Quénia ao serviço dos EUA e da NATO

Carlos Lopes Pereira

O Quénia, uma das economias em crescimento na África do Leste, está por estes dias em foco, pelos piores motivos. Desde logo pela subida do preço do pão e o aumento dos impostos pretendidos pelo governo e apoiantes, e contra os quais têm ocorrido manifestações populares em várias cidades quenianas, sobretudo em Nairobi, a capital, mobilizando milhares de pessoas.

A polícia e unidades do exército reprimiram com violência os protestos, havendo registo de mortos e feridos, além de centenas de detidos, entre os manifestantes. Num desses protestos, alguns insurgentes, sobretudo jovens, romperam as barreiras policiais e entraram no edifício do parlamento, tendo sido repelidos a tiro pelas forças «da ordem».

Apesar da repressão brutal e do recuo governamental em relação a alguns dos aumentos anunciados, os manifestantes não desistiram e encaram a possibilidade de convocar uma greve geral.

Há outras razões para o destaque do Quénia na imprensa internacional: esta semana, o presidente norte-americano designou formalmente o Quénia como «aliado principal dos EUA não pertencente à NATO».

A Casa Branca tinha explicado antes que iria tomar esta decisão devido à contribuição do país africano para «solucionar» a crise no Haiti (com o envio de centenas de polícias) e, sobretudo, para combater o «terrorismo». Em Maio, durante uma visita de Ruto a Washington – a quarta desde a sua eleição, em 2022 – Joe Biden justificou o estatuto concedido ao Quénia referindo anos de colaboração na luta contra o grupo «Estado Islâmico» no leste africano e contra os jihadistas do Al Shabaab na Somália.

«Tomo esta decisão em reconhecimento pelos muitos anos de contributos do Quénia na área de responsabilidade do Africom [comando militar dos EUA para a África] e a nível mundial, e em reconhecimento do nosso próprio interesse nacional em aprofundar a cooperação bilateral nos sectores da defesa e da segurança com o governo queniano. O Quénia é um dos principais parceiros antiterroristas e na área da segurança do governo dos EUA na África subsaariana», afirmou então o presidente norte-americano.

O estatuto especial concedido pelos EUA implica «privilégios» para o país africano, tais como o recebimento de armamento e a participação em exercícios conjuntos. Em troca, os EUA continuarão a utilizar a base militar de que dispõem na cidade costeira de Lamu para lançar as suas operações militares na região.

O Quénia junta-se assim a outros países africanos que «beneficiam» do estatuto de «aliado principal dos EUA não pertencente à NATO», que são, até agora, Marrocos, Tunísia e Egipto.

Com o envolvimento do Quénia nas guerras promovidas pelos EUA e pela NATO – na vizinha Somália e, mais recentemente, no Iémen – e a crescente vassalagem do governo de Nairobi em relação ao imperialismo norte-americano, compreende-se bem que o povo queniano se revolte, se manifeste nas ruas contra a exploração e lute pela paz, por mais desenvolvimento e progresso social.

 



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