Líbia dominada pelo terror

Cruz Vermelha forçada a partir

O Co­mité In­ter­na­ci­onal da Cruz Ver­melha (CICV) sus­pendeu as ac­ti­vi­dades na Líbia na sequência de uma série de ata­ques contra as suas ins­ta­la­ções e co­o­pe­rantes, si­tu­ação re­ve­la­dora do terror que do­mina o país desde a agressão da NATO.

«A si­tu­ação dos di­reitos hu­manos é pior do que com Kadhafi»

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O úl­timo epi­sódio vi­o­lento contra a or­ga­ni­zação hu­ma­ni­tária ocorreu do­mingo, 5, em Mis­rata. De acordo com o CICV, um grupo for­te­mente ar­mado bom­bar­deou o es­cri­tório da or­ga­ni­zação na ci­dade com gra­nadas de mor­teiro. O edi­fício ficou par­ci­al­mente des­truído mas ne­nhum dos sete fun­ci­o­ná­rios que se en­con­travam no local re­sultou fe­rido.

Não obs­tante, o caso terá feito trans­bordar a pa­ci­ência da or­ga­ni­zação, que notou, em co­mu­ni­cado, que «o ataque po­deria ter tido graves con­sequên­cias», por isso de­cidiu aban­donar as mis­sões ins­ta­ladas em Mis­rata e Benghazi.

A des­truição do es­cri­tório da Cruz Ver­melha em Mis­rata foi o quinto epi­sódio de «ataque e caça de­li­be­rada contra o nosso pes­soal» nos úl­timos três meses, su­bli­nhou o res­pon­sável pela or­ga­ni­zação na Líbia, que se ma­ni­festou «hor­ro­ri­zado» com o su­ce­dido e lem­brou que os fun­ci­o­ná­rios «co­lo­caram a vida em risco para ajudar o povo líbio du­rante e após o con­flito» no país.

Com­boios com ajuda hu­ma­ni­tária des­ti­nados a ci­dades onde a po­pu­lação se en­contra refém das mi­lí­cias que dis­putam entre si o con­trolo do ter­ri­tório, como Sirte, por exemplo, também têm sido as­sal­tados.

Acresce que, na quarta-feira, dia 1, um grupo de sete co­o­pe­rantes do Cres­cente Ver­melho ira­niano, con­vi­dado a des­locar-se ao país pela con­gé­nere líbia, foi rap­tado por uma facção co­no­tada com o ex­tre­mismo is­lâ­mico.

O bando já fez saber que só li­berta os ira­ni­anos de­pois de con­cluir os in­ter­ro­ga­tó­rios, cujo ob­jec­tivo, disse um porta-voz dos se­ques­tra­dores, ci­tado pelo Libya He­rald, é apurar se os in­di­ví­duos pre­ten­diam di­fundir a crença xiita no país.

A Am­nistia In­ter­na­ci­onal re­agiu exi­gindo às au­to­ri­dades lí­bias que se «im­po­nham às mi­lí­cias».

 

Mandam as armas

 

Dias antes do ataque ao edi­fício da Cruz Ver­melha em Mis­rata, ou­tros dois epi­só­dios vi­o­lentos ilus­tram que na Líbia ar­ra­sada pela cam­panha mi­litar im­pe­ri­a­lista manda quem tem o dedo no ga­tilho.

Sexta-feira, 3, uma forte ex­plosão sa­cudiu um dos edi­fí­cios dos ser­viços se­cretos mi­li­tares em Benghazi, con­firmou à As­so­ci­ated Press um fun­ci­o­nário local que, no en­tanto, não adi­antou o mo­tivo do ataque.

No mesmo dia, igual­mente na ci­dade con­si­de­rada o berço do le­van­ta­mento ar­mado de­sen­ca­deado o ano pas­sado no país, um con­junto de pis­to­leiros in­vadiu uma prisão e li­bertou o ale­gado as­sas­sino de Abdel Yunis, morto em Julho de 2011 quando era con­si­de­rado um dos mais in­flu­entes lí­deres mi­li­ci­anos.

O do­mínio do país pela força das armas é, aliás, ates­tado por um re­la­tório re­cente ela­bo­rado pela Uni­ver­si­dade de Har­vard, nos EUA. De acordo com o es­tudo, di­vul­gado no final da se­mana pas­sada, a si­tu­ação é ex­plo­siva.

«Há armas dis­persas em todo o país (in­cluindo mís­seis e outro ar­ma­mento pe­sado), guar­dadas em bun­kers mal pro­te­gidos, em de­pó­sitos con­tro­lados por mi­lí­cias, em mu­seus e até casas par­ti­cu­lares» si­tu­adas em zonas den­sa­mente po­vo­adas, alertou a co-au­tora do texto, Ni­co­lette Bo­eh­land, ci­tada pela AFP. Os riscos para os civis são enormes, disse.

No mesmo sen­tido, o membro do Ob­ser­va­tório Líbio dos Di­reitos Hu­manos (OLDH), Nasser al-Hawary, con­firmou, em en­tre­vista con­ce­dida a Mel Fryk­berg para a Inter Press Ser­vice, que em Tri­poli, e muito mais nas re­giões fora da ca­pital, a in­se­gu­rança é ab­so­luta.

Hawary, in­sus­peito de sim­pa­tias para com a re­vo­lução verde ou Mu­amar Kadhafi – já que, diz, foi di­versas vezes preso e for­çado a exilar-se no Egipto –, re­co­nhece que «a si­tu­ação dos di­reitos hu­manos no país está muito pior do que com Kadhafi».

Na en­tre­vista, o membro do OLDH su­bli­nhou que «todos os ho­mens jo­vens têm armas» e ha­bi­tu­aram-se a «re­solver os di­fe­rendos», seja qual for a sua na­tu­reza ou di­mensão, pela força.

Acresce a pre­va­lência da ar­bi­tra­ri­e­dade, do ban­di­tismo e da im­pu­ni­dade, de­nun­ciou ainda Hawary, exem­pli­fi­cando com os cons­tantes casos de se­ques­tros, tor­turas, as­sas­si­natos e de­ten­ções (pelo menos seis mil pes­soas per­ma­necem de­tidas em cár­ceres con­tro­lados por di­fe­rentes fac­ções, a mai­oria dos quais sem que lhes tenha sido im­pu­tado qual­quer crime); com a ex­torsão e o roubo das po­pu­la­ções, a dis­cri­mi­nação e re­pressão de ne­gros e mi­grantes, ou a im­po­sição de normas que va­riam con­so­ante o grupo ar­mado e, não ra­ra­mente, ao sabor do cri­tério do in­di­víduo que aponta a arma.



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