A maior de sempre

Confiança redobra

A greve foi um êxito em todas as suas di­men­sões

A CGTP-IN clas­si­ficou a jor­nada de 24 de No­vembro como «a maior greve geral de sempre, dos sec­tores pú­blico e pri­vado». O atri­buto, ins­crito numa pri­meira sau­dação que foi pu­bli­cada no sítio www.gre­ve­geral.net, com um ex­certo da co­mu­ni­cação de Car­valho da Silva na pri­meira con­fe­rência de im­prensa, cerca das 13 horas, voltou a ser re­pe­tido ao longo do dia e foi vá­rias vezes con­fir­mado com afir­ma­ções de di­ri­gentes que co­lo­cavam os ín­dices de adesão, em di­versos sec­tores e re­giões, cla­ra­mente acima dos ve­ri­fi­cados na greve geral de 2010.

Ao final da tarde, na sau­dação apro­vada na ma­ni­fes­tação frente ao Par­la­mento, ficou su­bli­nhado que «pela enorme adesão ve­ri­fi­cada nos lo­cais de tra­balho do sector pri­vado e do sector pú­blico e pelo apoio ex­presso ao nível da opi­nião pú­blica, esta é uma ex­tra­or­di­nária greve geral, que fi­cará desde já as­si­na­lada como um marco no­tável da luta dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses em de­fesa dos seus di­reitos e in­te­resses, pela va­lo­ri­zação do tra­balho e dig­ni­fi­cação dos tra­ba­lha­dores, pela cons­trução do fu­turo com di­reitos para as novas ge­ra­ções, pela de­fesa do au­mento do sector pro­du­tivo, pela de­fesa da de­mo­cracia e sal­va­guarda da so­be­rania na­ci­onal».

Aí se re­alçou que a luta es­tava a ser «um êxito em todas as suas di­men­sões, apesar das chan­ta­gens e ar­bi­tra­ri­e­dades pra­ti­cadas pelas en­ti­dades pa­tro­nais e de o Go­verno re­correr a meios ile­gais para im­pedir o seu exer­cício». A greve geral ob­teve «ade­sões ex­cep­ci­o­nais em todo o País, seja no Con­ti­nente seja nas Re­giões Au­tó­nomas», abar­cando «todos os sec­tores da ad­mi­nis­tração pú­blica cen­tral, re­gi­onal e local e a ge­ne­ra­li­dade das ac­ti­vi­dades do sector pri­vado», e «é trans­versal a ho­mens e mu­lheres, aos jo­vens, aos tra­ba­lha­dores com vín­culo efec­tivo e com vín­culo pre­cário».

Lem­brando que «são graves os efeitos das po­lí­ticas que pesam sobre os tra­ba­lha­dores, o povo e o País», a pri­meira apre­ci­ação co­lec­tiva da greve geral con­trapõe que «temos con­fi­ança» e que esta «é re­for­çada com a afir­mação de uni­dade e so­li­da­ri­e­dade de­mons­trada neste dia de luta», em que ficou com­pro­vado que «com co­ragem, fir­meza e de­ter­mi­nação, é pos­sível abrir um novo ca­minho, que ga­ranta uma vida me­lhor aos tra­ba­lha­dores e ao povo».

Por ob­jec­tivos que «são de todos e para todos», e com este pres­su­posto a CGTP-IN «rei­tera aos tra­ba­lha­dores e tra­ba­lha­doras, ao povo por­tu­guês, a sua de­ter­mi­nação de pros­se­guir a luta sem tré­guas», enun­ci­ando as ra­zões para tal:

- contra o au­mento do ho­rário de tra­balho e o tra­balho for­çado;

- contra a sub­versão da Cons­ti­tuição, através de pro­postas que visam le­gi­timar os des­pe­di­mentos sem justa causa;

- contra a re­dução das in­dem­ni­za­ções por des­pe­di­mento, que visa a sua eli­mi­nação;

- contra a di­mi­nuição do sub­sídio de de­sem­prego e a es­tig­ma­ti­zação dos de­sem­pre­gados;

- contra o ataque à con­tra­tação co­lec­tiva, en­quanto ins­tru­mento de de­sen­vol­vi­mento e pro­gresso so­cial;

- contra a re­dução brutal do poder de compra das fa­mí­lias, o roubo dos sub­sí­dios de Natal e de fé­rias e «todas as me­didas, pre­sentes ou fu­turas, que po­nham em causa di­reitos e ga­ran­tias dos tra­ba­lha­dores e do povo».

 

Ob­ser­va­ções per­ti­nentes


Nas de­cla­ra­ções pres­tadas du­rante a jor­nada, quer em vi­sitas a pi­quetes, quer nas duas con­fe­rên­cias de im­prensa em que par­ti­cipou, o Se­cre­tário-geral da CGTP-IN chamou a atenção para al­gumas si­tu­a­ções, cuja ob­ser­vação acen­tuava os justos mo­tivos da con­vo­cação da greve geral.

Viu-se, um pouco por todo o País, re­feriu Car­valho da Silva, que mesmo os poucos trans­portes co­lec­tivos que es­ti­veram em cir­cu­lação, le­vavam muito poucos pas­sa­geiros, re­ve­lando assim que grande parte dos por­tu­gueses não saiu para o tra­balho normal.

