Sempre os mesmos…

João Frazão

Olha-se para o re­trato pu­bli­cado da ce­ri­mónia e ali se vê a sín­tese da fina li­gação entre o poder po­lí­tico e o poder eco­nó­mico.

Na pri­meira fila de uma sala bem com­posta por fi­guras da nata da ad­mi­nis­tração e também do ca­pital, o pri­meiro-mi­nistro, o mi­nistro do Am­bi­ente e o mi­nistro da Eco­nomia en­qua­dram e aca­ri­nham os CEO (quem não usar estes termos mo­der­naços já não se faz en­tender) na­ci­o­nais e ibé­ricos de uma das mai­ores mul­ti­na­ci­o­nais do mundo, a Repsol.

Ce­le­brava-se nesse dia um pro­to­colo entre o Es­tado por­tu­guês e a co­nhe­cida ga­so­li­neira, em que esta, ao que se anuncia, e pelo que se per­cebe para se es­ver­dear, se com­pro­mete a re­flo­restar 5 a 10 mil hec­tares de terras lusas.

A di­fe­rença é de 100%, mas, pelos vistos, o rigor pouco im­porta em casos desta monta. Veja-se que anun­ciam que o pro­jecto, que em con­creto, neste mo­mento, se re­su­mirá a 58 hec­tares em exe­cução, pode mesmo chegar aos 100 mil hec­tares, onde se pro­põem plantar 90 mi­lhões de ár­vores. Ora há aqui algo que não bate certo. Se nos dizem que querem usar es­pé­cies au­toc­tónes, qual­quer leigo sa­berá que 900 ár­vores por hec­tare, só se con­se­guirá se se tratar de eu­ca­lipto, ou se es­ti­vermos a falar de olival su­pe­rin­ten­sivo.

Mas há mais. Diz a pro­pa­ganda que se se atin­gissem os tais 100 mil hec­tares, poder-se-iam criar entre 15 e 20 mil em­pregos. Re­pare-se que no Pi­nhal de Leiria que tinha, antes do fa­tí­dico in­cêndio de Ou­tubro de 2017, 11 mil hec­tares de pi­nheiro, boa parte do qual pronto a cortar, tinha menos de duas de­zenas de tra­ba­lha­dores di­rectos que lhe es­tavam afectos. Per­gunta-se, mesmo ad­mi­tindo que os em­pregos não são apenas os di­rectos, como se chega a um tal vo­lume de em­prego?

De resto, dizem as no­tí­cias que o pro­jecto se ins­pira na ex­pe­ri­ência es­pa­nhola que, ainda se­gundo os re­gistos jor­na­lís­ticos, es­tará a correr muito bem, mesmo que não se saiba exac­ta­mente o que isso é e apesar de ter ini­ciado apenas em 2021.

Quais são os com­pro­missos que o Es­tado Por­tu­guês as­sumiu não dizem as no­tí­cias ofi­ciais, mas como o ma­caco tem calo no sítio onde todos sabem, e não vis­lum­brando que falta faz o Es­tado a um gi­gante como a Repsol para sus­tentar os seus ne­gó­cios, ar­risco-me a dizer que en­volve mais uns be­ne­fi­ci­o­zitos de mi­lhões para os mesmos do cos­tume, seja de um mer­cado de car­bono feito à me­dida, seja por qual­quer outra via. A vida dirá...




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