Agrava-se a roubalheira!
O deputado comunista Bruno Dias classificou de «piada de mau gosto» a afirmação do secretário de Estado dos Transportes segundo a qual as medidas recentemente tomadas no capítulo dos transportes públicos visam «defender os interesses dos utentes» e «aumentar a mobilidade».
«Como é que consegue dizer isso sem se rir?», questionou o parlamentar do PCP, logo após Sérgio Monteiro ter protagonizado um autêntico número de propaganda a pretexto do anúncio de alterações no sistema de transportes, incluindo na política tarifária.
O governante resolveu ir mais longe e enveredou mesmo pela provocação – estava-se na véspera da greve dos trabalhadores dos transportes realizada no início deste mês –, disparando em todas as direcções. Na sua diatribe contra a greve, falou dos seus «custos para a economia portuguesa», e chegou a dizer que «as greves põem em causa o serviço público». Nem os utentes, suas comissões, e os legítimos protestos realizados por todo o País escaparam à ira e à insinuação do governante. «Não representam a opinião da generalidade da população» e «não são mais do que extensões de alguns partidos», declarou.
Já sobre as decisões do Governo, adiantou que vão no sentido de «devolver os transportes aos utentes», assegurando que haverá «um aumento da qualidade e da disponibilidade». Contra toda a evidência, negou também qualquer «retirada de serviços».
A contestação não se fez esperar, com as bancadas do PCP, PEV e BE a acusar o secretário de Estado dos Transportes de mentir e de estar ao serviço de uma estratégia de privatização dos transportes públicos, contra os interesses das populações.
«Como é que vem aqui falar de qualidade nos transportes, na sequência do anúncio do encerramento de linhas e carreiras, de cortes de ligações, do recolher obrigatório que quer impor às populações, de um aumento dos preços dos transportes que em 13 meses atinge, nalguns títulos, os 140 por cento?», inquiriu, indignado, o deputado Bruno Dias.
Rejeitou ainda que este aumento dos preços dos transportes – que classificou de «roubalheira» – sirva para «resolver o problema da dívida e o passivo das empresas».
«É o mesmo que dizer que a invasão do Iraque foi para ir buscar as armas de destruição maciça. É uma mentira do tamanho de um comboio», afiançou Bruno Dias, para quem os aumentos servem, sim, «para preparar a entrada dos privados nas empresas».
«É pôr a população a pagar adiantado a factura deste negócio ruinoso para o País e para o Estado mas magnífico para os interesses dos grupos económicos», sustentou, lembrando que o Governo foge sempre quando se trata de explicar como pretende fazer o saneamento dos tais milhares de milhões de euros acumulados com os governos do PS, do PSD e do CDS.