Espaço Ciência

A química que nos transforma

Miguel inácio

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Com o lema «Quí­mica - a nossa vida, o nosso fu­turo», a As­sem­bleia-Geral das Na­ções Unidas pro­clamou 2011 como o Ano In­ter­na­ci­onal da Quí­mica, vi­sando ce­le­brar as suas con­tri­bui­ções para o bem estar da hu­ma­ni­dade. A Festa do Avante! foi mais longe e, no Es­paço da Ci­ência, local por onde pas­saram muitos mi­lhares de pes­soas, abriram-se pers­pec­tivas, fun­da­men­tais para a com­pre­ensão do mundo e do cosmos.

«Contra os que não acre­ditam que todo o mundo é com­posto de mu­dança, contra os que não acre­ditam que tudo se trans­forma, nós, co­mu­nistas, con­tra­ri­amos a his­tória. Porque somos a van­guarda da Re­vo­lução, a van­guarda da luta dos ex­plo­rados contra os ex­plo­ra­dores, porque trans­for­mamos o mundo com a nossa força que nos vem do tra­balho, do tra­balho que tudo trans­forma», lia-se, à en­trada da ex­po­sição, en­quanto ou­tros apre­ci­avam uma es­cul­tura, de grande di­mensão, que cha­mava à atenção para os ele­mentos bá­sicos da quí­mica (átomos e mo­lé­culas).

«É também a luta pela trans­for­mação do mundo que está sim­bo­li­zada na nossa ban­deira. A união da foice e do mar­telo, dos cam­po­neses e dos ope­rá­rios, a união de todos os ex­plo­rados do mundo re­pre­sen­tada pela es­trela de cinco pontas do in­ter­na­ci­o­na­lismo pro­le­tário. E po­demos sempre dizer que a quí­mica que somos, que a quí­mica que nos trans­forma, está por trás da es­pe­rança trans­for­ma­dora cons­truída de anos de luta contra a in­jus­tiça e opressão», pros­segue o texto, acom­pa­nhado pela for­mula mais evi­dente de todos os tempos: «(PS+PSD+CDS)3 = troika», se­guida da res­posta, cada vez mais ne­ces­sária: «A luta tudo trans­forma», lema es­co­lhido, que imana da frase de La­voi­sier («Na na­tu­reza nada se cria, nada se perde, tudo se trans­forma») e pro­cura, sin­te­ti­ca­mente, tra­duzir o pen­sa­mento re­vo­lu­ci­o­nário de que a luta é o motor da his­tória.

Lá dentro, num es­paço de­di­cado ao co­nhe­ci­mento, a ex­po­sição re­trac­tava como era a quí­mica ainda antes de o ser, ou seja a al­quimia, mos­trando, por exemplo, quem foram «os pri­meiros quí­micos» e como se pro­ces­savam os pro­cessos de «des­ti­lação, mi­ne­ração e re­fi­nação».

 Con­ti­nu­ando, de­pa­ramo-nos com os «prin­cí­pios e ideais do ilu­mi­nismo», que fi­zeram avançar a «va­lo­ri­zação da ci­ência», e onde se abor­davam os pen­sa­mentos de La­voi­sier, An­tónio Au­gusto de Aguiar, Marie Currie (me­re­ce­dora de um Nobel da Quí­mica, em 1911, pela sua des­co­berta dos ele­mentos quí­micos: rádio e po­lónio), assim como «a nova te­oria ató­mica» ou o que sig­ni­fica os termos ADN (ácido de­so­xir­ri­bo­nu­cleico) ou ARN (ácido ri­bo­nu­cleico). Foram ainda «ho­me­na­ge­ados», pelas suas con­tri­bui­ções, fi­ló­sofos e ci­en­tistas, como Tales de Mi­leto, Roger Bacon, Le­o­nardo da Vinci, Pa­ra­celso, Gi­or­dano Bruno, Roger Boyle Ge­orge Er­nest.

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Neste es­paço, em des­taque es­ti­veram ainda, entre ou­tros, John Dalton, Amedeo Avo­gadro e Di­mitri Men­de­leev, um dos mai­ores gé­nios da quí­mica, que con­tri­buiu para a clas­si­fi­cação pe­rió­dica dos ele­mentos, cri­ando uma ta­bela na qual os mesmos eram dis­postos em filas ho­ri­zon­tais, de acordo com as massas ató­micas cres­centes, e co­lunas ver­ti­cais, com ele­mentos de pro­pri­e­dades se­me­lhantes. Entre os mai­ores, va­lo­ri­zaram-se ainda as des­co­bertas de Er­nest Ruther­ford, Niels Bohr, Erwin Schrö­dinger, Francis Crick, James Watson, Ro­sa­lind Fran­klin e Mau­rice Wilkes.

