Cidade da Juventude

«Tomemos nas nossas mãos os destinos das nossas vidas»

Gustavo Carneiro

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Que a vida não está fácil para as novas gerações é coisa sabida e, nesta edição do Avante! em que se fala da Festa, poderá nem valer a pena gastar muitas linhas a referir a elevada taxa de desemprego jovem ou a precariedade que é cada vez mais a regra nos locais de trabalho, e que atinge de forma particularmente aguda os mais novos. Nem ocupar muito mais espaço a reafirmar que a educação está cada vez mais elitizada ou a lembrar que ter uma casa e uma vida independente é, para muitos jovens portugueses, um sonho distante.

Mas estas realidades estiveram presentes na Festa do Avante!, nomeadamente na Cidade da Juventude – na exposição, na decoração, nos debates e sobretudo nas vidas dos milhares de jovens que por ali passaram ao longo dos três dias. O que por ali não passou foi a resignação e o conformismo em que todos os dias tentam enredar os jovens, dizendo-lhes que assim é porque assim tem que ser e que nada há a fazer. Na Cidade da Juventude, como por toda a Festa, a mensagem foi outra, oposta: só a luta pode transformar a vida, cabendo a todos e cada um, com a sua participação, um papel destacado na construção do futuro que é de todos.

Numa das paredes centrais da Cidade da Juventude, podia ler-se, em grandes letras brancas, um apelo: «Tomemos nas nossas mãos os destinos das nossas vidas.» Os militantes e amigos da JCP, que tomaram nas suas próprias mãos a concepção, construção, conteúdo e funcionamento da Cidade da Juventude, mostram uma vez mais que, tendo oportunidades, os jovens são capazes de realizar coisas extraordinárias. Na Festa, sim, mas seguramente também em todas as outras áreas da vida.

E é também por isto que a JCP pode afirmar – como o fazia numa das entradas da sua Cidade na Festa do Avante! – que é a «organização revolucionária da juventude». Não apenas pelo seu objectivo de construção do socialismo e do comunismo como também pela forma exemplar como mobiliza e potencia a criatividade, a entrega, a paixão dos jovens que a integram.

 

Tomar partido

 

Por toda a Cidade da Juventude estavam presentes as principais exigências da juventude portuguesa – as mesmas que pontificavam em cartazes e faixas no desfile para o comício de domingo: «queremos trabalho, exigimos direitos», «pública e gratuita, a educação a que temos direito», «mais financiamento para o ensino superior» ou «avaliação contínua e justa para todos».

Na exposição política lembrava-se que estas exigências foram expressas nas ruas em várias acções de protesto e luta dos estudantes dos ensinos básico e secundário, profissional e superior e dos jovens trabalhadores: 24 de Março e 1 de Abril foram expressões particularmente pungentes dessas lutas, que prosseguiram desde então e que, pelo que se viu da entusiástica participação juvenil na Festa, continuarão num futuro próximo. Ainda mais fortes. Provando que, como se afirmava também na Cidade da Juventude numa outra inscrição, a «juventude resiste e toma Partido».

Foi ainda de direitos – dos que há para defender e dos que há para conquistar – que se falou no primeiro dos debates realizados no Espaço Multiusos da Cidade da Juventude, dedicado aos 35 anos da Constituição da República. Ana Sofia Correia, da direcção da JCP, e Inês Carvalho, jurista e militante do PCP, lembraram os inúmeros direitos que a Lei Fundamental do País consagra – um dos quais, o 70.º, garante que os jovens «gozam de protecção especial para efectivação dos seus direitos económicos, sociais, e culturais», nomeadamente no «ensino, na formação profissional e na cultura; no acesso ao primeiro emprego, no trabalho e na segurança social; no acesso à habitação; na educação física e no desporto; no aproveitamento dos tempos livres».

E uma vez mais falar de direitos foi falar de luta. Como lembrou Inês Carvalho, a Constituição não nasceu das mentes mais ou menos brilhantes dos deputados que a redigiram mas da luta que se travou nas ruas desde a Revolução de Abril e que abriu caminho à conquista de direitos políticos, económicos, sociais e culturais que a Constituição consagrou. Da mesma forma que hoje é a luta que contará, uma vez mais,

 

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90 anos e todo o futuro

O segundo debate que teve lugar na Cidade da Juventude evocou a luta dos jovens comunistas portugueses, iniciada, como a do próprio Partido, em 1921. É deste ano a fundação das Juventudes Comunistas, primeira organização juvenil do PCP.

