Rosas de Gaza
O genocídio que Israel leva a cabo desde há 18 meses na Faixa de Gaza foi já descrito como uma “guerra contra as crianças”. Por mais que não deixe a salvo nenhum segmento da população palestiniana (nem profissionais de saúde, jornalistas, funcionários das Nações Unidas e trabalhadores humanitários), as crianças estão entre os alvos privilegiados do terror sionista. Pensa, assim, poder matar o futuro da Palestina.
Desde Outubro de 2023 que Israel mata, em média, uma criança a cada 45 minutos – cerca de 30 por dia: no total, foram já 18 mil as crianças assassinadas nos bombardeamentos israelitas, muitas atingidas directamente pelas bombas, outras soterradas sob os escombros dos edifícios (são poucos os que permanecem de pé) e sufocadas pelo fumo dos incêndios ou pela inalação de substâncias tóxicas. Relatos de médicos que trabalham no território referem ainda a morte de dezenas de menores em resultado de ataques de drones ou disparos de atiradores israelitas, apontados ao peito ou à cabeça.
À semelhança do que fizera anteriormente, Israel voltou em Março a impor um apertado bloqueio à entrada de ajuda humanitária naquele território palestiniano e são as crianças quem mais sofre, pois são elas as mais vulneráveis à disenteria, às diarreias, à subnutrição. Um relatório da UNICEF, de 15 de Março, garantia que no Norte da Faixa de Gaza 31% das crianças com dois anos ou menos se encontravam gravemente subnutridas e que as mortes à fome tinham registado um «aumento dramático».
Ali, onde praticamente não há hospitais nem abrigos (também eles arrasados pela artilharia israelita), estima-se que cerca de 95% dos grupos humanitários que lá trabalhavam tenham suspendido os seus serviços, impossibilitados pelos constantes bombardeamentos de Israel. O responsável por um deles afirma que «as crianças estão a comer menos de uma refeição por dia e têm dificuldade em encontrar a próxima refeição» e que a subnutrição e os focos de fome «estão definitivamente a ocorrer em Gaza». Outro confessa a impotência dos trabalhadores humanitários, que todos os dias vêem pessoas a sofrer e a morrer de fome (entre elas tantas crianças) enquanto «carregam o fardo impossível de prestar ajuda com mantimentos esgotados».
E depois há as que sobreviveram: feridas, umas; sozinhas, outras; traumatizadas, quase todas. Se perto de 40 mil terão perdido um ou ambos os pais no último ano e meio, em Janeiro estavam contabilizadas 17 mil crianças desacompanhadas na Faixa de Gaza. Segundo a UNICEF, a reunião com as famílias é quase impossível: até ao início deste ano pouco mais de 60 tinham tido essa felicidade…
«Pensem nas crianças», apelava Vinicius de Moraes no soberbo Rosa de Hiroxima, imortalizado por Ney Matogrosso. Que também a nós nunca nos falte a voz!