Pressões, chantagem e ilegalidades

Resistência tenaz

Armas do patronato não impediram êxito da luta

O estrondoso êxito da Greve Geral foi acentuado pelo intolerável clima de pressões, chantagem e flagrantes ilegalidades praticadas em várias empresas para tentar desmobilizar e diminuir os efeitos do protesto.

Os exemplos abundam, a começar pelo sector das auto-estradas onde se registaram vários casos de chefias que coagiram trabalhadores a não participar na greve (ex. Coina, VCI Carregado).

Nos casos em que as pressões não surtiram efeito, observaram-se substituições massivas de grevistas. Isto aconteceu na Maia, Feira e Ponte de Lima, onde, apesar de a adesão ter rondado os 50 por cento, os efeitos não foram visíveis devido à substituição de 55 portageiros por trabalhadores temporários da empresa Team.

A mesma ilegalidade foi recenseada pelos piquetes nas portagens de Famalicão e Póvoa, que tiveram uma adesão total (100%). Porém, a procura de «temporários» foi tanta que o seu número se revelou insuficiente, nomeadamente em Guimarães Sul, Vizela e Póvoa-Nó, onde os utentes da auto-estrada tiveram passagem livre. As portagens foram igualmente abolidas em Ceide e Ave, mas aqui devido à intervenção do piquete de greve da Brisa e Ascendi, que impediu a substituição ilegal dos portageiros até à chegada da GNR, que identificou os fura greves e as chefias.

Outro caso de resistência refere-se à Tabaqueira, cuja administração ameaçou não pagar os prémios de assiduidade a quem fizesse greve. Contudo, não conseguiu evitar a extraordinária adesão de 79 por cento.

Prepotência, injúrias e até emprego de violência foram também armas usadas pelo patronato e seus lacaios para tentar demover os piquetes. Na Kemet, multinacional norte-americana de electrónica instalada em Évora, a directora de recursos humanos exigiu verbalmente a retirada dos membros do piquete. Estes não cederam.

Em Guimarães, registaram-se pelo menos dois episódios de repressão policial contra piquetes de greve. Pelas 13.45 horas, agentes munidos de bastões ocuparam a entrada da empresa Pizarro e afastaram à força os trabalhadores. Algo semelhante teve lugar na AMTROL ALFA.

No Algarve, os responsáveis da cadeia de supermercados Pingo Doce, em Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António, chamaram a GNR para intimidar o piquete de greve, tentando silenciar a substituição massiva de grevistas por precários.

E até em pleno centro da capital do País, na Brasileira do Chiado, a Polícia tentou sabotar a acção de vigilância dos grevistas, exigindo-lhes abusivamente a identificação.

Ainda em Lisboa, no Hotel Sheraton, a administração impediu ostensivamente a entrada do piquete de greve, procurando esconder a vergonhosa e ilegal substituição de grevistas por 30 trabalhadores «extra», que tinham ficado a dormir no hotel para ocupar o lugar dos que estavam em luta.

Foi também impunemente que os responsáveis do Hospital Amadora/Sintra impediram a entrada do piquete de greve nas instalações. Todos os casos recenseados pelos sindicatos serão comunicados às instâncias judiciais. A greve é um direito, e a lei não admite excepções.

 

Agressão criminosa no Intermarché/Famalicão

A fúria do patrão

 

Pouco passava das 9 horas quando o patrão do Intermarché, Freguesia de Calendário, em Vila Nova de Famalicão, furioso por ver um piquete de greve frente à superfície comercial, pega no jipe e investe a alta velocidade contra o grupo de trabalhadores que pacificamente se encontrava no passeio.

A criminosa manobra colheu duas trabalhadoras, tendo uma delas ficado gravemente ferida já que uma roda da viatura passou-lhe por cima da perna. Ambas foram transportadas para o hospital.

Não satisfeito com a proeza, o condutor saiu da viatura e sacou de uma pistola que apontou aos membros do piquete.

Chamada ao local, a PSP perseguiu o agressor, conseguindo detê-lo e apreender-lhe a arma ilegal de calibre 6.35 mm. No mesmo dia foi presente a tribunal, desconhecendo-se a medida de coacção aplicada. No entanto, segundo as autoridades, o acto prefigura um crime de «ofensa à integridade física qualificado».

Em comunicado, a concelhia de Famalicão do PCP qualificou o incidente como um grave atentado ao direito de greve, notando que os trabalhadores deste supermercado estão em luta há vários meses pelo pagamento de salários e subsídios em atraso. Não surpreende pois que a adesão à greve tenha sido de cerca de 90 por cento.


Prepotência policial


Um GNR à paisana agrediu um membro do piquete de greve à porta da empresa Amorim Revestimentos, em Santa Maria da Feira. O incidente começou por volta das 12.30 horas quando o indivíduo tentou entrar nas instalações totalmente paralisadas pela greve, supostamente para ir buscar sucata para um negócio pessoal, segundo Alírio Martins, dirigente do Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte.

Desagradado com as explicações do piquete, começou a fotografar os seus membros procurando intimidá-los, mas estes responderam da mesma forma, fotografando-o, o que enfureceu o GNR. Dos insultos passou à agressão e esmurrou brutalmente um trabalhador.

Já depois de o GNR ter abandonado o local, surgiu uma viatura blindada com uma equipa das forças de intervenção, sem que houvesse qualquer razão justificável para a sua presença.



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