Um Abril grande a encher em Maio

João Oliveira (Membro da Comissão Política)

“Comemorações populares do 25 de Abril atestam o enraizamento no povo dos valores de Abril e da Revolução”

As comemorações da Revolução do 25 de Abril e a jornada de luta do 1.º de Maio têm sempre uma importância política incontornável. Com eleições legislativas marcadas para o próximo dia 18 de Maio, elas têm uma repercussão política ainda mais forte.

De ambas as acções se projecta a exigência popular de uma política que dê plena concretização ao regime democrático conquistado com a Revolução de Abril e consagrado na Constituição da República, nas suas múltiplas dimensões política, económica, social e cultural.

E, no caso do 1.º de Maio, os interesses de classe dos trabalhadores surgem como critério e referência dessa política que o povo reclama, da qual necessita e cujas condições de concretização constrói com o desenvolvimento da sua luta.

A dimensão que atingiram, por todo o País, as muitas iniciativas que se realizaram de comemorações populares do 25 de Abril atestam o enraizamento no povo dos valores de Abril e da revolução que pôs fim a 48 anos de fascismo, trazendo a democracia e a liberdade por que lutaram várias gerações de democratas e resistentes antifascistas, com papel destacado assumido pelos comunistas e o seu Partido.

A tentativa feita pelo Governo PSD/CDS ainda em funções de dificultar ou esvaziar as comemorações do 25 de Abril, utilizando como pretexto o luto nacional decretado pelo falecimento do Papa Francisco, revelou-se uma tentativa fracassada. Não só as comemorações populares do 25 de Abril tiveram ampla realização, como a expressiva participação popular que se verificou acabou por confirmar-se, em si mesma, como uma derrota do Governo PSD/CDS e das suas intenções.

Segue-se agora a grande jornada de luta do 1.º de Maio à qual é preciso dar toda a força.

O 1.º de Maio tem um lugar de destaque no processo de luta pela emancipação social dos trabalhadores.

Tendo a sua origem na luta contra a exploração capitalista, pelos direitos e interesses de classe dos trabalhadores, e sendo também a sua maior jornada de luta internacional, a articulação do 1.º de Maio com a Revolução de Abril é inequívoca.

O 1.º de Maio marcou importantes momentos de luta de resistência ao fascismo e selou, em 1974, o acto libertador do 25 de Abril com a poderosa força dos trabalhadores. Com ele se deu impulso ao processo revolucionário a partir dos interesses de classe dos trabalhadores e com o objectivo da sua libertação.

Em 2025, tal como nos últimos 51 anos, o 1.º de Maio continuará a constituir expressão da luta de classes e factor de resistência e de avanço dos trabalhadores portugueses.

Nele desaguarão as lutas desenvolvidas nos locais de trabalho, nas empresas, nos mais diversos sectores. Na expressão concreta dos objectivos de cada uma dessas lutas mas também na afirmação de objectivos comuns à luta de todos os trabalhadores e das massas populares, a jornada de luta do 1.º de Maio dará um contributo de grande relevo para a afirmação da alternativa e a sua construção.

Esse contributo é sempre de um valor inestimável e torna-se ainda mais importante no contexto em que estamos de aproximação das eleições legislativas.

A afirmação dos interesses de classe dos trabalhadores e a sua expressão de massas numa jornada de luta como a do 1.º de Maio são instrumentos poderosos que, além de darem mais força a lutas e reivindicações concretas, fixam referências da política alternativa que serve os interesses dos trabalhadores, do povo e do País.

A força com que esses instrumentos serão utilizados depende da vontade e da mobilização dos trabalhadores. São os trabalhadores, organizados nos seus sindicatos de classe, que determinarão o impacto dessa jornada de luta nas suas várias dimensões. O papel dos comunistas é o de contribuir para que dela resulte uma libertação de energias tão ampla quanto a que é necessária, no contexto político, económico e social que o País atravessa, para a construção da alternativa que serve os interesses de classe dos trabalhadores. Incluindo no plano político e institucional.

O desafio que nos está colocado é o de trabalharmos decididamente para que a luta de massas e a acção e iniciativa do Partido se articulem de forma a tornar evidente a coincidência entre os interesses de classe dos trabalhadores e a política que defendemos, evidenciando igualmente a sua ligação directa à necessidade de reforço do PCP. Reforço que tem de ser considerado nas suas dimensões política e social mas também eleitoral.

Com eleições legislativas marcadas para o dia 18 de Maio é indispensável tornar claro que cada deputado da CDU eleito para a Assembleia da República é um deputado que conta para dar força às reivindicações que os trabalhadores levarão à rua no dia 1 de Maio, tal como conta para dar força à concretização da política que corresponde aos seus interesses de classe.

Por muito que custe ao capital e aos seus representantes políticos, esse é o papel ímpar e insubstituível que continuaremos a cumprir.

 



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