Rui Paz
O anúncio pelos Estados Unidos de que as forças especiais alemãs estão a participar na chamada «Operação anaconda» (a cobra que tudo devora), em combates nas montanhas do Afeganistão, caiu como uma bomba na Alemanha. Note-se que até agora o governo alemão afirmava que a presença da Bundeswehr naquele país estava confinada a Cabul e limitava-se a garantir a segurança da capital afegã.
Em Berlim, nem os deputados, nem a maioria dos membros do governo e dos dirigentes políticos têm conhecimento do que se está a passar verdadeiramente com a Bundeswehr no Afeganistão. O responsável pela política de Defesa da democracia-cristã, Paul Breuer, afirmou no telejornal (ARD) que «não existe nenhuma transparência sobre o que fazem os soldados alemães no estrangeiro e qual é o papel da Bundeswehr em Cabul», e prosseguiu constatando que os militares alemães foram degradados como simples «ajudantes» dos americanos. Por sua vez, o porta-voz do ministério da Defesa insurgiu-se dizendo que «não era necessário que os EUA tivessem revelado a participação da Alemanha nas operações no Afeganistão».
O governo social-democrata de Schröder pratica uma política militar de total submissão aos interesses dos Estados Unidos e da família Bush, colocando a Bundeswehr sob as ordens de Washington, mas com receio da opinião pública esconde os perigos para os soldados e para o povo alemão resultantes do envolvimento militar de Berlim.
Na mesa redonda «a verdade e a guerra» - que a WDR decidiu realizar
todas as segundas-feiras desde que Milosevic, na sua defesa em Haia, desmascarou
a NATO e a política agressiva de Kohl e Schröder contra Belgrado
- a jornalista do Monitor, Sónia Mikich, queixou-se que neste momento
«encontram-se no estrangeiro dez mil soldados alemães, mas ninguém
sabe o que estão lá a fazer. Só nos mostram gráficos,
mas não nos deixam contactar com os soldados. E mesmo quando organizam
encontros ou visitas entre jordados e jornalistas não é seguro
que nos estejam a dizer a verdade». A deputada do SPD no Parlamento Europeu,
Karin Junker, responsável pela política dos media, confirmou que
«em tempo de guerra a mentira é uma arma», e que «a
verdade é a primeira a morrer». E Willy Wimmer, da CDU, sublinhou
que «os media perderam a credibilidade neste país», garantindo
ter «um sentido crítico maior do que muitos social-democratas em
Berlim ou em Düsseldorf».
«Avante!» Nº 1475 - 7.Março.2002