De fácil lei­tura, com al­guns po­emas à mis­tura, os vi­si­tantes ti­veram ainda a opor­tu­ni­dade de per­ceber a im­por­tância da quí­mica no dia-a-dia, nos ali­mentos, nos me­di­ca­mentos, na energia e no am­bi­ente, entre a paz e a guerra, e de «ab­sorver» al­gumas das pro­postas do PCP nesta área da ci­ência.

Para as cri­anças havia uma área onde se po­diam fazer pin­turas com «tinta in­vi­sível», entre ou­tras ac­ti­vi­dades, e para os mais cu­ri­osos muitas ex­pe­ri­ên­cias, como por exemplo as «lâm­padas de luz ul­tra­vi­o­leta, ma­te­riais lu­mi­nes­centes», onde se ex­plorou, para es­panto de todos, os fe­nó­menos da flu­res­cência e fos­fe­rência, bas­tante con­fun­didas pelo pú­blico, mas que tem ori­gens muito di­fe­rentes. A flu­res­cência cor­res­ponde à ca­pa­ci­dade de uma subs­tância ab­sorver luz ul­tra­vi­o­leta e emitir luz vi­sível, num pro­cesso quase ins­tan­tâneo. A fos­fe­rência cor­res­ponde à ab­sorção de luz e emissão lenta. Um fe­nó­meno res­pon­sável por al­guns si­nais de emer­gência bri­lhantes no es­curo.

Entre muitas ou­tras ex­pe­ri­men­ta­ções – em co­la­bo­ração de pro­fes­sores e alunos das fa­cul­dades de Ci­ên­cias de Coimbra e de Lisboa, da Fa­cul­dade de Ci­ên­cias e Tec­no­logia da Uni­ver­si­dade Nova de Lisboa, do Nú­cleo de Fí­sica do Ins­ti­tuto Su­pe­rior Téc­nico e do Centro de Ci­ência Viva de Cons­tância - tes­tava-se ainda a «es­pá­tula de di­la­tação», a «im­plosão de latas» e a «cé­lula de hi­dro­génio».

No Au­di­tório do Es­paço Ci­ência ti­veram lugar, du­rante os três dias, pa­les­tras e de­bates sobre «A his­tória quí­mica de uma vela», «Viva com a quí­mica!», a «Quí­mica no uni­verso», ini­ci­a­tivas para «Co­me­morar o Ano In­ter­na­ci­onal da Quí­mica e o Cen­te­nário da Fun­dação da So­ci­e­dade Por­tu­guesa de Quí­mica».

   

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Lá­grima de Preta

En­con­trei uma preta

que es­tava a chorar,

pedi-lhe uma lá­grima

para ana­lisar.

 

Re­colhi a lá­grima

com todo o cui­dado

num tubo de en­saio

bem es­ter­li­zado.

 

Olhei-a de um lado,

do outro e de frente:

tinha um ar de gota

muito trans­pa­rente.

 

Mandei vir os ácidos,

as bases e os sais,

as drogas usadas

em casos que tais.

 

En­saiei a frio,

ex­pe­ri­mentei ao lume,

de todas as vezes

deu-me o que é cos­tume:

 

nem si­nais de negro

nem ves­tí­gios de ódio.

Água (quase tudo)

e clo­reto de sódio.

 

An­tónio Ge­deão


 Rosa de Hi­roshima

 Pensem nas cri­anças

Mudas te­le­pá­ticas

Pensem nas me­ninas

Cegas ine­xactas

Pensem nas mu­lheres

Rotas al­te­radas

Pensem nas fe­ridas

Como rosas cá­lidas

Mas, oh, não se es­queçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hi­roshima

A rosa he­re­di­tária

A rosa ra­di­o­ac­tiva

Es­tú­pida e in­vá­lida

A rosa com cir­rose

A anti-rosa ató­mica

Sem cor sem per­fume

Sem rosa, sem nada

 

Vi­ni­cius de Mo­raes




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