Palestina – hipocrisia criminosa

Ângelo Alves

Matar o maior número possível de palestinianos é objectivo de Israel

Já faltam as palavras para descrever a barbárie na Palestina ou para classificar a acção do governo israelita e das suas forças militares. O paralelismo com alguns dos mais negros episódios da História, designadamente os terríveis crimes do nazi-fascismo, é já inevitável. No domingo, mais um relato tenebroso: pelo menos 31 mortos e 170 feridos num único ataque israelita com drones e tanques contra uma multidão de civis famintos que buscavam comida no denominado “centro de ajuda americano”. Um crime sem nome, que vitimou várias crianças no Dia Internacional da Criança, que vem confirmar o carácter terrorista e macabro da estratégia de Israel de, em conluio com os EUA, utilizar, para lá dos massacres militares, a fome como arma de guerra e método de deslocação e extermínio de uma população.

É difícil encontrar outros exemplos de um plano tão sinistro: cria-se metodicamente uma situação de catástrofe humanitária (a fome está generalizada a toda a população de Gaza); apesar da situação catastrófica mantém-se o bloqueio à entrada de ajuda humanitária no território e impede-se a acção da ONU e suas estruturas; simultaneamente instala-se uma “fundação privada” criada e financiada pelos EUA e por Israel no território, na prática uma extensão das forças militares israelitas que ocupam já cerca de 80% do território da Faixa de Gaza; depois de destruídas dezenas de instalações humanitárias, criam-se de forma sádica e calculista os “centros de ajuda”, designadamente junto à fronteira sul da Faixa de Gaza para obrigar a concentrar os dois milhões de palestinianos com fome naquela zona; fomenta-se o caos e o exército israelita faz o resto, disparando indiscriminadamente sobre a população faminta, criando uma situação de terror generalizada.

É cada vez mais evidente que para Israel vale tudo, a desumanização é total. Sameh Hamuda, de 33 anos, que fugiu e sobreviveu ao ataque, resumiu a situação desta forma: «Desde que estejas em Gaza, a morte persegue-te». Israel já não consegue esconder ou mascarar os seus objectivos: matar o maior número possível de palestinianos; destruir por completo a Faixa de Gaza; expulsar os que sobreviverem e ocupar todo o território de Gaza. Mas não só. Na Cisjordânia são já 1000 os palestinianos mortos às mãos de Israel. Mais de 40 mil pessoas, vivendo na sua maioria em campos de refugiados, foram expulsas e as suas habitações destruídas. O Governo israelita anunciou na semana passada a criação de 22 novos colonatos e age como dono e senhor do território tendo inclusive cometido uma brutal ilegalidade ao proibir uma delegação de ministros de negócios estrangeiros da Jordânia, Arábia Saudita, Egipto, Catar, Bahrein, Turquia, Indonésia e Nigéria, onde se incluía também o Secretário-Geral da Liga Árabe, de visitar a Palestina e ali realizar uma reunião com a Autoridade Palestiniana, que acabou por se realizar online.

Estes e muitos outros países participarão de 17 a 20 de Junho numa conferência da ONU sobre “a solução pacífica da questão palestiniana a implementação da solução dos dois estados”. Isso suscita-nos um comentário: se não forem decididas acções concretas que obriguem Israel a parar de imediato com o genocídio, a compensar os palestinianos pela destruição, a retirar-se dos territórios ocupados para as fronteiras de 1967, a desmantelar os colonatos, criando-se assim um ponto inicial para construir essa solução, então a hipocrisia atingirá um nível ainda mais insuportável e criminoso.



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