Opções incendiárias
Nas últimas semanas, os incêndios florestais assumiram um peso crescente nos noticiários – seja por via da área ardida este ano, pela persistência de vários incêndios que fustigaram zonas de inestimável património natural, como na Serra da Estrela, seja pelo apontar de falhas da Protecção Civil. A verdade é que não tem passado um dia sem que as imagens de chamas, carros de Bombeiros ou meios aéreos de combate a incêndios não sejam presença assídua na nossa comunicação social.
Como já aqui assinalámos em meados de Julho, o PCP tem tido uma intervenção persistente sobre o tema e sobre matérias que são factores determinantes na prevalência, extensão e efeitos dos incêndios. O PCP esteve em Pedrógão Grande a 17 de Junho, quando se assinalaram cinco anos do grande e trágico incêndio de 2017, alertando para o que não se fez e avançando com medidas e propostas no plano da prevenção e do combate aos incêndios, a par de medidas estruturais que combatam o abandono do mundo rural e da floresta. Na altura, o PCP alertou para a situação no terreno, mas a atenção mediática seguiu a mesma bitola com que os responsáveis governativos olharam para as medidas necessárias para prevenir a repetição do drama: só olhar para o problema quando, literalmente, tudo arde.
Desde então, o PCP já fez duas declarações sobre incêndios: a 28 de Julho, com João Frazão, e a 23 de Agosto, com Octávio Augusto. Se no segundo caso, ainda houve espaço para curtas passagens na RTP3 e na SIC Notícias, sem que tenham chegado aos canais generalistas, no primeiro caso a declaração sobre a situação da floresta e os incêndios foi completamente apagada, sem qualquer referência nos ecrãs televisivos. Ainda assim, o PCP não esteve ausente dos principais noticiários, como no caso da SIC, quando se tratou de o atacar e de lhe atribuir posicionamentos que não são os seus, de que é exemplo a peça sobre as críticas à participação de artistas na Festa do Avante!. O que não é dito é que essas críticas (sempre atribuídas a entidades indefinidas) foram lançadas pela própria SIC – uma táctica do género «atirar e esconder a mão», que pode ser muito útil no ataque à Festa do Avante! e ao PCP, mas que faz mais pela desinformação do que pelo esclarecimento dos telespectadores.
Mas o ponto alto dessa noite chegaria já na SIC Notícias, com uma entrevista a Vitorino Salomé, repleta de mentiras e meias verdades sobre as posições do PCP, num estilo inquisitorial, em que quem entrevista chega a questionar o artista que tem à frente numa linha própria das caças às bruxas de outros tempos – ou da exigência de certificados de anticomunismo aos funcionários públicos por parte do regime fascista. A desfaçatez chegou ao ponto de recorrer à mais caluniosa mentira de que «o PCP apoia a guerra», poucas semanas depois de a ERC ter deliberado que a própria SIC procurou manipular e ridicularizar a posição do PCP numa peça sobre o comício de 6 de Março, no Campo Pequeno.
Com esta resposta, é inevitável concluir que definitivamente não se trata de erros ou lapsos mas sim de uma assumida opção e orientação editorial.