Luta ao rubro pelos CTT
Firmes e com razões fortes, os trabalhadores dos CTT e as suas organizações de classe estiveram em greve na sexta-feira, manifestaram-se em Lisboa e confirmaram novas acções na última semana do ano.
Mesmo sob uma política de destruição, os CTT têm dado lucro
A greve de 29 de Novembro, convocada pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações e por mais quatro sindicatos e contando com o apoio da Comissão de Trabalhadores dos CTT, superou os 80 por cento de adesão, no turno da noite, em Lisboa, no Porto e em Coimbra, descendo ligeiramente no horário normal. Tal como a 25 de Outubro, o SNTCT/CGTP-IN considerou que se trata de índices que são os mais elevados dos últimos anos na empresa.
No esforço para minorar a visibilidade da luta, o Governo e a sua administração já não se ficaram apenas pela «guerra dos números», nem pelas manobras destinadas a mostrar que se vivia um dia normal. Nas primeiras horas da paralisação, a Polícia foi chamada para intervir na Rua Vale Formoso de Cima, onde está situado o Centro de Tratamento de Correio de Lisboa (Cabo Ruivo). Não foi ali verificar se, como afirmaram os elementos do piquete de greve, os camiões que estavam para sair eram conduzidos por motoristas chamados para substituir trabalhadores em greve. Foi para, à força, darem cobertura à estratégia da administração dos CTT e, a mando do Governo, permitirem que o correio saísse para os centros de distribuição.
A Polícia carregou, empurrou trabalhadores, membros do piquete, dirigentes sindicais, incluindo o Secretário-geral da CGTP-IN, e também Bruno Dias, do PCP, e um deputado do BE.
Foi uma intervenção policial «vergonhosa», «encomendada para atacar de forma indecorosa e brutal os componentes do piquete». «Aqueles membros da PSP deveriam estar a carregar sobre aqueles que, além de estarem a destruir os CTT e o serviço público postal, se preparam para vender ao desbarato uma empresa de importância fundamental para o País, para os cidadãos, e que demorou cerca de 500 anos a construir», protestou o SNTCT, num comunicado que divulgou ao início da manhã.
Muitos dos trabalhadores em greve deslocaram-se desde os vários distritos e compareceram, a meio da tarde, na concentração que os sindicatos tinham convocado para junto da estação dos CTT, nos Restauradores. Em manifestação, seguiram até ao Ministério das Finanças.
Estava pedida uma reunião com a ministra, para entregar cópia do «pacote» de 22 mil assinaturas, em postais, contra a privatização, que iria ser deixado mais tarde na Assembleia da República. Uma delegação foi recebida por Maria Luís Albuquerque, mas «foi uma conversa de surdos», que manteve «a firme ideia de que a privatização não serve aos CTT, nem ao serviço público, nem ao País». José Oliveira, dirigente do SNTCT, disse aos jornalistas que ficou reforçada a certeza de que «o combate é para continuar».
A entrega das assinaturas, muitas delas recolhidas junto de pessoas que, por todo o País, mostraram o seu protesto contra o encerramento de estações dos Correios, foram entregues no Parlamento, mesmo depois de a presidente da AR ter confirmado que não receberia os representantes dos trabalhadores.
A bem da privatização, como acusou Arménio Carlos, em declarações aos jornalistas nos Restauradores, a administração revelou no dia da greve que o Banco de Portugal autorizara a criação do «banco postal».
No jogo da Bolsa, a OPV fechou no dia 2 e ontem haveria uma sessão especial para apurar o resultado. Hoje começarão a ser negociadas as acções, representativas de 70 por cento do capital social dos CTT. O SNTCT já assinalou que a decisão de manter 30 por cento na posse do Estado foi imposta pela luta, que ganhou apoio na opinião pública e criou ao Governo maiores dificuldades para justificar a operação. Além do mais (drástica redução de estações e postos, diminuição de pessoal e ataque aos direitos, negócios desastrosos e casos na Justiça), os CTT deram ao Estado, nos últimos seis anos, 400 milhões de euros de lucros.
Ânimo e razão
A concretização da venda não diminui os fundamentos da luta nem o ânimo dos trabalhadores.
Para defender o património público, a qualidade do serviço público de proximidade, para salvaguardar centenas de postos de trabalho em risco, preservar direitos dos trabalhadores no activo e aposentados, para evitar a destruição do subsistema de saúde e apoio social (IOS), estão convocadas novas greves, para dias 27, 30 e 31.