Piotr Simonenko, primeiro-secretário do Partido Comunista da Ucrânia

Contra o fascismo e a guerra

Domingos Mealha

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Ao co­lo­carem como ob­jec­tivo in­te­grar a Ucrânia na Nato – uma de­cisão que o PCU re­jeita e que iria agravar mais a si­tu­ação no país e na Eu­ropa –, os ac­tuais go­ver­nantes vêem nisso uma forma de ga­ran­tirem a sua per­ma­nência no poder, acusa o pri­meiro-se­cre­tário do Par­tido Co­mu­nista da Ucrânia.

Piotr Si­mo­nenko ex­plica que, com o golpe de Fe­ve­reiro de 2014, o poder em Kiev foi to­mado por «oli­garcas e re­pre­sen­tantes de forças po­lí­ticas que de­fendem ideias ne­o­fas­cistas». O pró­prio pre­si­dente Po­ro­chenko é um oli­garca, cuja ri­queza pes­soal au­mentou sete vezes ao fim de um ano de man­dato. Mas estes oli­garcas «de­pendem das or­dens que re­cebem do es­tran­geiro». Por outro lado, «voltou ao poder toda a equipa de Ius­chenko, de 2004-2005», que «es­teve sempre sob cer­rado con­trolo dos ame­ri­canos». Si­mo­nenko lembra que os pró­prios EUA ad­mi­tiram ter gasto então cinco mil mi­lhões de dó­lares para a «de­mo­cracia», e assim cri­aram a sua «quinta co­luna». Hoje «a Ucrânia está a ser go­ver­nada de fora e é sig­ni­fi­ca­tivo que ci­da­dãos de ou­tros es­tados sejam no­me­ados mi­nis­tros».

A di­ta­dura per­segue os co­mu­nistas, todos aqueles que dis­cordam, os de­mo­cratas. Não são ad­mi­tidos pontos de vista di­fe­rentes e não existe diá­logo com as ou­tras forças po­lí­ticas. Agridem e matam jor­na­listas e can­di­datos a de­pu­tados. Si­mo­nenko conta que ele mesmo já foi su­jeito a in­ter­ro­ga­tó­rios dos ser­viços de se­gu­rança que du­raram onze horas e meia, e foi alvo de quatro pro­cessos-crime, todos sem qual­quer razão vá­lida. Contra ou­tros di­ri­gentes do PCU correm 400 pro­cessos. Mas para o pri­meiro-se­cre­tário do PCU, a re­pressão «não é o prin­cipal».

A Ucrânia perdeu neste ano e meio 20 por cento da ca­pa­ci­dade in­dus­trial. «Foram des­truídas fá­bricas e em­presas na zona de guerra, foi li­qui­dada muita da nossa in­dús­tria pe­sada» e agora «está a ser des­man­te­lado o com­plexo mi­litar-in­dus­trial». O país de hoje «não tem nada a ver com a Ucrânia que co­nhe­cemos quando en­viá­vamos naves para o es­paço». Está a ser de­for­mado o En­sino Su­pe­rior, que «não está a pre­parar es­pe­ci­a­listas para a pro­dução real, mas para que os pro­pri­e­tá­rios ga­nhem di­nheiro». Havia «uma di­ver­si­dade de cul­turas agrí­colas e uma pe­cuária de­sen­vol­vida», agora existe «uma mo­no­cul­tura», «o leite é im­por­tado da Po­lónia, a carne vem do Brasil ou da Aus­trália» e «a agri­cul­tura da Ucrânia deixou de ser fonte de ma­téria-prima para a in­dús­tria trans­for­ma­dora».

Piotr Si­mo­nenko ob­serva que «os em­prés­timos do FMI cri­aram uma dí­vida que hoje equi­vale à to­ta­li­dade do pro­duto in­terno bruto». O país «não con­segue pagar» e «a re­es­tru­tu­ração da dí­vida sig­ni­ficou o re­co­nhe­ci­mento de que a Ucrânia está em si­tu­ação de de­fault». Para a guerra vão 30 por cento do Or­ça­mento, logo, os em­prés­timos da União Eu­ro­peia estão a fi­nan­ciar a guerra, que des­trói a eco­nomia da Ucrânia, ge­rando mi­lhões de de­sem­pre­gados. «Se a Rússia, onde já se re­fu­giou um mi­lhão de ucra­ni­anos, re­solve fe­char a fron­teira, todos estes de­sem­pre­gados virão para a União Eu­ro­peia, onde já há um grave pro­blema de re­fu­gi­ados», alerta o prin­cipal di­ri­gente do PCU, re­gis­tando que os go­vernos da União Eu­ro­peia di­ziam que o apoio ao re­gime da Ucrânia era para de­fender a de­mo­cracia, mas «o re­sul­tado é apenas sangue e guerra».

O PCU pre­o­cupa-se com a de­fesa e se­gu­rança dos co­mu­nistas. Tra­balha para uma mu­dança de cons­ci­ên­cias nos ci­da­dãos. E de­sen­volve a co­o­pe­ração com os amigos na Eu­ropa, com os par­tidos co­mu­nistas e o grupo no Par­la­mento Eu­ropeu. Piotr Si­mo­nenko es­teve em França, na Ale­manha, na Re­pú­blica Checa, e aponta re­sul­tados po­si­tivos desses con­tactos.

«Agra­de­cido, aceitei o con­vite dos ca­ma­radas do PCP para vir a esta festa fan­tás­tica», porque o Par­tido «foi o pri­meiro a re­agir ao apelo do PCU para con­so­li­darmos os nossos es­forços na luta contra o fas­cismo que es­tava a surgir e contra a ins­tau­ração de uma di­ta­dura fas­cista no nosso país». «Nessa his­teria e nesse de­lírio an­ti­co­mu­nista, o poder ucra­niano de­sen­ca­deou um pro­cesso po­lí­tico contra o PCU e contra a nossa ide­o­logia, contra pes­soas con­cretas». Na al­tura, «ca­ma­radas do PCP foram à Ucrânia, acom­pa­nharam o jul­ga­mento, a Eu­ropa ficou a saber da po­sição do PCP a apoiar-nos» e «isso teve, sem dú­vida, uma grande in­fluência na des­mon­tagem desse pro­cesso que vi­sava ile­ga­lizar o PCU», afirma Si­mo­nenko.

Va­lo­rizou também «esta opor­tu­ni­dade única de falar da re­a­li­dade da Ucrânia aos nossos amigos e a todos os par­ti­ci­pantes na Festa». Si­mo­nenko con­si­dera que «isto é muito im­por­tante, para po­dermos ajustar as nossas to­madas de po­sição, ver como juntos po­demos in­flu­en­ciar os go­vernos e os par­la­mentos de cada país, no in­te­resse da paz na Eu­ropa e contra o fas­cismo, que le­vantou a ca­beça no con­ti­nente e já ocupa o poder na Ucrânia, tal como contra o agra­va­mento de con­flitos e a mul­ti­pli­cação de focos de tensão».




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