Os «libertadores» da Síria

Ângelo Alves

Em Dezembro de 2024 afirmámos que o que se estava a passar na Síria era uma «mudança de regime» orquestrada pelos EUA, a Turquia e Israel para avançar nos seus planos de domínio daquele país e da região. Alertámos então que os acontecimentos teriam consequências terríveis para aquele país.

Não foram precisos nem quatro meses para que a «libertação» da Síria se transformasse num pesadelo para aquele povo e para que os seus «libertadores» demonstrassem o que são verdadeiramente, o que pretendem e a quem servem. A realidade aí está a dar-nos razão e a confirmar que o «novo poder», de origem terrorista, está a pôr em causa a existência da Síria como Estado nação, entidade social e política estável, secular e pluralista, que, recorde-se, resistiu durante décadas às manobras imperialistas e sionistas na região e que serviu de ponto de apoio efectivo a povos e forças de resistência, designadamente palestinianas.

A Síria está, como previmos, a ser esquartejada em zonas de domínio dos EUA, Turquia e Israel e intensifica-se o «festim» do saque das suas riquezas naturais, com a anuência do «governo». A nova «democracia» síria ilegaliza os dois partidos comunistas existentes no país e outras forças políticas e afirma que um terço do novo Parlamento será nomeado pelo presidente. O presidente, um terrorista recauchutado, impõe uma constituição dita temporária, redigida por um comité cujo porta-voz é professor de direito numa universidade turca. Afirma-se que o chefe de Estado terá de ser muçulmano e que a lei islâmica é a principal fonte da jurisprudência. E como se tudo isto não bastasse para demonstrar que a «democratização» da Síria é uma enorme farsa, a «nova constituição» é imposta uma semana após o «ministério da defesa» sírio (ou seja, os bandos terroristas que dele tomaram conta) ter realizado em Tartous, Latakia e Hama autênticos massacres de civis sírios, de origem alauíta, em que terão morrido pelo menos 1000 civis (há fontes que falam em milhares).

Entretanto, a comunicação social ocidental silencia estes crimes e os seus autores são visitados e recebidos com honras de Estado pelos «democratas» governos ocidentais. Todos «democratas», todos «libertadores».

 



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