posto toda a pressão diplomática sobre o lado palestiniano para aceitar um quase ultimato, ao mesmo tempo que Israel anunciava que independentemente desse acordo iria atacar Rafah. E está a acontecer ao mesmo tempo que nos EUA, França, Grã-Bretanha e Alemanha se reprimem manifestações de solidariedade com a Palestina e quando no Festival Eurovisão da canção se proíbem quaisquer referências à Palestina.

Que se diga claramente, porque as consequências do que está a acontecer serão muito sérias. A responsabilidade do que acontecer daqui para a frente não será apenas de Israel. Os EUA, a França, a Grã-Bretanha, a Alemanha, a União Europeia – ou seja o dito «ocidente» – têm também as mãos manchadas de sangue palestiniano. Sabemos que nos próximos dias virão as criticas retóricas a Israel, e até as manobras «humanitárias» para limpeza de face. Mas nada disso fará esqucer a criminosa responsabilidade de todos os responsáveis pelo genocídio do povo palestiniano. A resposta tem de se fazer ouvir, nas ruas, já no Sábado!



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