O Ramalhete da Política de Direita
A PPP da Lusoponte já foi considerada «a pior PPP do País» por uma Comissão Parlamentar de Inquérito. A forma como um conjunto de capitalistas conseguiu ficar com a exploração comercial das duas pontes sobre o Tejo a troco de financiar cerca de 20% da construção de uma delas, é de tal forma escandalosa que se tornou indefensável (ou melhor, indefensável para quem tenha um pingo de sentido crítico).
E enquanto esmifravam o Estado (e os utentes) em cerca de 100 milhões de euros de lucros por ano, os accionistas da Lusoponte agiam para travar a construção da Terceira Travessia sobre o Tejo (TTT), pois esta, estando decidida há dezenas de anos, apresentava o risco de lhes retirar clientes (a nova ligação ferroviária Barreiro-Lisboa tem o potencial de atrair muita gente para o Transporte Público) e trazer pouco tráfego novo (essencialmente iria aliviar a ponte 25 de Abril). Vão assim conseguir chegar a 2030, ao fim da concessão, com as pontes entupidas de carros a pagarem-lhes portagem sem terem realizado qualquer investimento significativo no sistema. Um paraíso. Já para os utentes, é o inferno.
Entretanto, com o aproximar do fim da concessão, os accionistas da Lusoponte vivem com a natural preocupação de encontrar um mecanismo para prolongar a sangria e continuar a receber tão chorudos rendimentos. E a TTT aparece como a desculpa perfeita para renovar essa concessão, mais uns 30 ou 50 anos, a troco de financiarem uma pequena parcela da construção dessa TTT.
É neste quadro que se deve compreender a nomeação de António Ramalho para «Chairman» da Lusoponte (detida pela Mota-Engil e pela Vinci). Ele que já foi presidente das Estradas de Portugal e da Infra-estruturas de Portugal, que ajudou a transformar em empresas de subcontratações, concessões e PPP várias, ele que esteve no Novo Banco nomeado pelo Estado, onde entre outras coisas garantiu a passagem de parte do capital da Lusoponte do BES para os actuais accionistas. Depois de ser nomeado pelo Estado (por PS e PSD para ser mais preciso) para servir os grandes grupos económicos, é agora escolhido pelos grandes grupos económicos para tratar com o Estado do futuro contrato de concessão.
E ainda te pedem o voto porque agora é que vão fazer a TTT (que devia e podia estar pronta há muitos anos, não fora a subserviência deles ao grande capital).