Não ao saudosismo fascista

Manuel Rodrigues

A União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP)denunciou recentemente que o presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão (do PS) juntamente com conhecidos investigadores de história contemporânea, que sabem o que foi o fascismo e os seus crimes, querem retomaro projecto deaproveitar a antiga escola na terra do ditador fascista e impor a construção de um pseudo «Centro de Investigação» do «Estado Novo», que, ao contrário do que afirmam, contribuiria para branquear um regime criminoso e a figura sinistra do ditador Salazar.

Não é a primeira vez que tal projecto é apresentado. Primeiro, era o projecto do museu Salazar. Foi a acção determinante de milhares de antifascistas mobilizados pela URAP que derrotou este projecto, obrigando a Câmara a «abandoná-lo».

Passado algum tempo, surgia um novo projecto da Câmara, desta feita envolvendo investigadores da Universidade de Coimbra, denominado «Centro interpretativo do Estado Novo».

Mais uma vez, se levantou a voz da URAP e de muitos democratas a denunciar as verdadeiras intenções dos seus promotores. Depois de muitas lutas, denúncias, acções de protesto, petição à AR, o projecto era de novo «abandonado».

Entretanto, quando o assunto parecia esquecido,talvezpor supor havermelhores condições para o desenterrar do bafiento baú de memórias,lá vem de novo a Câmara Municipal a querer dar nova vida ao projecto que, alegue o que alegar, na prática, mais não serve do que para alimentar romagens de saudosistas e a falsificação ou branqueamentodo fascismo e dos seus crimes.

Mais uma vez se levanta a voz da URAP a alertar: se querem dar a conhecer melhor o que foi o regime fascista, importa lembrar e homenagear todos os que lutaram contra a opressão. E, nesse caso, além dos espaços que já temos (Museu do Aljube, Museu Nacional da Resistência e Liberdade), que se ergam espaços de memória na antiga Fortaleza de Angra do Heroísmo e na antiga cadeia da PIDE no Porto (locais onde milhares de ex-presos políticos sofreram a brutalidade do regime prisional fascista).

Recomenda a URAP que não se dê lugar a espaços que repetidamente os saudosistas reclamam.

Pertinente apelo, numa altura em que no País, na Europa e no Mundo ressurgem ideias e projectos reaccionários e fascistas, se prolongam conflitos e cada vez mais, em vez de paz, se fala e recorre ao militarismo e à guerra.

E, por falar em memória, porque não lembraros avisados versos de Brecht sobre o nazi-fascismo:
«Aí está o que uma vez conseguiu dominar o mundo.
Os povos acabaram vencendo.
Mas não cantem vitória antes do tempo.
Ainda está fecundo o ventre de onde surgiu a coisa imunda.»

 



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