Não voltaremos atrás
1. Para a guerra colonial portuguesa o fascismo mobilizou, entre 1961 e 1974, perto de um milhão de soldados, cerca de 90% da população masculina jovem do País: quase 10 mil morreram e muitos milhares ficaram feridos. As baixas africanas foram muito superiores. Mais de 100 mil antigos combatentes terão desenvolvido stress pós-traumático.
2. A guerra não afectou apenas quem nela participou directamente: houve mães que choraram a perda dos filhos e esposas que receberam maridos mutilados. E havia a espera – angustiante, dolorosa – por más notícias que poderiam chegar a qualquer momento… «Também os filhos desta geração – os filhos dos homens que estiveram na guerra – foram expostos a um conjunto de circunstâncias que, de alguma forma, interferiram no seu desenvolvimento e na sua posterior vulnerabilidade e resiliência ao trauma», lê-se na apresentação de um estudo produzido, entre 2007 e 2011, pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, precisamente sobre o impacto indirecto da guerra nas famílias dos combatentes: violência, maus-tratos, negligência física e psicológica marcaram muitas delas, com impacto particular nas crianças.
3. O esforço de guerra do fascismo condicionou o desenvolvimento nacional. Em 1971, por exemplo, a mobilização e manutenção de forças militares em África absorvia quase 45% das receitas do Estado. Para escapar ao desemprego, à miséria e à inevitável mobilização militar, milhares de jovens emigraram, de forma legal ou clandestina: entre 1961 e 1973 saíram de Portugal «cerca de 1,4 milhões de trabalhadores, num ritmo progressivo, que fez passar o número de 32 mil emigrantes em 1960 para 173 mil em 1970», como refere Álvaro Cunhal (A Revolução Portuguesa, O Passado e o Futuro).
4.Apesar da repressão, nos últimos anos da ditadura a luta contra a guerra colonial não cessou de se ampliar: em manifestações, assembleias, reuniões e conferências exigia-se o fim da guerra e do colonialismo, a abertura de negociações, o reconhecimento do direito à completa e imediata independência das colónias. A movimentação contra a guerra e a luta no seio das Forças Armadas contribuíram decisivamente para o derrube do fascismo.
5. A Revolução pôs fim à guerra e reconheceu os novos países libertados. A Constituição consagrou princípios de política externa assentes na paz, no desarmamento, na igualdade entre os Estados e no direito dos povos. «Quando for grande, não vou combater», dizia a criança da canção.
6.A defesa dos valores de Abril passa também por travar o passo aos que – com botas cardadas ou pezinhos de lã – pretendem remilitarizar, sacrificar salários, pensões e condições de vida para engordar os lucros da indústria armamentista e até admitemenviarjovens portugueses para a guerra. Não voltaremos atrás!