PCP rejeita de forma total o Orçamento do Estado para 2012

Máxima exploração e empobrecimento

A mai­oria go­ver­na­mental PSD-CDS/​PP, con­tando com a abs­tenção do PS, aprovou na ge­ne­ra­li­dade, sexta-feira pas­sada, o Or­ça­mento do Es­tado para 2012, peça fun­da­mental do pacto de agressão e da sua po­lí­tica de má­xima ex­plo­ração do ca­pital sobre o tra­balho.

Este OE é filho do pacto de agressão

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Para o PCP, que votou contra (PEV e BE fi­zeram o mesmo), com este pacto, esta po­lí­tica e este OE, ine­vi­ta­vel­mente, o País fi­cará mais pobre, mais in­justo, mais de­pen­dente.

A re­jeição deste ca­minho afi­gura-se, por isso, como o ver­da­deiro «de­sígnio na­ci­onal» que está co­lo­cado aos tra­ba­lha­dores e ao povo, como su­bli­nhou o Se­cre­tário-geral do PCP.

Essa é, de facto, a grande questão que emerge com pre­mência dos dois dias de dis­cussão em torno de uma pro­posta de or­ça­mento que, apro­fun­dando a po­lí­tica de di­reita, co­loca como ob­jec­tivo cen­tral o au­mento da ex­plo­ração de quem tra­balha.

«Cortar nos di­reitos, nos sa­lá­rios, nos sub­sí­dios, nos fe­ri­ados, na com­pen­sação das horas ex­tra­or­di­ná­rias, nas in­dem­ni­za­ções por des­pe­di­mento, nos apoios so­ciais», ao mesmo tempo que reduz pen­sões e re­formas», sin­te­tizou no pri­meiro de dois dias de de­bate Je­ró­nimo de Sousa, mos­trando como esta «ver­dade nua e crua» que põe os tra­ba­lha­dores e ca­madas so­ciais a «san­grar em vida» con­trasta de forma cho­cante com os sempre in­to­cá­veis pri­vi­lé­gios do ca­pital fi­nan­ceiro, dos grupos eco­nó­micos e dos de­ten­tores das grandes for­tunas, os quais, quanto muito, são abran­gidos por «me­didas que não passam de có­cegas».

 

Andar para trás

 

Foi esta gri­tante e cruel du­a­li­dade – in­trín­seca à po­lí­tica de di­reita e sua ma­triz es­sen­cial – que a ban­cada co­mu­nista trouxe para o centro de um de­bate no de­curso do qual, também por sua ini­ci­a­tiva, ficou de­mons­trada a au­sência de qual­quer pers­pec­tiva de de­sen­vol­vi­mento eco­nó­mico do País por parte do Go­verno.

E este foi sem dú­vida outro traço forte a marcar o de­bate do OE para o pró­ximo ano, com pro­cesso a de­correr nas co­mis­sões desde se­gunda-feira em sede de es­pe­ci­a­li­dade, de onde sairá para ser sub­me­tido nos dias 28, 29 e 30 a de­bate e vo­tação final global, con­jun­ta­mente com as Grandes Op­ções do Plano.

O pró­prio pri­meiro-mi­nistro, aliás, como sa­li­entou o líder par­la­mentar do PCP, deu provas de que o OE «passa ao lado da ne­ces­si­dade de uma po­lí­tica de cres­ci­mento eco­nó­mico e que o pacto de agressão é uma ver­da­deira ne­gação desse cres­ci­mento».

Com efeito, in­ter­pe­lado pelo de­pu­tado co­mu­nista Agos­tinho Lopes, Passos Co­elho foi ta­xa­tivo na ex­pli­cação de que nem um cên­timo dos 12 mil mi­lhões que o Go­verno des­tina ao sector fi­nan­ceiro pode ir para a Caixa Geral de De­pó­sitos e, por essa via, apoiar as pe­quenas e mé­dias em­presas.

