Promoções dos militares

Injustas e a conta-gotas

Os mi­li­tares dos três ramos das forças ar­madas por­tu­guesas de­nun­ciam que as pro­mo­ções ar­ran­cadas pela luta ao Go­verno PSD/​CDS estão a ser feitas a conta-gotas, mantêm traços de in­jus­tiça e não re­solvem os pro­blemas co­lo­cados à ca­pa­ci­dade ope­ra­ci­onal aquando do seu con­ge­la­mento.

A si­tu­ação criada com o con­ge­la­mento das pro­mo­ções não está ul­tra­pas­sada

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Para a As­so­ci­ação Na­ci­onal de Sar­gentos (ANS), a si­tu­ação criada pelos or­ça­mentos do Es­tado e Rec­ti­fi­ca­tivo, que mais não pre­ten­diam senão ma­te­ri­a­lizar os prin­cí­pios de «pro­mover sem pagar» ou de «atrasar a pu­bli­cação das pro­mo­ções para menos pagar aos mi­li­tares», não está com­ple­ta­mente ul­tra­pas­sada.

«Por força da de­núncia e de toda a pressão que temos feito com as mais va­ri­adas ac­ções e ini­ci­a­tivas, co­me­çaram fi­nal­mente a ser pu­bli­cadas as pri­meiras pro­mo­ções», re­fere a ANS, mas alerta que, apesar de «nestes pri­meiros des­pa­chos terem sido abran­gidos mi­li­tares das três ca­te­go­rias que, pelos mais di­versos mo­tivos, aguar­davam as res­pec­tivas pro­mo­ções desde 2010, e mesmo antes», o facto é que ao invés de re­pre­sentar «a re­po­sição de al­guma in­jus­tiça, con­subs­tan­ciou, afinal, mais uma gri­tante in­jus­tiça pelo tra­ta­mento di­fe­ren­ciado entre mi­li­tares».

Para além de con­si­derar que o Go­verno pre­tende, com isso, di­vidir os uni­for­mi­zados e que­brar-lhes a moral com­ba­tiva de de­fesa dos seus di­reitos, a As­so­ci­ação de­nuncia igual­mente que «os des­pa­chos que se re­ferem a Sar­gentos e Praças, em­bora re­co­nhe­cendo a sua an­ti­gui­dade a 2010, pro­duzem efeitos re­mu­ne­ra­tó­rios no dia se­guinte à sua pu­bli­cação».

Dito de outro modo, o Mi­nis­tério da De­fesa Na­ci­onal re­meteu para as che­fias mi­li­tares o pro­cesso para não as­sumir as suas res­pon­sa­bi­li­dades na ma­téria, mas ainda assim fica mar­cado pelo facto de estar pro­mover Sar­gentos e Praças com cerca de dois anos de atraso sub­traindo-lhes os mon­tantes re­tro­ac­tivos que jus­ta­mente lhes são de­vidos, verbas a que têm di­reito e que, ex­plica-se ainda no co­mu­ni­cado da­tado de 5 de Agosto, crescem de vo­lume à me­dida que os des­pa­chos de pro­moção vão sendo pu­bli­cados a conta-gotas.

A ANS apela aos mi­li­tares para que não aceitem esta ma­nobra e rei­tera que «apoiará os nossos ca­ma­radas na sua mais que justa con­tes­tação».

«En­tre­tanto con­ti­nu­amos a acom­pa­nhar a pu­bli­cação de mais des­pa­chos que, numa pri­meira lei­tura, deixam já an­tever a des­pro­porção de pro­mo­ções que in­ci­dirão sobre as vá­rias ca­te­go­rias de mi­li­tares», re­fere-se também no texto antes de se lem­brar, ao jeito de quem pro­mete novas ac­ções de luta, que «não somos de ficar en­cos­tados à la­men­ta­ções ou à te­oria das ine­vi­ta­bi­li­dades, e muito menos nos con­ten­tamos com as mi­ga­lhas que caem da mesa da far­tura».

A ANS deixa ainda duas per­guntas: «nos tempos mais pró­ximos e até ao final do ano, inú­meros mi­li­tares vão reunir con­di­ções para pro­moção. Serão efec­ti­va­mente pro­mo­vidos? O que lhes acon­te­cerá?

Forças Ar­madas em causa

Opi­nião se­me­lhante tem a Co­missão de Mi­li­tares (Comil), para quem «a questão das pro­mo­ções não afecta só os le­gí­timos di­reitos dos mi­li­tares. Como ele­mento es­tru­tu­rante afecta so­bre­tudo o dia-a-dia da Ins­ti­tuição», notou em co­mu­ni­cado da­tado de 25 de Julho.

«Ou­vimos nos te­le­jor­nais que os mi­li­tares vão ser pro­mo­vidos, mas ver­dade é que as pro­mo­ções vão en­volver um uni­verso muito re­du­zido de mi­li­tares e serão os Ramos a ter de su­portar os custos com re­flexos graves na gestão fu­tura de pes­soal e na sua ca­pa­ci­dade ope­ra­ci­onal.

Ar­gu­mentam que vão ou estão a ra­ci­o­na­lizar a es­tru­tura, os meios, a or­ga­ni­zação, a saúde, a or­gâ­nica, mas o que estão a fazer é apenas e só a des­truir o que é bá­sico e ele­mentar na es­tru­tu­ração de umas forças ar­madas, Tetam con­vercer-nos que querem cons­truir uma es­tra­tégia mo­derna e ade­quada às ame­aças e ao mundo ac­tual, mas o que fazem é se­guir, ca­ni­na­mente, os di­tames dos pa­trões da NATO», acres­centa a Comil, que também tem dú­vidas sobre o que acon­te­cerá aos mi­li­tares que a breve trecho terão con­di­ções para serem pro­mo­vidos.

Antes, a 19 de Julho, também a As­so­ci­ação de Ofi­ciais das Forças Ar­madas (AOFA) re­agiu ao anúncio por parte do mi­nistro Aguiar Branco do rei­nício das pro­mo­ções, con­si­de­rando que o seu con­ge­la­mento re­pre­sen­tava «des­res­peito e des­con­si­de­ração pelos mi­li­tares ou ig­no­rância sobre a es­pe­ci­fi­ci­dade pró­pria da Ins­ti­tuição Mi­litar».

Na al­tura, a AOFA ma­ni­festva-se con­fi­ante de que os Chefes dos Es­tados-Mai­ores dos Ramos, para quem o Mi­nis­tério da De­fesa em­purrou a res­pon­sa­bi­li­dade di­recta das pro­mo­ções, da­riam «ce­le­ri­dade ao pro­cesso», su­bli­nhando que «seria inex­pli­cável se essa pu­bli­cação [dos des­pa­chos] não ti­vesse lugar com ce­le­ri­dade».

A ver­dade é que o inex­pli­cável pa­rece estar a acon­tecer: pro­mo­ções a conta-gotas e des­pro­por­ci­o­nadas quanto ao nú­mero de sar­gentos, praças e ofi­ciais abran­gidos.




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