Poderosa afirmação da luta que prossegue
Os trabalhadores estão determinados a não baixar os braços
Os trabalhadores do distrito de Lisboa deram uma poderosa resposta às alterações para pior na legislação laboral – imposição de mais dias de trabalho não pago, desregulamentação de horários e corte nas horas extraordinárias, destruição da contratação colectiva, facilitação e embaratecimento dos despedimentos –, aos cortes nos salários, pensões, subsídio de desemprego e apoios sociais, à destruição dos serviços públicos, ao aumento generalizado do custo de vida e à liquidação dos direitos sociais, económicos e culturais conquistados com Abril.
Construída a pulso pelo movimento sindical unitário, democrático e de classe, que realizou mais de meio milhar de plenários e cerca de dois mil contactos em empresas e locais de trabalho, a greve geral no distrito terminou com uma manifestação, entre o Rossio e a Assembleia da República, onde milhares de trabalhadores garantiram que a luta continua nas empresas e na rua, contra a exploração e o empobrecimento.
Arranque em força
Logo nas primeiras horas do início da paralisação, a adesão da corporação de intervenção especial dos Bombeiros Sapadores de Lisboa (95 por cento), em Chelas, onde se deslocou o secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos, auspiciava uma jornada ao nível da levada a cabo a 24 de Novembro do ano passado.
De facto, e de acordo com dados divulgados pela central sindical e pela União de Sindicatos de Lisboa (USL), no final do dia 21 e no início do dia 22, confirmou-se o encerramento do Metropolitano de Lisboa; do serviço ferroviário nas linhas suburbanas da CP (onde durante todo o período da greve geral só circularam os serviços mínimos decretados ilegalmente, e, não raramente, beneficiando do apoio das forças policiais que violaram a legislação aplicável durante uma greve geral); atestou-se a supressão das carreiras fluviais da Transtejo e Soflusa e a suspensão absoluta da actividade no Porto de Lisboa em resultado da adesão dos estivadores, dos controladores marítimos, dos oficiais de mar e de outros profissionais.
CP Carga e EMEF estiveram igualmente paralisadas do princípio ao fim da jornada, e na esmagadora maioria dos concelhos do distrito de Lisboa a recolha de resíduos sólidos, nos turnos nocturno e diurno, bem como a Valorsul, registaram níveis de adesão mínimos de 70 por cento e, regra geral, na ordem dos 100 por cento, o que se saldou, na prática, na paralisação daqueles serviços em toda a região.
Ainda nas primeiras horas da greve geral, ficou a saber-se que no Aeroporto de Lisboa a greve foi cumprida por 85 por cento dos trabalhadores da SPdH; que os funcionários destacados para os piquetes da EDP em Sintra e Palhavã participavam em peso na luta; que o serviço postal na Central de Cabo Ruivo não tinha condições para funcionar e que na Casa da Moeda quase dois terços dos trabalhadores do turno da noite fizeram o que tinha de ser feito; que nos hospitais Amadora-Sintra, Dona Estefânia, São Francisco Xavier, São José, Capuchos, Santa Cruz, Santa Maria, no INEM e no Instituto de Medicina Legal, a muito forte adesão do pessoal auxiliar, dos administrativos e dos enfermeiros obrigou a que aquelas unidades funcionassem somente em regime de serviços mínimos.
Fortemente afectado, verificou-se posteriormente ao longo do dia 22, foi também o sector do Ensino, com dezenas de escolas e jardins de infância encerrados em todo o distrito; e os serviços da administração central e local, com inúmeras juntas de freguesia, câmaras municipais, ministérios, dependências da Segurança Social, das Finanças e dos Correios, e institutos públicos (como o Instituto de Mobilidade e Transportes Terrestres), ou encerrados ou a funcionarem com constrangimentos.
Coragem confirmada
Mas se a greve geral teve no sector público uma expressão massiva, no sector privado a participação não foi menor, isto apesar das promessas de atribuição de prémios para os furas, como, por exemplo, sucedeu nos casos da Tabaqueira e Sotancro.
Na Cel Cat, em Morelena, Sintra, metade dos trabalhadores do turno da manhã aderiu ao protesto, mas aqui a situação é particular, dado que o pessoal da produção da empresa já se encontrava em greve na primeira hora de cada turno.
Coragem, determinação e consciência demonstraram, por exemplo, os trabalhadores da Centralcer, em Vila Franca de Xira, que na sua maioria aderiram à greve geral paralisando a produção. No mesmo concelho, destacaram-se as participações na jornada por parte dos trabalhadores da Exide/ex-Tudor (77 por cento), da Cavan (100 por cento) e da STEF – Serviço de Distribuição Frigorífica (85 por cento), empresa onde as chefias ocuparam os postos de trabalho dos operários grevistas, denunciou a USL.
Na Cobert-Telhas, em Torres Vedras, Impermol, em Lisboa, Saint Gobain Sekurit, em Loures, na HydroPortalex, em Sintra, e na Fateleva, Vila Franca de Xira, cerca de três quartos dos trabalhadores estiveram com a greve geral em todos ou na maioria dos turnos, conduta verificada, igualmente, no centro de atendimento da Tempo Team (73 por cento), em Odivelas, no qual se trabalha em exclusivo para a EDP.
Nos centros de atendimento do BES e da PT, onde a precariedade impera com brutalidade, atingindo, sobretudo, jovens trabalhadores, foram realizados piquetes à porta. No primeiro caso alguns trabalhadores aderiram mesmo à greve, mostrando que por muito forte que seja a repressão, a intimidação e o medo de ser despedido, há sempre um momento em que se torna impossível recuar mais, e a única opção é avançar para a luta.
Agressões condenadas
Em reunião realizada com o ministro da Administração Interna, segunda-feira, 26, a direcção do Sindicato dos Jornalistas (SJ) reafirmou a sua condenação às brutais agressões policiais de que foram vítimas, entre outros cidadãos, os fotojornalistas Patrícia de Melo Moreira, da AFP, e José Sena Goulão, da Lusa, e reafirmou que as forças de segurança têm a obrigação de garantir o livre exercício do jornalismo.
A Miguel Macedo, o SJ exigiu que todos os responsáveis pela violência desencadeada na tarde do dia 22, no Chiado, em Lisboa, sejam identificados e punidos, e, a propósito da alegada necessidade de identificação permanente dos jornalistas em situações semelhantes – sugerida por altos responsáveis da PSP –, o sindicato lembrou que «cabe aos jornalistas avaliar, em cada circunstância, as vantagens e os inconvenientes da sua identificação permanente, especialmente se esta vier a tornar-se factor de risco para a sua integridade física».
Recorde-se que, no dia da greve geral, Patrícia de Melo Moreira e José Sena Goulão acompanhavam a manifestação convocada por um conjunto heterogéneo de organizações. Sem que nada o justificasse e dispondo de um contingente desproporcionado para a ocasião, segundo os organizadores do protesto e o relato de José Sena Goulão, a polícia interveio com brutalidade a fim de dispersar os participantes.
Mesmo depois de se ter identificado como jornalista, o fotógrafo da Lusa continuou a ser golpeado, testemunhou o próprio.
Estruturas representativas dos trabalhadores de vários órgãos de comunicação social, organizações e personalidades já manifestaram o seu repúdio para com a situação.
Recorde-se, ainda, que já no final de uma das manifestações realizadas no dia da greve geral de 24 de Novembro de 2011, a polícia carregara sobre os participantes concentrados junto à escadaria da Assembleia da República. A intervenção de elementos provocadores, alguns dos quais afectos às forças da ordem, encontra-se ainda por esclarecer.