Telespectador decepcionado

Chegou à nossa Re­dacção uma carta de um emi­grante por­tu­guês na Ale­manha, que veio cá passar umas fé­rias e, por con­se­guinte, teve di­reito a en­treter-se com a te­le­visão que nós temos. Só que Ma­nuel An­tónio So­bral já não es­tava ha­bi­tuado a isto. Daí a sua de­cepção e re­volta, como nos conta, de­pois de as­sistir ao jornal da RTP In­ter­na­ci­onal, às 24 horas do dia 14 deste mês. E conta este nosso amigo:

«Na hora exacta co­meça o jornal das 24 horas com a no­tícia da Festa do Pontal, do PSD, e com o dis­curso do seu chefe, Pedro Passos Co­elho, que em pro­grama no­ti­cioso teve a du­ração de 33 mi­nutos! Fi­quei es­pe­rando, na es­pe­rança de ver mais no­tí­cias do nosso País. Apa­receu o Des­porto. Muito bem! Só que esse pro­grama des­por­tivo, com re­sul­tados, com co­men­tá­rios e en­tre­vistas, teve uma du­ração de 58 (cin­quenta e oito) mi­nutos!

«E, ao findar o des­porto, ouvi a voz da RTP In­ter­na­ci­onal dizer assim: “Muito boa noite, se­nhores te­les­pec­ta­dores da RTPN, RTP África e RTP In­ter­na­ci­onal. E até amanhã.” E fe­charam as no­tí­cias do nosso País!»

 

Te­les­pec­tador re­vol­tado

 

«Por­tanto», con­tinua o nosso leitor, «eu sinto-me re­vol­tado com a nossa RTP, pela dis­cri­mi­nação com que dis­cri­mina os por­tu­gueses no es­tran­geiro, que com os seus es­forços e sa­cri­fí­cios, aju­daram a en­ri­quecer os ca­pi­ta­listas deste País, que faz parte da União Eu­ro­peia mas que, quanto a mim, não tem nada de União Eu­ro­peia para as pes­soas de mais fracos re­cursos. E, fi­nal­mente, es­pero que no dia 5 de Se­tembro, no fecho da Festa do Avante!, o dis­curso final desta festa, tenha uma equi­va­lência de um terço da Festa do Pontal, no que não creio e sei que é in­tei­ra­mente im­pos­sível, de­vido às dis­cri­mi­na­ções po­lí­ticas que existem na nossa RTP que de­veria ser, mas não é, de todos nós.»

 

A Re­dacção agra­dece

 

Agora di­zemos nós. Só se não hou­vesse de todo es­paço é que não pu­bli­ca­ríamos esta carta de crí­tica. De facto, como diz o nosso leitor, trata-se de uma ver­gonha. E, como ele diz ainda, a RTP não é de facto de todos nós, mas está ao ser­viço dos que con­ti­nuam a ex­plorar os tra­ba­lha­dores e o povo. Como o Go­verno não é um go­verno para sa­tis­fazer as as­pi­ra­ções e ne­ces­si­dades do nosso povo e dos tra­ba­lha­dores do nosso País, es­tejam eles no ac­tivo ou já na re­forma, como também não re­pre­senta nem res­ponde às ne­ces­si­dades das cen­tenas de mi­lhares de de­sem­pre­gados e dos muitos que têm em­prego tão pre­cário que so­bre­vivem em vez de vi­verem.

Quanto à União Eu­ro­peia, que Ma­nuel An­tónio So­bral re­fere, é também de não es­quecer que esta se di­vide entre grandes e pe­quenos e que fun­ciona a mando dos grandes mo­no­pó­lios eu­ro­peus. Muito do que de er­rado e cri­mi­noso se faz em Por­tugal é de­ci­dido em Bru­xelas e le­vado a cabo por um Go­verno – ou por outro da mesma laia – la­caio dos di­tames dos di­rec­tó­rios es­tran­geiros, onde se pre­tende su­focar a nossa so­be­rania na­ci­onal.

Ao nosso leitor, dei­xamos um abraço e talvez nos en­con­tremos na Festa, no meio dos muitos mi­lhares de co­mu­nistas e de amigos de­mo­cratas que lutam por um Por­tugal me­lhor.

 



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