Contra o au­mento do ho­rário de tra­balho, as formas de luta que os tra­ba­lha­dores ve­nham a de­cidir terão, de cer­teza, mais sus­ten­tação legal do que a po­sição do Go­verno, que vem aplicar uma es­pécie de re­gime de tra­balho for­çado.

O corte dos sa­lá­rios abrange o sector pú­blico e o sector pri­vado, mas é feito pro­cu­rando sempre a di­fe­rença entre ambos, para assim puxar para baixo ora um, ora outro.

O Go­verno e a CIP de­ve­riam en­tender-se nas contas da adesão à greve geral. Se os ín­dices foram tão baixos como afir­maram e, ao mesmo tempo, os pre­juízos forem tão ele­vados como também apon­taram, o valor do PIB por­tu­guês seria uma coisa es­pan­tosa.

Quando fala nos pre­juízos cau­sados pela greve, a CIP de­veria fazer contas a ou­tros pre­juízos e também às res­pec­tivas res­pon­sa­bi­li­dades: os fundos co­mu­ni­tá­rios que foram ca­na­li­zados para coisas ver­go­nhosas e não para o de­sen­vol­vi­mento do País; os ne­gó­cios e ac­ti­vi­dades de burla, de mi­lhares de mi­lhões de euros, que foram trans­fe­ridos para o Or­ça­mento do Es­tado; o des­ca­labro das par­ce­rias pú­blico-pri­vadas, as quais deram e con­ti­nuam a dar mi­lhares de mi­lhões de euros a al­guns grupos pri­vados.

No pró­prio dia 24, uma agência de ra­ting tomou duas po­si­ções: louvou o de­sem­penho do Go­verno por­tu­guês e baixou a no­tação do País. Isto é a prova de que os sa­cri­fí­cios são apenas para pagar aos cre­dores e aos agi­otas que nos ex­ploram.

Foram im­postos ser­viços mí­nimos até nas li­nhas fer­ro­viá­rias que o Go­verno pre­tende en­cerrar. Ou seja, o Go­verno pre­tende li­quidá-las de vez, como ne­ces­si­dade normal, mas no dia da greve geral en­tende que elas sa­tis­fazem ne­ces­si­dades so­ciais im­pre­te­rí­veis.

 

A força da luta que con­ti­nuará

 

A forte adesão à greve geral sentiu-se du­rante todo o pé­riplo que uma de­le­gação da di­recção da CGTP-IN, com o seu Se­cre­tário-geral, Ma­nuel Car­valho da Silva e ou­tros mem­bros da Co­missão Exe­cu­tiva do Con­selho Na­ci­onal, efec­tuou por vá­rias em­presas e ser­viços nos dis­tritos de Lisboa e de Se­túbal. A ronda co­meçou pouco de­pois das 20 horas, de dia 23, no Ae­ro­porto de Lisboa, e pros­se­guiu na re­colha de re­sí­duos só­lidos da CML, nos Oli­vais, pas­sando de­pois pela torre de con­trolo do Porto de Lisboa, em Algés, e pelo Me­tro­po­li­tano de Lisboa, a es­tação da CP no Rossio e o Hos­pital de São José. Foi comum a cons­ta­tação de que as ade­sões foram ou muito sig­ni­fi­ca­tivas ou pra­ti­ca­mente to­tais e sempre bem su­pe­ri­ores às re­gis­tadas na greve geral do ano pas­sado. A partir das seis horas, se­me­lhante ce­nário foi con­fir­mado no ter­minal de Ca­ci­lhas da Trans­tejo, onde a adesão foi total, e à en­trada da fá­brica da Au­to­eu­ropa, em Pal­mela, que teve a pro­dução pa­rada. A de­le­gação sin­dical passou de­pois pela Vis­teon, onde a adesão só não foi total de­vido aos muito baixos sa­lá­rios pra­ti­cados a cerca de cem tra­ba­lha­doras con­tra­tadas à se­mana e onde, co­ra­jo­sa­mente, al­gumas ade­riram «com muito sa­cri­fício», enal­te­cido por Ma­nuel Car­valho da Silva, em de­cla­ra­ções à im­prensa. Se­guiu-se o re­gresso a Lisboa, rumo à Se­gu­rança So­cial, no Are­eiro, onde apenas se apre­sen­taram ao ser­viço uns poucos tra­ba­lha­dores com con­tratos pre­cá­rios. Muito forte ex­pressão da luta foi a de­le­gação re­en­con­trar na sede da Caixa Geral de De­pó­sitos, tendo o per­curso ter­mi­nado di­ante da en­cer­rada Es­cola Se­cun­dária de Passos Ma­nuel, onde também a co­or­de­na­dora da Frente Comum dos Sin­di­catos da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, Ana Avoila, e o Se­cre­tário-geral da Fe­de­ração Na­ci­onal dos Pro­fes­sores, Mário No­gueira, con­fir­maram dados de par­ti­ci­pação muito su­pe­ri­ores aos da greve geral do ano pas­sado.



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