Uma semana copia a outra

Será do Verão? Ou será que o Verão, pe­ríodo ex­cep­ci­onal dada a con­cen­tração de fé­rias, acaba por de­mons­trar à evi­dência o vazio que reina na pro­gra­mação dos ca­nais por­tu­gueses abertos a toda a gente que não tem meios para se as­se­gurar a TV por cabo? O certo é que fi­camos com a sen­sação de que uma se­mana copia a outra e que as gre­lhas não deixam grande – nem pe­quena – pos­si­bi­li­dade de es­colha. Por exemplo, e co­me­çando pela RTP 1: 

 

Um de­serto

 

Hoje, quinta-feira, nada de novo.

Amanhã, sexta, também nada nos puxa para a frente do te­le­visor. Nem a saga hu­mo­rís­tica(?) de uma fa­mília de emi­grantes que re­gressa a Por­tugal. Talvez seja por o tempo não está para re­gressos, mas sim para re­tornos à emi­gração.

O sá­bado é um de­serto, também. E quase somos le­vados a acon­se­lhar que se use a TV só de ma­nhã­zinha. Para ver os bo­necos para cri­anças.

No do­mingo, a mesma coisa. De modo que, por este canal e du­rante o fim-de-se­mana que se apro­xima, só po­demos es­perar algum prazer in­te­li­gente com a série que passa, nas noites de se­mana. A já cé­lebre Conta-me como foi. O resto das apostas na pro­dução por­tu­guesa são para perder. 

 

Mais do mesmo

 

Pois na SIC, nem as sé­ries para cri­anças valem grande coisa nem valem o es­forço de gastar os olhos. Pas­samos, pois, como gato sobre brasas entre jor­nais e sé­ries en­la­tadas. Na sexta-feira idem e no sá­bado é mais do mesmo.

E para hoje, na TVI, des­cul­pará o leitor mas, não en­trando pelo ra­di­ca­lismo que seria con­si­derar tudo muito mau, di­remos que é tudo um bo­cado me­díocre. Entre as Tardes da Júlia e os en­jo­a­tivos Mo­rangos com Açúcar, ter­mi­nando nas in­ter­mi­ná­veis te­le­no­velas, não en­con­tramos nada a des­tacar.

Avan­cemos, porém. Na sexta-feira, ve­ri­fi­camos que a «grelha» é mesmo como as barras de uma prisão onde pre­tendem en­cerrar as ca­pa­ci­dades de dis­cer­ni­mento dos te­les­pec­ta­dores. O sá­bado pre­tende ser um es­paço mais fresco, se em casa houver uma ven­toinha a agitar os ca­lores. E o pro­grama só con­segue que se fique na ex­pec­ta­tiva de um fil­me­zinho no par deles com que nos brindam à tarde. 

 

Um resto de es­pe­rança

 

Um resto de es­pe­rança guar­dámos para o canal 2 da RTP. E talvez pos­samos acertar em al­guma coisa, para ver e so­bre­tudo para ouvir. Trata-se de as­sistir, hoje, às 23.45 ( tão tarde!) ao pro­grama que quer ser um Tri­buto a Carlos Pa­redes – do­cu­men­tário de ho­me­nagem que aguar­damos para ver se se trata de algo de qua­li­dade. Seria im­per­doável se assim não fosse. O resto é a série in­ter­mi­nável de pro­gramas in­fantis e ju­venis, com A Fé dos Ho­mens pelo meio e uma emissão do Na­ti­onal Ge­o­grafic sobre a evo­lução da vida (que pelo menos en­sina al­guma coisa e dá cabo de ve­lhos dogmas). Este pro­grama re­pete às 16.15 de sexta-feira. Nessa noite, também às 23.45, o pro­grama é sobre Zeca Afonso. Fica-nos então a es­pe­rança.

 



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