Declaração de Jerónimo de Sousa sobre a Greve Geral

Uma vitória sobre a resignação e o conformismo

A Greve Geral, na qual par­ti­ci­param mais de três mi­lhões de tra­ba­lha­dores, «fi­cará ins­crita na his­tória da luta dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês», con­si­derou, an­te­ontem à tarde, o Se­cre­tário-geral do PCP. Sem con­vocar uma con­fe­rência de im­prensa, em res­peito pela greve dos jor­na­listas, Je­ró­nimo de Sousa ava­liou a di­mensão e im­pacto da jor­nada de luta numa de­cla­ração es­crita que fez chegar às re­dac­ções e que aqui pu­bli­camos.

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Hoje, por todo o País, os tra­ba­lha­dores fi­zeram ouvir a sua voz. A Greve Geral de 24 de No­vembro con­vo­cada pela CGTP-IN, uma das mais im­por­tantes jor­nadas de luta re­a­li­zada em Por­tugal de­pois do 25 de Abril, cons­ti­tuiu uma po­de­rosa res­posta à brutal ofen­siva do Go­verno PS e do PSD, e de todos aqueles, como é o caso do Pre­si­dente da Re­pú­blica, que têm pa­tro­ci­nado o rumo de de­sastre na­ci­onal im­posto ao País.

Uma grande Greve Geral que fi­cará ins­crita na his­tória da luta dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês, que teve o en­vol­vi­mento de mais de 3 mi­lhões de tra­ba­lha­dores. Uma vi­tória sobre a re­sig­nação e o con­for­mismo. Uma jor­nada que, pela sua di­mensão, re­a­firmou o valor maior da luta.

 

1. O PCP des­taca a di­mensão na­ci­onal e o ca­rácter trans­versal da Greve Geral. Por todo o País, no con­ti­nente e re­giões au­tó­nomas, re­gistou-se uma adesão ex­tra­or­di­nária na ge­ne­ra­li­dade dos sec­tores de ac­ti­vi­dade.

O PCP su­blinha a im­por­tância e sig­ni­fi­cado das fortes ade­sões no sector dos trans­portes como o Metro de Lisboa, Porto e Sul do Tejo, So­flusa, Trans­tejo, CP, Refer, EMEF e em de­zenas de em­presas ro­do­viá­rias como é o exemplo dos STCP, Carris, Ro­do­viária Entre-Douro e Minho, Grupo Bar­ra­queiro e a Transdev. O en­cer­ra­mento de todos os portos ma­rí­timos e grande parte dos portos de pesca e o can­ce­la­mento da to­ta­li­dade dos voos (mais de 500).

A Greve Geral as­sumiu ainda forte im­pacto no sector pro­du­tivo de que são exemplo: no sector au­to­móvel a Au­to­eu­ropa e todo o seu com­plexo in­dus­trial, a Re­nault-Cacia, a Mit­su­bishi, Tudor e Camac; no sector da me­ta­lurgia e me­ta­lo­me­câ­nica como os Es­ta­leiros Na­vais de Viana do Cas­telo, o Ar­senal do Al­feite, a Lis­nave, a Sacti, Jado Ibéria, Camo; no sector de ci­mento, ce­râ­mica e vidro, a CNE, a Atlantis/​Vista Alegre, Saint­Go­bain/​Co­vina, a Cinca e Lu­so­ceran; no sector cor­ti­ceiro o Grupo Amorim; no sector têxtil, ves­tuário e cal­çado o Grupo Paulo Oli­veira, Têxtil Al­meida e Fi­lhos, Ca­lifa, Triunph e KIAIA; no sector ali­mentar e be­bidas a Cen­tralcer, Kraft Foods; e em cen­tenas de ou­tras em­presas de ou­tros sec­tores pro­du­tivos.

O PCP su­blinha ainda a grande res­posta dada pelos tra­ba­lha­dores da ad­mi­nis­tração pú­blica cen­tral e local com pa­ra­gens que atin­giram ní­veis his­tó­ricos com pa­ra­li­sação total ou par­cial em pra­ti­ca­mente todo o País da re­colha de re­sí­duos só­lidos, en­cer­ra­mento de cen­tenas de es­colas, Po­li­téc­nicos e Fa­cul­dades, de­par­ta­mentos pú­blicos, fi­nanças, tri­bu­nais e ou­tros ser­viços pú­blicos como foi do caso do sector da saúde com uma forte adesão dos tra­ba­lha­dores do sector.

O PCP va­lo­riza ainda a di­mensão e os im­pactos que a adesão de mi­lhares de tra­ba­lha­dores teve em di­versos sec­tores e em­presas, como os Es­ta­leiros Na­vais de Viana do Cas­telo, o caso dos mais de 400 bal­cões da CGD en­cer­rados, assim como de ou­tros bancos e de pra­ti­ca­mente todos os postos dos CTT, e das im­por­tantes e sig­ni­fi­ca­tivas ade­sões re­gis­tadas nos tra­ba­lha­dores dos hiper e su­per­mer­cados, auto-es­tradas e cen­tros de con­tacto.

