PCP quer um por cento do PIB
para a cultura

Concretizar a democracia cultural

Garantir a concretização de uma verdadeira democracia cultural e defender os direitos dos trabalhadores da cultura são objectivos centrais do PCP.

A cultura é componente fundamental da democracia

Image 18159

Consagrar um por cento do Orçamento do Estado para a cultura no início da próxima legislatura e evoluir, até ao fim do mandato, para uma dotação de um por cento do Produto Interno Bruto (equivalente ao triplo daquele valor) – esta é uma das principais propostas do PCP para a área da cultura, reafirmada na passada segunda-feira na audição «Democratizar a Cultura, Valorizar os seus Trabalhadores», inserida na construção do programa eleitoral.

Ao longo do debate, que se desenrolou ao longo mais de duas horas e envolveu actores, arqueólogos, escritores, arquivistas, artistas plásticos e activistas sindicais e de movimentos unitários dos vários sectores da cultura, bem como dirigentes e eleitos comunistas, foram enunciadas outras propostas, que partem da intervenção realizada nos últimos anos, desenvolvendo-a.

Dos eixos centrais do programa do Partido para o sector (ainda em construção) falou, na primeira intervenção da tarde, Jorge Feliciano, membro da Comissão Nacional de Cultura, que adiantou um dos seus objectivos primordiais: a criação de um verdadeiro «serviço público de cultura», que tenha o Estado como motor. Só assim será possível garantir a almejada «democratização cultural» – que Abril conquistou e a Constituição da República consagra – e o correspondente acesso de todos à criação e à fruição cultural.

No mesmo sentido, o deputado Miguel Tiago lembrou algumas das iniciativas institucionais do Partido nos últimos anos, cujas linhas essenciais estarão presentes no futuro programa: a reformulação profunda dos concursos da Direcção-Geral das Artes, no sentido de garantir apoios dignos e justos aos criadores («não há justiça na distribuição de migalhas», afirmou); o financiamento da produção cinematográfica a partir do Orçamento do Estado e não, como actualmente acontece, de receitas de publicidade oriunda das empresas privadas; a garantia de apoio à primeira obra literária; a facilitação da partilha da obra artística salvaguardando os direitos dos criadores, entre outras.

Miguel Tiago chamou ainda a atenção para um projecto de resolução, apresentado recentemente, que consagra os direitos especiais dos jovens no acesso à cultura. No que diz respeito ao património e aos museus, sublinhou o deputado, o Partido não propôs novas leis por entender que as actuais servem os objectivos, sendo porém necessário garantir que são efectivamente cumpridas.

Precariedade e resistência

Tanto da parte dos eleitos e dirigentes do Partido como dos muitos profissionais das várias áreas da cultura presentes na audição surgiram relatos da brutal precariedade em que trabalham – quando trabalham – muitos dos trabalhadores da cultura, sejam eles criadores, artistas, técnicos ou operários. Esta situação, que era já generalizada, tornou-se insustentável nos últimos anos, em resultado dos cortes de 75 por cento impostos pelo Governo no apoio às artes.

O aumento do IVA dos bilhetes de espectáculos – uma das primeiras medidas do Governo PSD/CDS – contribuiu para o aumento das dificuldades dos grupos e companhias e, em consequência, para novas e mais graves violações dos direitos dos profissionais: o trabalho, precário, é cada vez mais mal pago e por vezes até gratuito. Muitos têm que acumular o trabalho artístico com outro, em sectores como as telecomunicações, por exemplo.

Também os revisores e os tradutores viram as suas profissões passarem por um acelerado processo de desvalorização, passando de funcionários de jornais e editoras a trabalhadores «independentes» e, sobretudo, ocasionais. Os revisores são, mesmo, uma «espécie em vias de extinção», denunciou-se na sessão. Já os arqueólogos vêem-se cada vez mais emparedados entre as grandes empresas de construção, donas das obras nas quais laboram, e as empresas de arqueologia e ambiente, para as quais trabalham. Salvo raras excepções, a umas e a outras interessará tudo menos que o arqueólogo tome qualquer decisão que possa prejudicar o andamento das obras.

Com diferenças pontuais de sector para sector, a precariedade é cada vez mais a regra na generalidade das profissões ligadas à cultura. Muitos dos intervenientes denunciaram ainda o desmantelamento dos serviços públicos, uns extintos ou integrados noutros, outros simplesmente privados de meios financeiros, materiais e humanos para cumprirem os seus desígnios.

Na audição falou-se também da resistência e da luta dos profissionais, integrados nos sindicatos e no Manifesto em Defesa da Cultura.


Jerónimo de Sousa
Cultura é factor de emancipação

Ao encerrar a audição da passada segunda-feira, que encheu por completo o salão do Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, Jerónimo de Sousa valorizou o projecto político do PCP, que «afirma como objectivo concreto a realização plena das conquistas de Abril e o seu aprofundamento» e integra a democracia cultural como «parte indissociável da alternativa que representa». Na concepção do PCP, lembrou, a democracia tem quatro vertentes inseparáveis – política, económica, social e cultural. Sem qualquer uma delas, «toda a democracia ficará sempre aquém das suas plenas potencialidades».

