Espaço Internacional

Unir pela paz e o progresso social com amizade e alegria


«Todos pela paz», lia-se em grandes letras brancas à entrada do Espaço Internacional, no pórtico decorado com referências ao posicionamento histórico dos comunistas: a bandeira vermelha com a foice, o martelo e a estrela, sobre o globo terrestre, e a pomba branca da paz – evocando o internacionalismo, a solidariedade e, citando Lénine, «o fim das guerras, a paz entre os povos, o fim das pilhagens e violências – tal é o nosso ideal».

Nas pa­redes, be­lís­simas pin­turas davam ex­pressão con­creta – e ac­tu­a­li­zada – àqueles va­lores: exi­gindo a dis­so­lução da NATO; ape­lando à luta em de­fesa da li­ber­dade e da de­mo­cracia, contra o fas­cismo; pres­tando so­li­da­ri­e­dade à luta dos povos pela paz, a so­be­rania e o pro­gresso so­cial.

«Cuba ven­cerá!» era o que se podia ler numa delas, evo­cando a re­sis­tência do povo cu­bano – e do seu Par­tido Co­mu­nista – ao blo­queio e às ame­aças do im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano. Outra des­ta­cava a Ve­ne­zuela bo­li­va­riana, que en­frenta as ma­no­bras de in­ge­rência e de­ses­ta­bi­li­zação do im­pe­ri­a­lismo e da ex­trema-di­reita gol­pista. Nos 50 anos do golpe de Es­tado e da ocu­pação turca, des­tacou-se a luta do povo ci­priota pela reu­ni­fi­cação do seu país, e de­nun­ciou-se a per­sis­tência em pleno sé­culo XXI de uma co­lónia no con­ti­nente afri­cano, no caso o Sara Oci­dental, ocu­pado desde 1975 pelo Reino de Mar­rocos. Ao lado do mural, uma jaima (tenda), onde até era pos­sível tomar um chá, mos­trava como vivem mi­lhares de sa­rauís nos campos de re­fu­gi­ados si­tu­ados em pleno de­serto.

«Fim ao ge­no­cídio, Pa­les­tina livre e in­de­pen­dente!» era a frase ins­crita numa pin­tura que evo­cava a Faixa de Gaza através da re­pro­dução de um ex­certo da «Guer­nica», de Pi­casso: a mu­lher de­ses­pe­rada que se­gura ao colo o filho morto (si­tu­ação vi­vida na lo­ca­li­dade basca bom­bar­deada pelos nazis em 1937 e re­pe­tida mi­lhares de vezes nos úl­timos meses no ter­ri­tório pa­les­ti­niano).



So­li­da­ri­e­dade é a ter­nura dos povos

A pre­sença da so­li­da­ri­e­dade es­teve longe de se li­mitar às pa­redes do Es­paço In­ter­na­ci­onal: no caso da Pa­les­tina, so­bre­tudo, ela ex­pressou-se em di­versos mo­mentos, pro­gra­mados ou es­pon­tâ­neos (eram tantas as ban­deiras e os lenços…). Para além dos seis de­bates re­a­li­zados no Es­paço In­ter­na­ci­onal (ver pá­gina 34), houve mo­mentos de so­li­da­ri­e­dade em vá­rios lo­cais da Festa, onde foi pos­sível ouvir na pri­meira pessoa re­latos da luta dos povos: Sara Oci­dental – cum­prir o di­reito à au­to­de­ter­mi­nação, no Porto, com a Frente Po­li­sário e Julie Neves; So­li­da­ri­e­dade com a Ve­ne­zuela bo­li­va­riana!, em Lisboa, com a em­bai­xa­dora Mary Flores, o jor­na­lista Pas­cual Ser­rano e João Pi­menta Lopes, do Co­mité Cen­tral ; Cuba ven­cerá! Fim do Blo­queio dos EUA!, em Coimbra, com o em­bai­xador José Ramón Sa­bo­rido Loidi, o pre­si­dente da As­so­ci­ação de Ami­zade Por­tugal-Cuba, Au­gusto Fi­dalgo, e Sandra Pe­reira, do Sector In­te­lec­tual da ORL; Nos 50 anos de ocu­pação Turca – Pela reu­ni­fi­cação de Chipre!, em Se­túbal, com Pedro Guer­reiro, do Se­cre­ta­riado do CC, e um re­pre­sen­tante do Par­tido Pro­gres­sista do Povo Tra­ba­lhador/ AKEL; So­li­da­ri­e­dade com os povos da Amé­rica La­tina!, no Al­garve, com Cris­tina Car­doso, da Secção In­ter­na­ci­onal do PCP, e re­pre­sen­tantes do Par­tido Co­mu­nista do Brasil, Par­tido Co­mu­nista Co­lom­biano, Par­tido Co­mu­nista do Chile, Par­tido Co­mu­nista do Uru­guai e Par­tido Co­mu­nista da Bo­lívia; África é dos seus povos, no Alen­tejo, com mem­bros das de­le­ga­ções do MPLA (An­gola), MLSTP (São Tomé e Prín­cipe), FRE­LIMO (Mo­çam­bique), PAIGC (Guiné-Bissau) e PAICV (Cabo Verde) e, pelo PCP, Mau­rício Mi­guel, da sua Secção In­ter­na­ci­onal.

