Palestina contra
condenações internacionais
A Palestina manifestou-se contra a forma como as autoridades israelitas relataram o ataque feito em Hebron, assim como as condenações internacionais que se seguiram.
«As autoridades israelitas falam de massacres e de agressão contra fieis quando, de facto, os únicos que morreram ou foram feridos foram militares israelitas ou membros dos serviços de segurança», indicou, segunda-feira, a representação palestiniana na ONU.
«Certos membros da comunidade internacional exprimiram o seu entusiasmo falando de actos terroristas, mas quando a Autoridade Palestiniana continua favorável às negociações pacificas é essencial sublinhar o contexto legal da situação», refere o comunicado, acrescentando: «Os colonatos são ilegais. É absolutamente legítimo para o povo palestiniano resistir à sua presença que equivale a uma negação dos nossos direitos nacionais».
«As tomadas de posição de membros da comunidade internacional, contra a violência, feitas sem clarificação ou explicação do seu contexto legal, servem para encorajar Israel a prosseguir a colonização que realiza com empenho nos territórios palestinianos», continua o texto.
As condenações internacionais que se seguiram ao incidente, de sexta-feira, perto de Hebron, no qual morreram doze israelitas, foram também alvo de críticas por parte da representação palestiniana na ONU. Uma referência a Kofi Annan que se mostrou «horrorizado pelo ataque terrorista».
Entretanto, um porta-voz do secretariado geral das Nações Unidas, Stéphane Dujarric, reconheceu que esta reacção foi baseada em informações incorrectas, mas sublinhou que Kofi Annan está «profundamente preocupado com a espiral de violência que continua em Israel e na Palestina.
Eleições em causa
O secretário-geral do Comité Central das Eleições Palestinianas, Ali Jarbaoui, afirmou, no início da semana, que a ocupação dos territórios autónomos palestinianos por parte do exército israelita poderá comprometer a organização das eleições gerais para a Autoridade Palestiniana.
«O Comité Central das Eleições (CCE) não poderá desempenhar as suas funções, que consistem em preparar as listas de eleitores, garantir a realização de campanhas eleitorais e organizar um escrutínio livre, se a reocupação, o cerco e as restrições de movimento dos palestinianos continuarem», disse o secretário-geral do CEE.
«Não podemos continuar assim. Para que nos reunamos, é preciso que beneficiemos de liberdade de movimentos», acrescentou Ali Jarbaoui.
Jarbaoui adiantou ainda que o Comité responsável pela organização do processo eleitoral palestiniano «se reuniu apenas uma vez por videoconferência», facto que resulta das medidas de segurança excepcionais impostas pelas autoridades israelitas.
Recorde-se que o presidente da Autoridade Palestiniana, Yasser Arafat, fixou, através de um decreto promulgado em Setembro passado, a realização de eleições gerais, presidenciais e legislativas, a 20 de Janeiro de 2003.
«O povo está frustrado»
«Várias condições devem ser preenchidas antes de realizar eleições, nomeadamente a preparação de um novo sistema eleitoral que lançará os alicerces de um Estado. Há discussões em curso no seio da Fatah e em todos os outros movimentos nacionais para chegar ao melhor sistema eleitoral a adoptar», afirmou Sakher Habache, dirigente da Fatah, formação política de Yasser Arafat.
O Conselho Legislativo palestiniano, ainda não teve oportunidade, face às medidas impostas por Telavive, de analisar as diferentes propostas de reformas políticas, designadamente um aumento dos assentos parlamentares de 88 para 120 e a adopção do sistema de representação proporcional.
«O povo está frustrado. Como é possível realizar eleições sob ocupação?», questionou-se o deputado da Fatah Kaddoura Fares. «Mesmo que o processo eleitoral seja posto em prática, quem pode garantir que os tanques israelitas não vão intervir?».
Israel usa escudos humanos
A associação israelita de defesa dos Direitos Humanos nos territórios palestinianos, B´T selem, acusou, na passada semana, o exercito de Telavive de «utilizar os palestinianos como «escudos humanos apesar de uma proibição do Supremo Tribunal» de Israel, numa operação em Jénine, na Cisjordânia, a 9 de Novembro, na qual foi assassinado Iyad Sawlha, chefe local das Brigadas Mártires de al-Aqsa.
A organização israelita de Direitos Humanos denuncia ainda o
facto dos soldados se continuarem a servir dos palestinianos, obrigando-os a
convencerem os activistas armados a render-se.
«Avante!» Nº 1512 - 21.Novembro.2002