Entrevista histórica

Fausto Sorini conheceu Álvaro Cunhal em 1991, na Festa do Avante!, onde veio em representação da Refundação Comunista, criada pouco antes na sequência da «dramática auto-dissolução do Partido Comunista Italiano». Desse encontro recorda a emoção e fascínio que o dirigente do PCP lhe provocara – ele, que era «praticamente um mito para os camaradas da minha geração, que se tinham solidarizado com a Revolução de Abril, com paixão e grande esperança».

No Congresso do passado fim-de-semana, o dirigente do Partido dos Comunistas Italianos (PdCI) revisitou a extensa entrevista que fez a Álvaro Cunhal em 1994 para os «Quaderni Comunisti» que, garantiu, terá contribuído para «consolidar a capacidade global de elaboração teórica de milhares de militantes» italianos. Da entrevista, Sorini guarda algumas questões «cruciais» que mantêm, 20 anos depois, uma «incrível actualidade»: o balanço global da experiência histórica do movimento comunista e revolucionário no século XX; a questão dos limites do «modelo soviético» e a abordagem da questão do «mercado socialista»; a avaliação sobre a Internacional Socialista; a avaliação sobre a UE e a necessidade de um projecto alternativo de Europa; e a persistente actualidade da função histórica dos partidos comunistas.

Relativamente à penúltima destas questões – a União Europeia –, o dirigente comunista italiano lembrou os alertas então deixados por Álvaro Cunhal de que a constituição de instituições supranacionais seria um «caldo de cultura para explosões centrífugas nacionalistas», como hoje se verifica um pouco por toda a Europa.

Fausto Sorini recordou ainda que Álvaro Cunhal considerava uma «necessidade que continuam a ter os trabalhadores e os povos de um partido independente dos interesses, das pressões, da influência, da ideologia das forças do capital, um partido que na sua luta presente tenha no horizonte a construção de uma sociedade libertada da exploração e opressão capitalista». O comunista italiano guardou as últimas palavras para salientar uma citação particular de Álvaro Cunhal na referida entrevista, que o marcou particularmente: a afirmação de que uma das qualidades dos comunistas deveria ser a coragem: «coragem ideológica, coragem política, coragem moral e, quando necessário, coragem física».

 



Mais artigos de: Em Foco

Avante! especial

Na quinta-feira, dia 7, é publicado um número especial do Avante!, contendo um suplemento dedicado à vida, pensamento e luta de Álvaro Cunhal, o mais destacado construtor do Partido Comunista Português e figura maior da cena política nacional e internacional do século XX. Com a mesma edição será distribuído um poster comemorativo do centenário de Álvaro Cunhal.

Incentivo à reflexão, à intervenção e à luta

O Congresso «Álvaro Cunhal, o projecto comunista, Portugal e o Mundo de hoje», realizado no fim-de-semana na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi um momento ímpar de reflexão em torno do legado teórico e prático do histórico dirigente comunista, que mantém, nos dias de hoje, uma flagrante e inegável actualidade. Nas dezenas de intervenções que preencheram as quatro sessões do Congresso foram abordados diversos aspectos da vida, do pensamento e da luta de Álvaro Cunhal, com especial destaque para aqueles que têm projecção nos combates que os comunistas hoje travam, lado a lado com muitos outros que o não são, pelos objectivos a que tão exemplarmente dedicou toda a sua vida e o melhor das suas imensas capacidades. 

Uma vida e uma obra que iluminam os combates de hoje

Em nome do Partido Comunista Português, quero transmitir as nossas mais calorosas e cordiais saudações a todos os participantes e organizadores do Congresso «Álvaro Cunhal, o Projecto Comunista, Portugal e o Mundo de hoje». Um Congresso que esteve e...

Percurso exemplar

A primeira sessão do Congresso, que decorreu na manhã de sábado, procurou evidenciar os aspectos mais salientes do percurso político, intelectual e artístico de Álvaro Cunhal. Nessa sessão, moderada por José Capucho, membro do...

Aprender com o passado para projectar o futuro

Democracia, socialismo, revolução. Passado, presente, futuro. Foi disto, em grande medida, que se falou na segunda sessão do Congresso «Álvaro Cunhal, o projecto comunista, Portugal e o Mundo de hoje». Com moderação do membro da...

Os exaltantes e complexos caminhos da transformação social

Dos caminhos para a transformação revolucionária da sociedade portuguesa falou, na segunda sessão do Congresso, o membro dos organismos executivos do Comité Central Jorge Cordeiro. Este dirigente começou a sua intervenção a salientar que «é tendo...

Organizar e lutar

Sobre os temas debatidos na terceira sessão do Congresso – intitulada «O processo de transformação social, o Partido e as massas», com moderação de Margarida Botelho, da Comissão Política –, Álvaro Cunhal deixou...

Identidade comunista

A definição das características fundamentais de um Partido Comunista foi um dos mais notáveis contributos teóricos de Álvaro Cunhal, ao qual Francisco Lopes se referiu com profundidade na intervenção que fez no Congresso do passado fim-de-semana. No XII, XIII e XIV...

Patriotismo e internacionalismo

As dimensões patriótica e internacionalista da luta dos comunistas, a questão de classe e a questão nacional, o combate contra o imperialismo e a integração capitalista europeia foram alguns dos assuntos em debate na quarta e última...

Contributo essencial

Sitaram Yechury é membro do Bureau Político do Partido Comunista da Índia (Marxista) e foi um dos convidados internacionais do Congresso. Na sua intervenção, na última sessão, o dirigente comunista indiano referiu-se a Álvaro Cunhal como pertencendo...

Contributos preciosos

Para além das intervenções de apresentação dos temas em debate nas diferentes sessões do Congresso, e dos discursos dos convidados estrangeiros, que destacamos nestas páginas, muitos outros participantes deixaram contributos valiosos para a...

Comício no Campo Pequeno

Passado o Congresso (com o êxito que procurámos salientar nas páginas anteriores), as comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal têm o próximo ponto alto no comício de 10 de Novembro, no Campo Pequeno, em Lisboa.