Ao mo­mento de so­li­da­ri­e­dade com a Pa­les­tina, re­a­li­zado no Palco Paz ao final da tarde de sá­bado, re­fe­rimo-nos com por­menor na pá­gina se­guinte.

«Todos juntos pela paz e o pro­gresso»

Na ex­po­sição pa­tente na­quele es­paço ex­pla­nava-se a pers­pec­tiva do PCP sobre as ame­aças à paz que marcam o nosso tempo. Num pri­meiro painel de­fendia-se o fim da es­tra­tégia de con­fron­tação e guerra mo­vida pelo im­pe­ri­a­lismo contra o di­reito dos povos ao de­sen­vol­vi­mento. Nos se­guintes, de­nun­ciava-se o ge­no­cídio em curso contra o povo pa­les­ti­niano e todo o ca­minho que con­duziu ao con­flito em curso na Ucrânia.

«Não à hi­po­crisia», lia-se no quarto painel, onde se aler­tava para as nar­ra­tivas em voga, que pro­curam apagar as res­pon­sa­bi­li­dades do im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano (e seus se­quazes), tra­ves­tindo-o de de­fensor da «li­ber­dade» e dos «di­reitos hu­manos». E a Ju­gos­lávia? E o Afe­ga­nistão? E o Iraque? E a Líbia? E os alar­ga­mentos da NATO? E a mi­li­ta­ri­zação do Pa­cí­fico?…

Num apelo ao pen­sa­mento crí­tico, o PCP ques­ti­o­nava: «onde está o ini­migo prin­cipal?». E de­nun­ciava o papel da «in­dús­tria da morte». O que fazer? Re­sistir e lutar, em uni­dade, contra o fas­cismo e a guerra, em de­fesa da paz, dos va­lores de Abril e da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa: «Todos juntos pela paz e o pro­gresso!»

 

O le­gado de Amílcar Ca­bral está vivo

Os 100 anos de Amílcar Ca­bral ti­veram forte ex­pressão na Festa do Avante!, com di­versas evo­ca­ções do seu pen­sa­mento, da sua luta e do seu le­gado. Houve de­bates, apre­sen­ta­ções de li­vros, pin­turas di­versas e até ca­mi­solas (a JCP, por exemplo, editou uma). No Es­paço In­ter­na­ci­onal, um belo mural evo­cava o com­ba­tente an­ti­co­lo­ni­a­lista e an­ti­fas­cista, onde ao lado do seu re­trato podia ler-se uma frase da sua au­toria, tão ac­tual que podia ter sido es­crita hoje: «Os povos opri­midos de África, Ásia e Amé­rica La­tina são ne­ces­sa­ri­a­mente cha­mados a jogar um papel de­ci­sivo na luta pela li­qui­dação do sis­tema im­pe­ri­a­lista mun­dial, de que são as prin­ci­pais ví­timas».

 



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