Avanço da direita
e abstenção em França
CRÓNICA INTERNACIONAL Domingos Lopes
É incontornável. Cresce a abstenção eleitoral por toda a Europa. A abstenção nas últimas eleições francesas constitui um recorde naquele país. Os cidadãos não se sentem impelidos a ir votar porque naturalmente entendem que o seu voto não conta, caso contrário votariam. E essa conclusão é retirada de muitas constatações, sendo porventura dominante aquela que os faz pensar que as coisas não mudam sejam quais forem os partidos que governam. Com efeito a França, apesar de ser governada por uma coligação de diversos partidos de esquerda, não empreendeu medidas suficientes que constituíssem sinais claramente distintos das medidas preconizadas pela direita. Aceitou os critérios monetaristas de Bruxelas. Não se opôs à política de guerra nos Balcãs e no Afeganistão. O mesmo sucedeu dentro da maioria dos países da União Europeia que não obstante serem governados por partidos socialistas e social democratas a sua política não foi suficientemente diferente para merecer de novo a confiança dos eleitores. A crise política resulta, pois, do facto das populações não sentirem diferenças entre as políticas e daí a sua abstenção . Que interessa votar se tudo continua na mesma? Quais são grandes temas de discussão que mobilizem as opiniões públicas? A impotência decorre dessa falta de confiança na mudança. Ao longo dos últimos tempos tantas têm sido as promessas sempre incumpridas que os cidadãos se manifestam pela abstenção ou até pela entrega do seu voto a partidos da extrema direita na França, Áustria , Itália , Bélgica , Holanda .
As próprias campanhas eleitorais são cada vez mais redutoras em termos de debate de ideias e tendem a aparecer aos cidadãos como uma luta pelo poder entre dois «polos» que se batem em ganhar o centro, deixando de lado as opções que possam desempenhar o caracter de uma alternativa.
O que se passou em França é nesta perspectiva mais grave porque naquele país a bipolarização entre dois partidos não era tão acentuada como noutros países europeus. É que os resultados são maus para o PCF, aliás na sequência de outros anteriores. A redução da influência dos comunistas nestas circunstancias é sempre muito negativa, independentemente das orientações político ideológicas de cada partido. O avanço impetuoso da direita em toda a Europa vai trazer consequências nefastas para os trabalhadores e todas as forças de esquerda, sobretudo tendo em linha de conta o poderio do EUA que está por detrás desta vaga. Se a política dos socialistas tem sido a de se identificar com esta visão neoliberal , e se é essa política é a que sucessivamente tem sido derrotada , a conclusão só deveria ser mudar para a esquerda . Para isso é decisivo que os partidos comunistas contem, que sejam capazes de, mantendo o seu ideal, serem também capazes de aparecer ao eleitorado de esquerda como uma força indispensável para a real alternativa a esta globalização que faz dos ricos ainda mais ricos, alargando de um modo demolidor o imenso mundo dos mais pobres.
No fundo o cidadão , não descortinando grandes diferenças entre os partidos vencedores, tende a alhear-se do destino da sua Republica, permitindo assim aos de cima continuarem a governar como querem. Quanto maior for o campo de opções mais rica e atractiva é a democracia .
Num mundo dominado pelo peso desestabilizador dos EUA é importante que à esquerda os comunistas continuem a pesar e que os trabalhadores e os povos sintam a importância desse peso.
No momento histórico em que o capitalismo dominante quer impor o seu
pensamento único a todos os níveis da actividade humana, a luta
dos comunistas por uma alternativa de esquerda tem de ser melhor explicitada
para ser melhor compreendida e apoiada. É a coragem de manter o ideal
, aliada à de uma melhor compreensão do tempo que vivemos que
permitirá mostrar aos povos o quanto os comunistas são insubstituíveis,
alargando assim o campo das grandes opções e reforçando
igualmente a própria democracia.
«Avante!» Nº 1490 - 20.Junho.2002