Tribuna do XXII Congresso do PCP
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Será dada prioridade à publicação do primeiro texto de cada camarada. Eventuais segundos textos do mesmo autor só serão publicados quando não houver primeiros textos a aguardar publicação.
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Luta de massas, intervenção sindical, reforço do Partido
A luta de massas e, em particular, a luta dos trabalhadores, continua a ser decisiva para defender, repor e conquistar direitos e para elevar a consciência social e política de todos os que lutam por melhores condições de vida e de trabalho.
Luta por melhores salários, pela exigência da reposição e valorização das carreiras, pelo fim da precariedade, por melhores condições de trabalho e por serviços públicos que dêem respostas adequadas às populações.
Os comunistas que intervêm no Movimento Sindical Unitário (MSU), têm um papel determinante na decisão, na mobilização e na concretização de importantes lutas dos trabalhadores.
Para que a luta atinja patamares mais elevados é preciso reforçar a estrutura sindical. Todos os militantes têm a responsabilidade de se sindicalizarem, caso ainda não o tenham feito, e dar o seu contributo, no local de trabalho, para o reforço da estrutura sindical, como activistas ou como delegados sindicais.
Os quadros do Partido que têm responsabilidades sindicais devem:
- Desenvolver um estilo de trabalho planificado, de acompanhamento permanente dos locais de trabalho. Só assim será possível aumentar a consciência social e política dos trabalhadores, para a partir daí engrossarem a luta de massas e reforçarem o sindicato através da sindicalização.
- Alargar o número de locais de trabalho que são acompanhados, dinamizar a eleição de novos delegados sindicais e fazer permanentemente o seu acompanhamento político e sindical.
- Ter sempre no horizonte o reforço e recrutamento para o Partido, e cada um, tendo em conta a realidade em que intervém, certamente encontrará maneira de ir ganhando a confiança deste e daquele trabalhador, e depois, a forma mais adequada de o desafiar a entrar para o Partido.
Penso que estas linhas de trabalho, pela sua importância, são linhas prioritárias que devem merecer acompanhamento constante das organizações do Partido, e mais compromisso de todos e cada um de nós.
Joaquim Ribeiro
As TESES contra teses
Do importante capítulo dedicado à luta ideológica (talvez o mais extenso, nessa matéria, em TESES dos últimos Congressos) devemos concluir da necessidade de conversar com democratas patriotas. Saber conversar significa saber argumentar contra o preconceito anticomunista, o desconhecimento da história da União Soviética, cujo exemplo proporcionou outras revoluções socialistas, Frentes Populares, transformações progressistas em países capitalistas e as lutas de libertação dos povos colonizados. Saber argumentar significa saber. Ora, não se argumenta bem quando se afirma que na Ucrânia se confrontam dois imperialismos (sic), que a Rússia, porque é uma sociedade capitalista, se mostra expansionista (“imperialismo em gestação” diz-se, e ficamos perplexos com este determinismo!): quais os factos e doutrinas que mostram que a Federação Russa deseja abocanhar países da Europa ocidental, sequer toda a Ucrânia? Defender o seu território, libertar no seu todo as ex-Repúblicas Populares, agora territórios da Federação Russa por vontade expressa dos habitantes, derrotar a NATO na guerra que esta já começara em 2014, intervir em defesa própria contra “revoluções coloridas” nas suas fronteiras é imperialismo em “gestação”? Como agiríamos nós se fossemos cidadãos de um país que é soberano? Saber conversar com respeito mútuo é demonstrar que essa tese dos “imperialismos” é aprovar, involuntariamente, as mentiras com as quais o imperialismo, de facto, se rebuça, para impor o que a UE deseja: recuperar da estagnação económica, da crise da taxa de lucro do grande capital, através de mais “austeridade”, isto é: exploração dos trabalhadores! É este o programa que ameaça os trabalhadores europeus já, e não o “papão” do imperialismo russo ou chinês. É este objetivo que vemos na natureza dos monopólios que estão representados pela ditadura de Bruxelas. A tese dos “dois imperialismos” difundida pelos partidos comunistas da Grécia e do México não contribuem para intervenções convergentes do Movimento Comunista, servem, isso sim, a sua divisão e mal-estar, e não encontram sustentação alguma em Lénine, que gostam de citar profusamente. O mesmo digo à subestimação dos BRICS, à emergência de uma nova ordem mundial.
J. A. Nozes Pires
A Escassez como ferramenta do Capital
Falar de saúde mental e seus componentes (felicidade, qualidade das relações ou sentido de propósito) é indissociável de reflectir sobre o impacto dos seus determinantes sociais e económicos – a falta de condições de trabalho e habitação, as dificuldades de acesso à educação e à saúde, a desigualdade e discriminação ou a pobreza. Esta constatação tem impulsionado uma mudança de paradigma na Psicologia: a saúde mental não se restringe aos limites da pele, mas é produto do contexto, por isso, a prevenção, promoção e intervenção devem estender-se a ele. Aqui reside um problema: como intervir nas circunstâncias quando estas nos impedem de o fazer?
A lógica capitalista impõe a busca pela acumulação e uma visão dicotómica do que significa ser feliz: ter ou não ter. Essa ideologia, que nos faz sentir que nada é suficiente, coloca o foco em objectivos de curto prazo e reforça uma cultura de consumo, competição e individualismo. Se o propósito da vida é a abundância, o seu fracasso é a escassez. Para as pessoas mais pobres, esta ideia é particularmente perigosa.
Na pobreza, o comportamento e o pensamento alteram-se. A pressão para responder a necessidades de sobrevivência (comprar comida, pagar a renda) diminui o auto-controlo e a capacidade para tomar decisões responsáveis, podendo levar a actos impulsivos ou más decisões que agravam a condição de pobreza (gastos irreflectidos, por exemplo). Ao diminuir a “banda larga mental” que podia ser usada para outras tarefas, uma vida de privação gera comportamentos auto-focados, défices cognitivos contínuos (equiparáveis à perda de 13 pontos no QI) e uma maior vulnerabilidade a problemas de saúde mental. A isto chamamos mentalidade de escassez – conceito que postula que pobreza gera pobreza, impondo a escassez de recursos mentais para pensar criticamente e a longo prazo e limitando a capacidade de planear o futuro e de intervir na vida colectiva.
O capitalismo alinha-se na perfeição com o afunilamento de perspectiva que caracteriza a mentalidade de escassez. Numa sociedade capitalista, a pobreza não é só condição económica, mas um meio para manter a alienação: corrói mecanismos de cooperação e solidariedade e enfraquece a possibilidade de participação e organização contra o sistema que a produz. A transformação da sociedade exige uma visão que ultrapasse as urgências do presente e desafie as bases que sustentam essa alienação – uma mentalidade de resistência e de luta. O direito à saúde mental nunca será cumprido sem uma vida digna.
Edite Queiroz