A coragem de não ceder à política-espectáculo
Cresce a tendência para que a “política-espectáculo” assuma cada vez mais um lugar de destaque, seja nas estratégias de comunicação de outras forças políticas, seja no enquadramento e critérios utilizados pelos principais órgãos de comunicação social. A campanha eleitoral que está em curso não só confirmou essa tendência, como foram dados novos passos que, em geral, contribuem para a promoção do acessório e que, sobretudo, facilitam a exibição de aparentes divergências para esconder convergências e identidade das políticas e interesses que servem.
Exemplos não faltam. A cobertura mediática feita aos principais dirigentes partidários alargou-se aos programas de entretenimento e de humor, com apresentadores e humoristas a vestir o fato de jornalistas. Nos noticiários televisivos, a chamada polémica, uma espécie de divindade que se sobrepõe a qualquer outro facto ou mensagem, transformou-se em elemento central em torno do qual é suposto todos se pronunciarem. Passámos a ter banhos de mar e dirigentes em calções, passeios de bicicleta, passeios de mota, partidas de vólei de praia, cães e gatos como protagonistas, candidatos a tirar imperiais ou a cantar desafinados, e os mercados e feiras, com a entrada rompante das comitivas que os autocarros das caravanas despejam, são uma espécie de plateau para a cena do dia. E nas redes sociais a coisa não melhora, com a crescente infantilização dos seus utilizadores e a submissão à ditadura das visualizações que, para além do que já se conhecia de dinâmica reaccionária nestas plataformas, levou a que outras candidaturas perdessem a noção do ridículo.
É claro que não podemos ter a ilusão de que tudo isto não dará os seus votos, porque os vai dar. Nem tão pouco criar a ideia de que a intervenção da CDU é absolutamente imune, ou indiferente a este ambiente geral e aos critérios que lhe estão subjacentes. Sabemos disso e procuramos intervir numa realidade que existe e não naquela que desejaríamos que existisse. Mas também aqui mostramos diferenças. Por mais difíceis e deturpadas que sejam as circunstâncias, não deixamos de apelar à razão, à emoção, mas também à inteligência de cada um. E também aqui é preciso ter coragem.