Para que o Diabo as não teça

Jorge Cordeiro

Se há coisa que o poder dominante abomina, para lá do pavor da perda do poder que sustenta o seu sistema de exploração, é esse perigo maior que resultará de cada um ajuizar e decidir em função do que lhe interessa e não do que lhe induzem sobre o que seriam os seus interesses e as suas escolhas. É isso que explica em quase todas as esferas da sociedade o exercício de manipulação de consciências, de indução de concepções alinhadas com o sistema, de orquestrada desinformação, de ocultação de um diferente que acaba soterrado e amalgamado nesses padrões de verdade única tidos como inelutáveis. Procedimentos que em tempos de eleições e mais decisivas escolhas obrigam a cuidados redobrados não vá a evidência dos factos e a crueza da vida conduzir a que a partir delas se decida com os devastadores prejuízos que daí poderiam advir para o poder instalado.

Será por isso que para lá do padronizado panorama informativo, não dispensável mas julgado como insuficiente face à dimensão do que se joga, aí temos outros e não menos eficazes mecanismos de auxílio colectivo que não permita que por óbvia constatação ou mais apurada reflexão se conclua o que não pode ser permitido deixar concluir. Sem desprimor para outras ferramentas, aí temos as sondagens, que em doses massivas, transformando estimativas em resultados finais ou arrumando os que não quiseram opinar nas parcelas que melhor convém, vão induzindo à priori vencedores e vencidos, decidindo em quem vale ou não a pena votar, garantindo que das opções finais não resulte algo que perturbe a boa ordem dominante e quem, para lá da sigla, a mantém. A que se deve juntar esse incansável afã que se esforça no final de cada debate em explicar e decifrar não o que ali se passou e se deve concluir mas sim, não vá o diabo tecê-las, o que é preciso que cada um deva ser levado a extrair. Um expediente que, com assinaláveis excepções de quem se esforça por um juízo mais distanciado e sério, nos é vendido na sua maioria por politólogos, mestres em ciência política ou directores de informação, acompanhados ainda por personagens que, por esgazeamento ou outra explicação, corporizam tal desbragamento que fazem de Palma Cavalão, aquele titular da Corneta do Diabo que Eça retrata, um cronista equilibrado ainda que sujeito às fraquezas reveladas ao escrever a rogo e paga de um Dâmaso qualquer.



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