O Secretário-geral do Partido sublinhou, em seguida, as potencialidades da cultura, realçando que os avanços na sua democratização «produzirão efeitos no necessário desenvolvimento social». A cultura, acrescentou, é «factor de democratização da sociedade, que alarga a intervenção dos trabalhadores e do povo nos vários planos da vida», ao garantir a «liberdade de usar a imaginação, o sonho, a criatividade para encontrar saídas, recusar inevitabilidades, negar o fim da história». Assim, destacou, a criação artística tem sido, é, e continuará a ser «uma forma de intervir para transformar o mundo»; e a luta pela defesa e valorização da cultura é e continuará a ser inseparável da defesa da paz e da independência nacional.

A concretização de uma política que aprofunde a democracia cultural implica, pois, romper com a política em curso que, lembrou, ora pelas mãos de PS ou PSD, com ou sem o CDS, «vai sendo relegada para o plano de adorno político, por um lado, e deixada aos caprichos do “mercado”, por outro». A supressão da liberdade cultural e artística que tem vindo a resultar designadamente da política dos dois últimos governos representa mesmo um «novo e mais grave passo no processo de reconfiguração do Estado, de afronta à Constituição e de retrocesso social», garantiu Jerónimo de Sousa.

O «lápis azul» foi substituído pela asfixia financeira e a política de promoção e apoio às artes foi reduzida a uma mera «organização de eventos, simultaneamente comerciais e decorativos da política da classe dominante. Já no que diz respeito ao património, «tudo é subordinado aos interesses económicos, muitas vezes privados, do turismo», daquele género de turismo que «faz do património um parque de diversões apenas ao alcance de quem pode pagar».




Mais artigos de: PCP

Ligados à vida e à luta <br> somos mais fortes

«Obtivemos um grande êxito», afirmou Jerónimo de Sousa na sessão com novos militantes realizada quinta-feira, 14, em Lisboa. Na iniciativa ficou patente que muitos são os caminhos percorridos antes de tomar Partido, mas a uni-los está o apelo de lutar «contra a exploração, as injustiças sociais e o empobrecimento, por um Portugal com futuro, por uma sociedade mais justa», acrescentou o Secretário-geral do PCP.

PCP constrói o futuro

Na 8.ª Assembleia da Organização Regional de Coimbra – que se realizou no sábado e contou com a presença de Jerónimo de Sousa – reforçou-se o Partido, aprofundou-se a análise da situação do distrito, revigorou-se a luta de massas em defesa dos trabalhadores e das populações, intensificou-se o trabalho de direcção e preparou-se as próximas eleições legislativas.

Construção colectiva e próxima<br>do pulsar da vida

O programa eleitoral com que o PCP se apresentará às eleições legislativas está a ser construído em constante ligação à vida dos trabalhadores e das outras camadas antimonopolistas. As audições temáticas são parte fundamental deste processo de auscultação e debate.

Garantir o acesso à saúde

O salão do Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, acolheu no sábado uma audição sobre a defesa do Serviço Nacional de Saúde, integrada na construção do programa eleitoral do Partido. Estiveram presentes, entre outros, Jorge Pires, membro da Comissão...

Militarização não é solução

O PCP condena as medidas assumidas pela UE que, a pretexto do combate ao tráfico de migrantes, aposta em soluções militaristas e neocoloniais.

Debater, integrar, concretizar

As assembleias são momentos importantes da vida do Partido, ao potenciarem o debate colectivo das prioridades de intervenção e a integração de mais militantes na actividade quotidiana.

Resistir na Península de Setúbal

A «fúria privatizadora» do Governo PSD/CDS atinge particularmente as empresas e bens públicos da Península de Setúbal. O PCP contesta e apela à resistência.

Solidariedade

O PCP, através da Comissão Concelhia de São João da Madeira, expressou a sua solidariedade aos trabalhadores da Flexipol, que estão em greve desde terça-feira e até amanhã exigindo aumentos dignos dos seus salários. Esta paralisação segue-se a...

Debater a vitória em Paris

Cerca de 50 pessoas aproveitaram o feriado de 8 de Maio, em França, e encheram o Lusofolie's (conhecido espaço cultural parisiense que congrega a universalidade da cultura de todos os países lusófonos) para celebrar a passagem dos 70 anos da vitória sobre o nazi-fascismo na Segunda...

Faleceu António Galhordas

Faleceu aos 83 anos António Galhordas, médico e «destacada figura da luta pela liberdade e pela democracia», como realça o Sector da Saúde da Organização Regional de Lisboa, da qual era membro, em nota emitida no dia 14. No mesmo documento, o Partido realça o...

Jornadas de trabalho

No dia 7 de Junho tem lugar a primeira jornada de trabalho de construção da 39.ª edição da Festa do Avante!, que este ano se realiza nos dias 4, 5 e 6 de Setembro na Quinta da Atalaia. Construída pelo trabalho voluntário de milhares de militantes e simpatizantes do Partido...