Uma di­mensão tanto mais va­lo­ri­zável quanto cons­truída sob a pressão e chan­tagem sobre os tra­ba­lha­dores. Pressão ide­o­ló­gica sobre a ale­gada inu­ti­li­dade da luta; chan­tagem de­cor­rente da im­po­sição ile­gí­tima de ser­viços mí­nimos que visam con­di­ci­onar o di­reito à greve; pressão eco­nó­mica, di­ri­gida so­bre­tudo a tra­ba­lha­dores com vín­culo pre­cário, com a ameaça de des­pe­di­mento e de perdas nas re­mu­ne­ra­ções (pré­mios); e o con­di­ci­o­na­mento ilegal com o re­curso em vá­rios casos à força por parte da PSP e da GNR para dar co­ber­tura à vi­o­lação do di­reito à greve.

Um êxito tanto mais as­si­na­lável quanto cen­tenas de mi­lhares de tra­ba­lha­dores se vêem con­fron­tados com si­tu­a­ções de en­di­vi­da­mento e com o agra­va­mento do custo de vida. Tra­ba­lha­dores para quem a re­a­li­zação de um dia de greve im­plica pres­cin­direm de um dia do seu sa­lário.

Esta Greve Geral veio do co­ração de cada em­presa ou local de tra­balho, da ina­ba­lável e cons­ci­ente opção de cada tra­ba­lhador. Veio do sen­ti­mento de pro­testo, in­dig­nação e luta de mi­lhões de tra­ba­lha­dores que qui­seram dizer basta. Basta de in­jus­tiças! Basta de sa­cri­fí­cios para os mesmos de sempre. Uma Greve Geral que cons­titui um mo­mento sin­gular de afir­mação de dig­ni­dade dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses.

 

2. Esta Greve Geral foi uma justa e ne­ces­sária jor­nada de luta contra o roubo nos sa­lá­rios e pen­sões. Contra os cortes nas pres­ta­ções so­ciais, no abono de fa­mília ou no sub­sídio de de­sem­prego. Contra o au­mento dos preços dos bens e ser­viços es­sen­ciais como os trans­portes ou os me­di­ca­mentos. Contra a des­truição dos ser­viços pú­blicos e a pri­va­ti­zação de em­presas es­tra­té­gicas.

Esta Greve Geral foi uma justa e ne­ces­sária res­posta ao agra­va­mento do de­sem­prego, ao alas­tra­mento da pre­ca­ri­e­dade, ao em­po­bre­ci­mento de vastas ca­madas da po­pu­lação. Uma justa e ne­ces­sária res­posta ao pro­cesso de li­qui­dação do apa­relho pro­du­tivo, ao cres­cente en­di­vi­da­mento do País e à perda de so­be­rania na­ci­onal.

Esta Greve Geral foi uma justa e ne­ces­sária res­posta contra a es­can­da­losa acu­mu­lação de lu­cros por parte dos grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros, que, em nome da crise e do dé­fice das contas pú­blicas, querem impor o agra­va­mento da ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores e o es­bulho dos re­cursos na­ci­o­nais.

 

3. O PCP saúda todos os tra­ba­lha­dores por­tu­gueses pela sua par­ti­ci­pação nesta Greve Geral. Sau­damos em par­ti­cular os mi­lhares de jo­vens tra­ba­lha­dores que, pela pri­meira vez, par­ti­ci­param numa jor­nada de luta desta en­ver­ga­dura, ele­mento de in­con­tor­nável valor po­lí­tico que se pro­jecta como uma im­por­tante ga­rantia para o fu­turo.

O PCP saúda a CGTP-IN, o mo­vi­mento sin­dical uni­tário e todas as es­tru­turas re­pre­sen­ta­tivas dos tra­ba­lha­dores pela sua acção e ca­pa­ci­dade de or­ga­ni­zação de­mons­tradas. A CGTP-IN con­firma-se e afirma-se como a grande cen­tral sin­dical dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses, re­fe­rência in­con­tor­nável para a de­fesa dos in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e para o fu­turo do País.

 

4. Esta Greve Geral não foi um ponto de che­gada, mas uma etapa numa exi­gente e pro­lon­gada luta que a si­tu­ação na­ci­onal exige. De­pois da re­a­li­zação desta Greve Geral, nada fi­cará como dantes. O Go­verno e os par­tidos que apoiam a sua po­lí­tica e Pre­si­dente da Re­pú­blica que a pa­tro­cina ti­veram nesta jor­nada de luta uma clara con­de­nação, um sério aviso e uma firme exi­gência de rup­tura com a po­lí­tica que pro­movem.

A Greve Geral cons­titui uma po­de­rosa ma­ni­fes­tação dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês da sua dis­po­ni­bi­li­dade para im­pedir o pros­se­gui­mento da ac­tual po­lí­tica, para serem parte de­ter­mi­nante da rup­tura e mu­dança de que o País pre­cisa.

O PCP es­teve ao lado desta Greve Geral porque está com a luta dos tra­ba­lha­dores, porque está com­pro­me­tido com a exi­gência de au­mento dos sa­lá­rios, de de­sen­vol­vi­mento do apa­relho pro­du­tivo, de aposta no in­ves­ti­mento e nos ser­viços pú­blicos. O PCP es­teve e está com a luta dos tra­ba­lha­dores porque a sua luta é a luta por um País de pro­gresso, de jus­tiça so­cial, por um Por­tugal so­be­rano e in­de­pen­dente. Re­no­vando o seu com­pro­misso de sempre com esta luta, o PCP re­a­firma aos tra­ba­lha­dores e ao povo por­tu­guês que podem contar com o PCP.



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