O que levou Ber­nar­dino So­ares a con­cluir que a su­posta «ajuda» in­ter­na­ci­onal não é para fi­nan­ciar a eco­nomia mas sim para «en­cher os bolsos à banca». «Os di­nheiros sobre os quais o Es­tado vai su­portar mi­lhares de mi­lhões de euros de juros só podem ir para os bancos pri­vados, en­quanto o banco pú­blico terá de se re­ca­pi­ta­lizar ven­dendo o sector se­gu­rador e ou­tros ac­tivos», ver­berou, na recta final dos tra­ba­lhos, o pre­si­dente da for­mação co­mu­nista.

 

Es­bulho co­lossal

 

Os 78 mil mi­lhões que foram de modo ar­di­loso trans­for­mados numa «ajuda amiga» sal­taram de resto em vá­rias oca­siões para o centro do de­bate pela voz dos de­pu­tados co­mu­nistas, que pu­seram so­bre­tudo o acento tó­nico no facto de se saber agora que essa pres­ti­mosa «ajuda» vai afinal ser co­brada com 35 mil mi­lhões de euros de juros e co­mis­sões.

«Como é que vamos pagar? Como é pos­sível pagar estes en­cargos bru­tais?», foi a per­gunta lan­çada por Je­ró­nimo de Sousa, re­to­mada por ou­tros de­pu­tados do PCP, sem que ti­vesse ob­tido res­posta nem da parte do Go­verno nem das ban­cadas da mai­oria par­la­mentar que o su­portam.

É que, do ponto de vista do PCP, com este pacto de agressão, «não ha­verá di­nheiro para pagar no fu­turo», porque «não vai haver cri­ação de ri­queza», «não vai haver eco­nomia». Por ou­tras pa­la­vras, «sem eco­nomia, sem cres­ci­mento eco­nó­mico, sem criar mais ri­queza, não há di­nheiro para pagar as dí­vidas».

 

Per­sistir no erro

 

A ine­xis­tência de uma po­lí­tica de cres­ci­mento eco­nó­mico res­sal­tara ainda de modo evi­dente das in­ter­ven­ções do mi­nistro da Eco­nomia (fi­gura de­fi­nida por Ber­nar­dino So­ares como «uma se­quela do an­te­rior mi­nistro Ma­nuel Pinho», que pro­fessa «exac­ta­mente a mesma po­lí­tica»), fi­cando igual­mente ex­posta a partir das po­si­ções as­su­midas pela ban­cada la­ranja. Foi o caso da sua de­pu­tada Nilza de Sena que, em res­posta ao de­pu­tado co­mu­nista João Oli­veira, afirmou preto no branco não ser o cres­ci­mento eco­nó­mico a questão cen­tral que está co­lo­cada no mo­mento ac­tual mas sim a es­ta­bi­li­zação fi­nan­ceira e a con­so­li­dação or­ça­mental.

«En­gana-se, se­nhora de­pu­tada. O cres­ci­mento eco­nó­mico e o com­bate ao de­sem­prego são mesmo as ques­tões cen­trais que se co­locam ao País», cor­rigiu o pre­si­dente da for­mação co­mu­nista.

Isto no dia em que a Co­missão Eu­ro­peia di­vulgou pro­jec­ções que es­timam uma re­cessão de três por cento em Por­tugal para 2012, contra os 2,8 por cento es­ti­mado no OE, o que faz es­bo­roar o ce­nário macro eco­nó­mico do Go­verno, ao mesmo tempo que deixa igual­mente a de­sejar as pers­pec­tivas re­la­tivas às ex­por­ta­ções, face aos ventos de re­tracção vindos da zona euro e do outro lado do Atlân­tico

 

Ali­mentar pa­ra­sitas

 