Daí para cá foram muitas as formas de organização dos jovens comunistas: a Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (onde se formaram muitos dos históricos dirigentes do PCP, entre os quais Álvaro Cunhal); o MUD Juvenil, organização unitária da juventude democrática na qual os comunistas desempenhavam um papel decisivo; a União dos Estudantes Comunistas, criada no início da década de 70 do século passado; a União dos Jovens Comunistas, formada já a seguir ao 25 de Abril a partir do Movimento da Juventude Trabalhadora. E, desde 1979, a Juventude Comunista Portuguesa, resultando da unificação da UEC e da UJC.

Em várias fases da luta do Partido na clandestinidade não houve organizações juvenil comunistas, mas nem por isso os jovens tiveram um papel menos activo no combate que o PCP travou contra o fascismo, pela liberdade, a democracia e o socialismo.

Relembrando aspectos relevantes desta já longa história, o dirigente da JCP Diogo D'Ávila salientou a dedicação e combatividade dos jovens comunistas ao longo de todas estas décadas e o futuro que têm pela frente. Os tempos que aí vêm não serão fáceis e serão duros os combates que haverá para travar. Mas uma coisa é certa: em todos eles estarão os jovens comunistas, com a alegria e determinação que demonstram desde há 90 anos.


Assembleia da FMJD em Lisboa
entre 8 e 12 de Novembro

Derrotar o imperialismo

O reforço da Federação Mundial da Juventude Democrática e da luta da juventude contra o imperialismo esteve em debate na Cidade da Juventude ao início da tarde de domingo. A lançar o tema estiveram Tiago Vieira, que representa a JCP na presidência desta estrutura internacional, Carina Castro, do Secretariado da Direcção Nacional da JCP, e um representante da EDON, de Chipre. Entre as dezenas de jovens que assistiam estavam dirigentes de organizações juvenis de vários países.

Depois de Carina Castro informar que se realiza em Lisboa, entre 8 e 12 de Novembro, a assembleia da FMJD, Tiago Vieira destacou a importância do evento para o reforço da unidade e da coesão da juventude anti-imperialista de todo o mundo. As mais de 150 organizações de mais de cem países que integram a FMJD têm muitas diferenças entre si, salientou o também membro do Comité Central do PCP, mas o que ressalta é a convergência em torno de questões concretas como a defesa dos direitos da juventude e a rejeição do imperialismo e da guerra. «Todas as organizações concordam que a luta é o caminho», valorizou Tiago Vieira.

O jovem cipriota lembrou que a EDON foi uma das organizações fundadoras da FMJD e fez uma breve história da situação actual de Chipre: metade do território está ocupada pela Turquia desde 1974 (numa operação preparada pela NATO) e actualmente um comunista ocupa a presidência da república do país.

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Cultura para todos

Aquilo que cada vez mais está se não vedado pelo menos dificultado à generalidade dos jovens portugueses – o acesso à cultura – é, na Cidade da Juventude (como aliás na Festa do Avante!), um dado adquirido. No Espaço Multiusos, mas sobretudo no Palco Novos Valores, os jovens têm oportunidade de mostrar a sua música a um público cada vez mais numeroso. Passando pelo Palco Novos Valores em alguns dos concertos ninguém diria tratar-se da actuação de bandas jovens e desconhecidas, tal a afluência e entusiasmo demonstrados pelo público da Festa.

Para além de três bandas convidadas – Bless de Oggs, Barafunda Total e Projecto Moka Moka – actuaram no Palco Novos Valores, depois de apuradas em vários festivais concelhios e regionais, as seguintes bandas: Spittah, Bute & Farra, God Bless Jack, Brainscape, An X Tasy, Basic Black, Not whitout Fighting, Quarteto de bolso. Aos leitores sugere-se que fixem estes nomes. Quem sabe um dia não serão valores firmes e seguros do panorama musical português.



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