Símbolos
1. As autoridades alemãs proibiram, há dias, a exibição de símbolos soviéticos e russos nas comemorações do Dia da Vitória, sobretudo nas imediações dos memoriais que, na capital, evocam a libertação da cidade e a derrota definitiva do nazi-fascismo: Treptow, Tiergarten, Mitte e Pankow.
Da simbologia proibida constavam a bandeira da União Soviética, precisamente a que ondulou no topo do Reichstag em 2 de Maio de 1945, e a fita de São Jorge, laranja e preta, que evoca os milhões de soviéticos que combateram – e morreram – na Segunda Guerra Mundial: entre russos e ucranianos, bielorrussos e moldavos, cazaques e muitos outros, das diferentes nacionalidades que compunham aquele Estado socialista, multinacional e multi-étnico, perderam a vida para cima de 20 milhões de seres humanos. Mais de cinco mil soldados do Exército Vermelho, dos 80 mil que terão caído na batalha final, permanecem sepultados sob a imponente estátua aos libertadores, inserida no memorial erguido no Parque Treptower, na zona oriental de Berlim – o maior espaço de evocação antifascista da Europa Ocidental.
2. Já em 2022, o município de Berlim ponderou derreter a estátua do dirigente comunista alemão Ernst Thäelman, assassinado no campo de concentração de Buchenwald em Agosto de 1944, diz-se que por ordem expressa do próprio Hitler. O monumento foi salvo pela determinação e unidade de democratas e antifascistas, que o defenderam – e, com ele, não apenas a memória de Thäelman como a de todos os alemães que resistiram ao nazi-fascismo (o primeiro campo de concentração aberto pelo regime nazi, Dachau, destinou-se a presos políticos “internos”, grande parte dos quais comunistas).
3. A proibição de símbolos soviéticos nas comemorações da Vitória não foi inédita, tendo já sido imposta em 2023 e 2024. E também as justificações apresentadas não são novas nem tão-pouco se limitam a esta evocação concreta: as “ameaças à segurança” têm servido igualmente como pretexto para tentar limitar a denúncia pública do genocídio cometido por Israel na Faixa de Gaza e da cumplicidade da Alemanha e da União Europeia. Vários manifestantes foram detidos e há cerca de um mês foi notícia a intenção das autoridades germânicas (entretanto travada pela Justiça)de deportarem quatro activistas pró-Palestina, um norte-americano e três naturais de países da UE. Nenhum deles é acusado de qualquer crime.
4. Estes casos (e poderíamos acrescentar tantos outros) são exemplares das orientações vigentes no chamado Ocidente, onde o anticomunismo, a xenofobia e o militarismo são promovidos a “ideologia oficial”. A História já mostrou ao que isso conduz e os 80 anos da Vitória aí estão a lembrar-nos. Seguramente por isso pretendem que o esqueçamos.