A reter deste de­bate sobre as contas do Es­tado para 2012, do­cu­mento que Passos Co­elho ca­rac­te­rizou como «re­a­lista, ro­busto, equi­li­brado», fica, por outro lado, a au­sência de qual­quer outra pers­pec­tiva para su­perar blo­queios e cons­tran­gi­mentos que não seja a cos­tu­meira e es­ta­fada re­ceita das pri­va­ti­za­ções e da atracção do in­ves­ti­mento es­tran­geiro. Nela se fixou de modo férreo o mi­nistro das Fi­nanças. «O de­safio que se co­loca a Por­tugal é o da com­pe­ti­ti­vi­dade. É cru­cial atrair in­ves­ti­mento es­tran­geiro e as pri­va­ti­za­ções são um teste im­por­tante dessa ca­pa­ci­dade e com­pe­ti­ti­vi­dade», pro­clamou, ca­te­gó­rico, Victor Gaspar, de­sa­fiado pelo de­pu­tado co­mu­nista Paulo Sá.

O pior é que o in­ves­ti­mento, como a ex­pe­ri­ência mostra, não traz a de­se­jável e ne­ces­sária «ino­vação tec­no­ló­gica e in­cor­po­ração de pro­dução na­ci­onal». Pelo con­trário, como ob­servou Ber­nar­dino So­ares, o que a re­a­li­dade nos diz é que se trata de «in­ves­ti­mento pa­ra­sita que vem apro­veitar as pri­va­ti­za­ções em saldo e com­prar em­presas com po­si­ções mo­no­po­listas ou com mer­cados ga­ran­tidos, le­vando para fora a ri­queza e nada dei­xando em troca para o nosso País».

 

Ca­ri­da­de­zinha

 

Num de­bate onde o CDS deixou cair toda e qual­quer re­fe­rência às PME, à agri­cul­tura e muito menos ao con­tri­buinte e à carga fiscal, des­mas­ca­rada pela ban­cada co­mu­nista – e este foi outro ponto sa­li­ente do de­bate – foi também o dis­curso fa­riseu da ca­ri­dade.

«O Go­verno cria o de­sem­prego, a po­breza e a mi­séria em larga es­cala e de­pois finge com­pensar com o as­sis­ten­ci­a­lismo do cha­mado pro­grama de emer­gência so­cial. Tira aos por­tu­gueses 2000 mi­lhões de euros em pen­sões e pres­ta­ções so­ciais e põe dez vezes menos – 200 mi­lhões – neste pro­grama», de­nun­ciou o pre­si­dente do Grupo Par­la­mentar do PCP.

Esta foi uma tecla muito ba­tida ao longo do de­bate pelos de­pu­tados co­mu­nistas, que pu­seram a nu a su­prema hi­po­crisia de um dis­curso que ao mesmo tempo que fala de apoio às fa­mí­lias corta ainda mais no abono de fa­mília, con­gela pen­sões mí­nimas, au­menta os me­di­ca­mentos, agrava as taxas mo­de­ra­doras, in­fer­niza a vida dos por­tu­gueses com au­mentos na elec­tri­ci­dade, nos trans­portes pú­blicos, no IVA em bens es­sen­ciais.

 

Re­ne­go­ci­ação da dí­vida

 

Rei­te­rada pela ban­cada co­mu­nista, pe­rante um pacto que é «ao mesmo tempo ina­cei­tável e in­cum­prível» – «ina­cei­tável porque a sua apli­cação sig­ni­fica a des­truição eco­nó­mica e so­cial do País e um brutal au­mento das de­si­gual­dade e da ex­plo­ração; in­cum­prível porque com esta po­lí­tica não será pos­sível nem cor­rigir o dé­fice nem pagar a dí­vida», afirmou o líder par­la­mentar co­mu­nista –, foi a exi­gência de re­ne­go­ci­ação da dí­vida, que o PCP con­si­dera «ine­vi­tável», su­bli­nhando, a pro­pó­sito, que quanto mais tempo passar, em «pi­ores con­di­ções» aquela ocor­rerá.



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