Médio Oriente a ferro e fogo
Israel recusa processo de paz
Desde o início da Intifada morreram pelo menos 1371 pessoas, das quais 1043 palestinianos e 305 israelitas. Ariel Sharon continua a recusar um plano de paz para o Médio Oriente.
O governo israelita recusou a proposta saudita que visava retomar as negociações de paz com os palestinianos e pôr fim a 17 meses de sangrentos confrontos na região. O plano de paz de príncipe Abdallah foi recusado domingo na reunião semanal do Conselho de Ministros, presidido por Ariel Sharon. Como justificação, os israelitas argumentaram que esta iniciativa «põe em perigo a segurança de Israel».
O plano postulava o reconhecimento de Israel como nação, acolhida de «braços abertos» pelos países árabes. Em troca, o governo de Ariel Sharon retiraria as suas tropas dos territórios palestinianos, regressando às fronteiras de 1967, altura em que ocupou Gaza e a Cisjordânia.
Em contrapartida, o gabinete de segurança israelita decidiu intensificar as operações militares israelitas contra os palestinianos em represália de um atentado palestiniano que vitimou 20 israelitas. O gabinete, reunido durante três horas, aprovou por unanimidade os princípios das operações militares levadas a cabo pelo exército israelita destinadas a exercer uma pressão constante sobre a autoridade palestiniana. Os israelitas vão assim intensificar os ataques aéreos e desenvolver outras acções similares às efectuadas durante o fim-de-semana nos campos de refugiados palestinianos que provocaram a morte a dezenas de pessoas.
Em declarações escandalosas, Ariel Sharon afirmou em conferência de imprensa que «os palestinianos devem sofrer golpes ainda mais duros, pois se eles não sentirem que foram vencidos, não chegaremos à negociação». «É preciso causar-lhes muitas perdas», disse o presidente israelita aos jornalistas.
Ripostar os crimes cometidos
Entretanto, o secretário do governo palestiniano, Ahmad Abdelrahman ameaçou Israel de uma «punição» na sequência da morte de palestinianos pelo exército israelita na Cisjordânia. «Ariel Sharon e o seu governo devem saber que a resistência palestiniana e os seus heróis não hesitarão em atacar dolorosamente Israel e os colonatos nas nossas terras», declarou.
Por seu lado, o movimento islâmico Hamas ameaçou igualmente «ripostar os crimes cometidos pelo exército israelita» nos territórios ocupados. «Não vamos assistir de braços cruzados aos crimes cometidos por Sharon e vamos ripostar», declarou um responsável da organização.
Numerosos apelos à vingança contra Israel foram também expressos por milhares de palestinianos que participaram nos funerais de três pessoas mortas durante uma incursão israelita. «A nossa resposta será dada pelas brigadas de mártires de Al-Aqsa e pela de Ezzedine al-Qassam (grupo armado ligado ao Fatah)», gritou a multidão.
Escalada de terror
Terça-feira em Jerusalém, quatro palestinos ficaram feridos, entre eles um professor, durante a explosão de uma bomba, colocada no pátio de uma escola do bairro árabe de Tzur Baher.
Dois minutos antes da explosão, a autoria do atentado foi reivindicado, através de um telefonema, por um interlocutor anónimo que afirmou pertencer a um grupo clandestino de extrema-direita israelita.
Na Cisjordânia, na cidade de Dura, um polícia palestino morreu e dois outros ficaram feridos, na noite de segunda-feira, durante uma incursão israelita. A vítima mortal e os dois feridos pertenciam à Força 17, encarregue da segurança pessoal de Yasser Arafat.
No mesmo dia, helicópteros do exército israelita atacaram os edifícios da Autoridade Nacional Palestina, em Khan Yuonès, na Faixa de Gaza. Os helicópteros lançaram, pelo menos, três mísseis contra os escritórios da segurança palestina.
Entretanto, uma dezenas de tanques israelitas penetraram na cidade de El Khader, em Belém, na Cisjordânia, segundo responsáveis dos serviços de segurança palestinos.
Criticas internacionais
A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos,
Mary Robinson, manifestou grande preocupação pela degradação
da situação nos territórios palestinianos ocupados por
Israel, e defendeu «uma acção política que dê
esperança de pôr termo ao ciclo de violência».
Também a Jordânia pediu que não sejam anuladas as hipóteses de paz que oferece a iniciativa saudita.
O governo do Kuwait reagiu igualmente aos acontecimentos no Médio Oriente, condenando «os actos criminosos» perpetrados por forças israelitas contra o povo palestiniano».
O alto representante da União Europeia para a Política Externa, Javier Solana, instou o governo de Israel a levantar as restrições de movimentos impostas ao presidente palestiniano, Yasser Arafat. «A violência que se desenvolveu nas últimas horas, nos últimos dias, não contribui em nada para criar um clima propício a negociações», disse Solana, insistindo em que «seria útil» Arafat poder movimentar-se e «assistir às conversações sobre a proposta de paz saudita».
A França e a Espanha condenaram também a escalada de violência.
José Piquet, ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, afirmou
que «os israelitas e os palestinianos devem pôr fim à violência
crescente no Médio Oriente antes de iniciarem qualquer tentativa de negociação».
«Avante!» Nº 1475 - 7.Março.2002