Cineavante

Cinema que põe tudo em perspectiva

Se o ci­nema é a arte da pers­pec­tiva, foi pre­ci­sa­mente esta – his­tó­rica, de classe – que o Ci­ne­A­vante acres­centou a tudo quanto teve lugar na Festa do Avante!. Abra­çados pela baía do Seixal, à beira do lago, pre­sen­te­ados com a pos­si­bi­li­dade muito rara de ver ci­nema ao ar livre, os vi­si­tantes da Festa aco­lheram a es­colha ins­pi­rada de – no ano em que ce­le­bramos 50 anos da Re­vo­lução do 25 de Abril – abrir a pro­gra­mação com 25 Can­ções de Abril, uma re­a­li­zação co­lec­tiva de 1977 co­or­de­nada por Luís Gaspar – ca­ma­rada ac­tivo na cé­lula do ci­nema do PCP no pós-25 de Abril – que trans­portou até 2024 na Quinta da Ata­laia o es­pec­tá­culo pro­mo­vido pelo PCP em 1977 no Co­liseu do Porto, com José Carlos Ary dos Santos, Luísa Basto, Adriano Cor­reia de Oli­veira, To­nicha, Fer­nando Tordo, Paulo de Car­valho e Carlos do Carmo, entre ou­tros. O filme, res­tau­rado di­gi­tal­mente este ano pelo Ar­quivo Na­ci­onal de Imagem em Mo­vi­mento, teve a sessão apre­sen­tada pelo seu di­rector Tiago Bap­tista, se­guindo-se-lhe o do­cu­men­tário chi­leno Himno re­a­li­zado por Martín Fa­rías, que conta a his­tória da canção O povo unido ja­mais será ven­cido, e que in­clui uma en­tre­vista iné­dita a Luís Cília, in­tér­prete que trouxe a canção para o con­texto re­vo­lu­ci­o­nário por­tu­guês. Noite de en­contro entre as can­ções da dé­cada de 70 e as de 2024 - cujo eco ao longe nos che­gava do palco 25 de Abril.

No sá­bado à noite, curtas-me­tra­gens con­tem­po­râ­neas: Mau por um mo­mento re­a­li­zada por Da­niel So­ares, mos­trou-nos, com uma pers­pec­tiva re­ve­la­dora das in­jus­tiças de classe, um epi­sódio na vida de um ar­qui­tecto no qual este é con­fron­tado com o seu pri­vi­légio so­cial face à re­a­li­dade da po­pu­lação de um bairro so­cial em Al­mada que este está a ajudar a gen­tri­ficar. Por outro lado, a ani­mação Per­cebes, re­a­li­zado por Ale­xandra Ra­mires e Laura Gon­çalves, e que teve a sua sessão apre­sen­tada pelo ar­qui­tecto e ma­ris­cador al­garvio André Mar­tins, lem­brou-nos que o tra­balho está no centro de toda a vida: não há co­mida sem que al­guém tenha tido o tra­balho de a apa­nhar. Na mesma noite, A Flor do Bu­riti re­a­li­zado por Renée Nader Mes­sora e João Sa­la­viza, mos­trou-nos como a luta dos povos in­dí­genas, neste caso o povo craô no es­tado do To­can­tins, no Brasil, mas­sa­crados pelo ca­pi­ta­lismo até hoje, é a mesma luta que travam todos os povos do mundo.

No do­mingo, a média-me­tragem 2720, re­a­li­zada por Basil da Cunha, trouxe até à Quinta da Ata­laia o bairro da Re­bo­leira na Ama­dora, e com ele a re­a­li­dade do povo opri­mido pela de­si­gual­dade im­posta pela classe do­mi­nante às classes ex­plo­radas, da qual con­ti­nuam a ser ví­timas tantos des­cen­dentes de po­pu­la­ções co­lo­ni­zadas. Pa­relha per­feita com As Me­lu­sinas à Margem do Rio re­a­li­zado por Me­lanie Pe­reira, que re­trata numa pers­pec­tiva cons­ci­ente da sua classe os traumas in­fli­gidos aos fi­lhos da classe tra­ba­lha­dora pelo sis­tema ca­pi­ta­lista no seu sis­té­mico ali­ci­a­mento ao de­sen­rai­za­mento e à emi­gração. Sessão apre­sen­tada pelo pro­dutor do filme, Pedro Neves, que disse ao Avante! que «exibir As Me­lu­sinas na Festa do Avante! é par­ti­lhar o nosso tra­balho no es­paço com mais ale­gria e so­li­da­ri­e­dade por metro qua­drado que co­nheço».



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