Jornada extraordinária a Norte
«Magnífico» e «extraordinário» eram alguns dos adjectivos empregues, com frequência, nas conversas entre aqueles que, no sábado à tarde, iam chegando à Praça da Liberdade, no Porto, para descreverem a manifestação que integravam e cuja «cauda», na altura, ainda se encontrava na Ponte do Infante, saída de Vila Nova de Gaia.
Já muitos chegavam à Praça da Liberdade, ainda os últimos estavam na Ponte
«São entre 50 e 60 mil» – dizia-se no som central da organização – «e a aumentar», reflectindo dessa forma a impressão comum de que algo de especial estava a ocorrer. De facto, assim era.
Perante aquela Praça e a Avenida dos Aliados, repletas de manifestantes, a primeira reacção – e a mais natural – seria procurar na memória a última vez que houve oportunidade de ter semelhante visão; e se, em resultado dessa pesquisa, o registo do passado surge turvo e não oferece uma resposta pronta, então, indubitavelmente, conclui-se que estamos perante algo merecedor de ser classificado como «magnífico» ou «extraordinário».
No palco da CGTP-IN, as intervenções sindicais começaram com Joana Jesus, da Direcção Regional do Porto da Interjovem. Considerou que ali estava a ocorrer uma manifestação da «força e unidade dos trabalhadores, desempregados, do povo português e, em especial, dos jovens, que estão em luta contra este Governo, em luta contra esta política de direita que nos está a roubar o presente e o futuro». Recordou que «mais de 42 por cento dos jovens encontram-se na condição de desempregados, outros estão a trabalhar de graça, em estágios não remunerados, outros ainda trabalham com contratos precários» e são «vítimas das ameaças do patronato, dos baixos salários e da exploração».
João Torres, membro da Comissão Executiva da CGTP-IN e coordenador da União dos Sindicatos do Porto, tomou de seguida a palavra. Usou palavras tão duras na condenação da política de direita dos partidos da «troika», como duras são as consequências dessa mesma política na vida do povo português: «O Governo de Portas e Passos, pela forma como desgoverna o País e desgraça a maioria dos portugueses, mais parece uma quadrilha de assaltantes, a julgar pela forma soez como rouba os mais fracos e pobres para descaradamente dar o produto desse roubo aos mais ricos e poderosos!»
Apontou, de seguida, alguns graves resultados dessa política: deixa um milhão e meio de trabalhadores sem emprego, a maioria deles sem protecção social; força a emigração, escorraça mais de 220 mil famílias, na sua esmagadora maioria jovens; trouxe de volta a fome a um número crescente de famílias, atingindo sobretudo as crianças; e traz a pobreza aos mais idosos e desprotegidos, ao quais «reserva um fim de vida trágico».
Tal como sucedeu em Lisboa, com Arménio Carlos, foi sob fortes aplausos que João Torres afirmou: «Hoje, no Porto e em Lisboa, fizemos uma das lutas mais intensas, vibrantes e determinadas do movimento sindical e dos trabalhadores portugueses».
A resposta popular nos distritos do Norte veio comprovar que se trata de uma luta que não vai parar, «por Abril, contra a exploração e o empobrecimento».